terça-feira, 14 de abril de 2009

270 Buddha Ganso Dourado



270
       “A coruja é rei...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre uma querela entre Corvos e Corujas.

Na época em questão, os Corvos costumavam comer Corujas durante o dia, e à noite, as Corujas voavam ao redor, bicando para fora, cabeças de Corvos enquanto estes dormiam, e matando-os assim.

 Havia certo irmão que vivia numa cela às margens de Jetavana. Na hora de varrer, costumava ter uma certa quantidade de cabeças de corvos largadas, caídas das árvores, suficiente para encher seis ou sete potes (um pote equivale a ½ galão, o galão por sua vez equivale a 4,5 litros). Ele contou isto aos irmãos. No Salão da Verdade os Irmãos começaram a falar sobre isto. “Amigo, Irmão Tal-e-tal encontra sempre muitas cabeças de corvos largadas todo dia no lugar em que ele vive !” O Mestre entra e pergunta sobre o que conversavam, lá sentados juntos. Eles disseram a ele. Eles prosseguiram perguntando desde quando os Corvos e as Corujas discutem e brigam. O Mestre respondeu, “desde o tempo da primeira idade do mundo;” e então ele contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez, o povo que vivia no primeiro ciclo do mundo reuniu-se e tomaram para rei um certo homem, belo, auspicioso, comandante, todo perfeito. Os quadrúpedes também se juntaram e escolheram para rei o Leão ; e os peixes n'oceano escolheram para si o peixe chamado Ānanda. Então todos os pássaros dos Himalaias reuniram-se numa rocha chata, gritando,
“Entre os homens existe um rei, e entre as bestas e os peixes tem um também ; mas entre nós os pássaros não há rei. Não devemos viver na anarquia ; nós também devemos escolher um rei. Escolhamos alguém adequado para ser estabelecido no lugar de rei !”

Procuraram por um tal pássaro e escolheram a Coruja ; “Aí está o pássaro que gostamos,” eles disseram. E um pássaro proclamou três vezes para todos que haveria votação para tal. Após pacientemente escutarem o anúncio duas vezes, na terceira vez levantou-se o Corvo e gritou,
“Parem já ! Se assim é como ela aparece quando para ser consagrada rei, como não parecerá quando irada ? Só de olhar-nos com raiva, espalha-nos como semente de sésamo / gergelim em frigideira quente”. Não quero fazer deste sujeito rei !” e expondo sobre isto ele falou a primeira estrofe:-

A coruja é rei, vocês dizem, sobre todos os pássaros:
Com permissão deixem-me falar?

Os pássaros repetem a segunda, deixando-o falar :-

Tens nossa permissão, Senhor, sejas bom e reto :
Pois outros pássaros são jovens, sábios e brilhantes.

Assim com permissão ele falou a terceira:-

Não gosto (com deferência seja dito)
Ter Coruja ungida à Líder nossa.
Olha a cara dela! se isto é bom humor,
O que será quando olhar zangada ?

E o Corvo voou no ar, grasnando : “eu não gosto dela ! eu não gosto dela !”. A Coruja saiu atrás dele. Deste então estes dois alimentam inimizade um para com o outro. E os pássaros escolheram um Ganso dourado para rei e dispersaram.
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Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka :- “Naquele tempo, o Ganso selvagem escolhido para rei, era eu mesmo.”

[ n. do tr.: em Farid Attar, “A Conferência dos Pássaros” leva-os a um guia e não a um rei, que em grupo buscam o Deus dos Pássaros. Lailla e o louco de amor aparecem aí nesta conferência de Farid Attar (séc. XII, mestre de Rumi, séc. XIII). Lailla é Sofia (de Severino Boécio, Roma, séc. VI), Lúcia (de Dante), Helena (de Paris), o Amor mesmo enquanto Princípio e Fim. É amada por um louco de Deus. Tudo dentro da tradição dervish turca.

Em Esopo Budista o pavão quer ser rei mas a gralha pergunta se ele vai enfrentar a águia quando ela os atacarem. Em outra o próprio gaio gritante pega uma pena de cada pássaro e torna-se também rei mais belo. O gaio torna-se pombo, torna-se corvo.

 Cf Jataka 226
                         http://vidasdebuddha.blogspot.com.br/2008/11/226-h-tempoetc.html

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