sexta-feira, 18 de julho de 2008

155 Buddha espirrando




155
Gagga, viva cem anos...etc.” - Esta história o Mestre contou quando fazia estada no mosteiro construído pelo Rei Pasenadi em frente ao de Jetavana ; foi sobre um espirro que ele deu.

Um dia, nos é dito, enquanto o Mestre sentado discursava para quatro pessoas ao seu redor, ele espirrou. “Vida longa ao Abençoado, vida longa ao Buddha !” os Irmãos todos gritaram alto, e fizeram grande algazarra.

O barulho interrompeu o discurso. Então o Mestre disse aos Irmãos: “Pois, Irmãos, se alguém grita 'Vida longa!' ao escutar um espirro, a pessoa vive ou morre mais por causa disto ?” Eles responderam, “Não, não, Senhor.” Ele continuou, “Vocês não devem gritar ' Vida longa' por causa de um espirro, Irmãos. Quem quer que faça isto peca.”

É dito que naquele tempo, quando os Irmãos espirravam, o Povo tinha o costume de gritar, “Vida longa para ti, Senhor!” Mas os Irmãos tinham seus escrúpulos e não respondiam. Todos ficaram aborrecidos e perguntaram, “Prego, por quê os padres do Buddha príncipe Sakya não respondem quando eles espirram e uma pessoa ou outra deseja a eles longa vida ?”

Tudo isto foi dito ao Abençoado. Que falou: “Irmãos, Povo comum é supersticioso. Quando vocês espirram e eles dizem, 'Vida longa para ti, Senhor!' eu permito que vocês respondam ao 'Vida longa' com 'O mesmo para ti' .” Então os Irmãos perguntaram a ele - “Senhor, quando o Povo começou a responder 'Longa vida' por 'O mesmo para você' ?” Falou o Mestre, “Isto foi a muito, muito tempo atrás;” e ele contou-lhes um conto(a) dos tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio ao mundo como um filho de brahmin no reino de Kasi ; e seu pai era advogado por vocação. Quando o rapaz estava com dezesseis anos de idade, seu pai confiou aos cuidados dele uma fina joia, e eles dois juntos viajavam de cidade em cidade, de vila em vila, até chegarem em Benares.

 Lá o homem arranjou como cozinhar comida na casa do porteiro no portão de entrada ; e como não podia encontrar lugar para se acomodar, perguntou onde havia alojamento para viajantes que chegavam muito tarde ? O Povo disse que havia uma construção fora da cidade mas que estava assombrada ; mas em todo caso ele podia alojar-se lá se quisesse. Fala o rapaz para o pai, “Não tema nenhum duende, pai ! Eu o dominarei e o trarei a teus pés.”

 Assim persuadiu seu pai e foram juntos para o lugar. O pai deitou em um banco e seu filho sentou ao lado dele, aquecendo os pés do pai.

Bem, o Duende que assombrava o lugar, o recebeu por ter prestado serviço a Vessavana ( n. do tr.: Um monstro de pele branca, três pernas e oito dentes, guardião das jóias e dos metais preciosos e uma espécie de Plutão Indiano) durante doze anos, nestes termos : que qualquer pessoa que entrasse devia espirrar, e quando longa vida fosse desejada à pessoa devia-se responder “Vida longa para ti !” ou “O mesmo para você !” - todos a não ser estes (que assim respondessem) o Duende tinha o direito de comer. O Duende vivia acima na viga central da cabana.

Ele estava determinado a fazer o pai do Bodhisatva espirrar. Conformemente, através de seu poder mágico ele levanta uma nuvem de poeira fina que entra nas narinas do indivíduo ; e deitado no banco, espirra. O filho não gritou “Longa vida!” e desce o Duende de seu poleiro, pronto a devorar sua vítima. Mas o Bodhisatva o viu descendo, e então estes pensamentos passaram pela mente dele. “Sem dúvida é ele que fez meu pai espirrar. Este deve ser um Duende que devora todos que não dizem 'Longa vida para ti'.” E dirigindo-se a seu pai, repetiu o primeiro verso como segue:

Gagga, viva cem anos, - sim, e mais vinte, prego!
Que nenhum duende possa te devorar ; vivas cem anos, digo!

O Duende pensou, “Este eu não posso comer, porque ele disse 'Vida longa para ti.' Mas comerei o pai dele;” e aproximou-se do pai. Mas o homem adivinhou qual a verdade do assunto - “Este deve ser um Duende,” pensou ele, “que devora todos que não respondam, 'Vida longa para ti, também!” e assim dirigiu-se a seu filho, repetindo o segundo verso:

Você também viva cem anos, - sim, e mais vinte, prego ;
Seja veneno a comida de duendes ; viva cem anos, digo!

O Duende escutando estas palavras, volta, pensando “Não posso comer nenhum destes dois.” Mas o Bodhisatva colocou uma questão para ele : “Venha, Duende , como aconteceu de você comer as pessoas que entram neste prédio ?”
Ganhei o direito por ter servido por doze anos a Vessavana.”
O quê, tens o direito de comer qualquer um ?”
Todos exceto aqueles que dizem 'O mesmo para você' quando outra pessoa deseja longa vida.”
Duende,” disse o rapaz, “fizeste alguma maldade em vidas anteriores, que causou nasceres agora feroz, e cruel, e desgraça dos outros. Se fazes o mesmo tipo de coisa agora, passarás de escuridão em escuridão. Portanto deste momento em diante abstenha-se de tal coisa como tirar a vida.” Com estas palavras ele tornou o Duende mais humilde, aterrorizando-o com o temor ao ínfero, estabeleceu-o nos Cinco Preceitos e o fez tão obediente quanto um garoto de recado.

Dia seguinte, quando o Povo veio e viu o Duende, e entendeu como o Bodhisatva o subjugara, foram e contaram ao rei : “Meu senhor, um homem domesticou o Duende e o tornou obediente como um garoto de recado !” O rei então manda chamá-lo e o eleva a Comandante-Chefe ; enquanto amontoava honras no pai dele. Tendo feito do Duende um coletor de impostos, e estabelecido-o nos preceitos do Bodhisatva, após fazer ofertas e obras boas ele partiu para aumentar as hostes celestes.

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Quando o Mestre terminou esta história, que contou para explicar quando começara o costume de responder 'Longa vida' por 'O mesmo para ti', ele identificou o Jataka : “Naqueles dias, Ananda era o rei, Kasyapa o pai, e eu mesmo era o rapaz filho dele.”




154 Buddha Recluso




154
Escondida dentro de uma pedra...etc.” - Esta história foi contada em Jetavana, sobre uma querela entre soldados.

Tradição conta como dois soldados, em serviço ao rei de Kosala, de alto rank, e grandes personalidades na corte, logo que bateram o olho um no outro passaram a se ofender. Nem o rei, nem amigos, nem parentes puderam fazê-los concordarem.

Aconteceu um dia que cedo de manhã o Mestre, olhando ao redor para ver quais de seus amigos estavam maduros para o Livramento, percebeu que estes dois estavam prontos para entrarem no Primeiro Caminho. Dia seguinte ele saiu só em coleta de oferta em Savatthi, e parou diante da porta de um deles, que saiu e pegou a tigela do Mestre ; deixou-o então entrar e o ofereceu um lugar. O Mestre sentou, e depois discorreu longamente a respeito do lucro de cultivar Amabilidade. Quando ele percebeu que a mente do homem estava pronta, declarou as Verdades. Isto feito, o homem foi estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho.

 Vendo isto, o Mestre o persuadiu a tomar a Tigela ; e então levantando-se seguiu para a casa do outro. Saiu o outro e após saudação dada, pede ao Mestre que entre, e dá-lhe assento. Ele também pega a tigela do Mestre e entra junto. A ele o Mestre enaltece as Onze Bençãos da Amabilidade ; e percebendo que o coração dele estava pronto, declara as Verdades. Isto feito, ele também torna-se estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho.

Assim foram ambos conversos (convertidos) ; confessaram suas faltas um ao outro, e pediram perdão ; pacíficos e harmoniosos foram um com o outro. Naquele dia mesmo comeram juntos na presença do Abençoado.

Sua refeição terminada, o Mestre retornou ao mosteiro. Ambos voltaram juntos com ele, carregando um rico presente de flores, perfumes, essências, ghee, mel, e açúcar. O Mestre, tendo pregado a respeito dos deveres diante da Irmandade, e pronunciado conselho de Buddha, retirou-se para sua câmara perfumada.

Manhã seguinte, os Irmãos conversavam sobre o assunto no Salão da Verdade. “Amigo,” dizia um a outro, “nosso Mestre domina o indomável. Pois, aqui estão estas duas grandes personalidades, que disputavam e discutiam todo tempo, e não puderam ser reconciliadas nem mesmo pelo rei, ou amigos ou parentes : e o Mestre os tornou humildes em um único dia !” O Mestre entra. “Sobre que conversam,” ele pergunta, “enquanto estão sentados aí juntos ?” Eles contam a ele. Disse ele, “Irmãos, esta não é a primeira vez que reconcilio estes dois ; em idades passadas reconciliei as mesmas duas pessoas.” E ele contou um estória dos tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), uma grande multidão juntou-se para festejar festival em Benares. Multidões de pessoas, de deuses, de serpentes, e garulas ( n. do tr.: homens com asas, anjos, pássaros em forma de gente que antigamente tinham seu império em Kashmir, assim como os Macacos em Kishkindah e as Nagas nos países do Sul, etc - já fomos bichos, evolvemos ), vieram para ver o encontro.

Aconteceu que em um determinado lugar uma Serpente e um Garula olhavam juntos o que acontecia. A Serpente, sem notar que era um Garula que estava ao lado, colocou a mão no ombro dele. E quando o Garula virou e olhou ao redor para ver de quem era a mão colocada em seu ombro, ele viu a Serpente. A Serpente olhou também, e viu que era um Garula [ n. do tr.: ambos são inimigos mortais, estas duas tendências da existência, yin / yang ] ; e amedrontada mortalmente, ela foge pela superfície de um rio. O Garula a caça, para pegá-la.

Bem, o Bodhisatva era um recluso, e vivia em uma cabana de folha na margem do rio. Naquele momento ele tentava amenizar o calor do sol colocando roupa úmida e deixando de lado sua roupa de casca de árvore ; e banhava-se no rio. “Farei este recluso,” pensou a Serpente, “meio de salvar minha vida.” Saindo de sua própria forma particular, e assumindo a forma de uma joia fina, ela fixa-se na roupa de casca de árvore. O Garula em perseguição desenfreada viu para onde ela foi ; mas por reverência mesma ele não tocaria na roupa ; e então dirigiu-se assim ao Bodhisatva : Senhor, estou faminto. Olhe para sua roupa de casca de árvore:- nela há uma serpente que desejo comer.” E para se fazer entender repetiu a primeira estrofe:

Escondida dentro de uma pedra esta vil serpente
Ancora-se para salvar-se em segurança.
E ainda assim, em reverência a tua santidade
Apesar d'eu estar faminto, ainda assim não a pegarei.

Em pé onde estava n'água, o Bodhisatva disse a segunda estrofe elogiando o rei Garula:

Viva longamente, preservado por Brahma, apesar de importunado,
E possa nunca faltar-te celeste comida.
Não, em reverência a minha santidade,
Devore-a, apesar de em ânimo faminto.

Com estas palavras o Bodhisatva expressou seu parecer, em pé n'água. Depois ele saiu e colocou a roupa de casca de árvore, e levou ambas as criaturas para seu eremitério ; onde enumerou as bençãos da Amabilidade até ambos estarem de bem, concordes. Daí em diante viveram juntos felizes em paz e harmonia.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele identificou o Jataka, dizendo, “Naqueles dias, os dois grandes personagens eram a Serpente e o Garula, e eu mesmo era o recluso.”


[ Como não lembrar do símbolo do Yin & Yang ? ]  



153 Buddha Leão ( outro )



153
Tu és quadrúpede...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre um certo Ancião já bem acometido pela idade.

Uma vez, nos é dito, aconteceu de haver, serviço noturno, e o Mestre pregou em pé em um degrau da escada em jóias à porta da sua cela perfumada. Após a exposição do discurso o Bento, Abençoado, retirou-se para sua câmara perfumada ; e o Capitão da Fé, saudando seu Mestre, voltou para sua cela própria. Grande Moggallana também retirou-se para sua cela, e após um momento de descanso retornou para perguntar ao Ancião Sariputra uma questão.

 Enquanto ele perguntava e perguntava questões, o Capitão da Fé tornou-as todas claras, como se ele fizesse a lua subir no céu. Estavam presentes as quatro classes de discípulos ( monges, monjas, leigos e leigas ), que sentados escutaram tudo. Então um pensamento veio à mente de um ancião idoso. “Suponha,” ele pensou, “que eu possa confundir Sariputra diante de toda esta multidão, perguntando a ele alguma questão ? Eles todos pensarão, Que sujeito inteligente! E ganharei crédito e reputação.” Então ele se levantou no meio da multidão, e andando para perto do Ancião, ficou em um lado, e disse, “Amigo Sariputra, eu também tenho uma pergunta para você ; tu me deixará falar ? Me dê uma diferença entre discriminação e indiscriminação, de refutação e aceitação, de distinção e indistinção.” O Ancião olhou para ele. “Este velho homem,” pensou ele, “ainda permanece na esfera do desejo ; ele está vazio, e nada sabe.” Ele não disse uma palavra para o outro por vergonha mesmo ; deitando seu abanador, levantou-se do assento, e retornou à sua cela. E Ancião Moggallana do mesmo jeito levantou-se e retornou para sua cela. Os circundantes pularam, gritando,”Peguem este velho sujeito ruim, que não nos deixa escutar as doces palavras do sermão !” e 'juntaram' ele.

 Ele correu fugindo e caiu por um buraco de esgoto na esquina justo para fora do mosteiro ; quando ele se levantou estava coberto de sujeira. Quando as pessoas o viram, sentiram pena dele, e foram até o Mestre. Ele perguntou, “Por quê vocês veem nesta hora inapropriada, leigos ?” Eles contaram o quê aconteceu. “Leigos,” disse ele, “esta não é a primeira vez que este velho homem envaidece-se, enfatua, bufa, e sem conhecer seu próprio poder, lança-se contra o forte, só para cobrir-se todo de sujeira. Muito, muito tempo atrás ele não conhecia seus poderes, lançando-se contra o mais forte, e foi coberto de sujeira como o foi agora.” Então, ao pedido deles, ele contou-lhes uma estória de tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra era rei de Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um Leão que morava em uma cova montanhosa nos Himalaias. Próximo havia uma multidão de Javalis, vivendo junto a um lago ; e do lado do mesmo lago vivia uma companhia de anacoretas em cabanas de folhas feitas e de galhos de árvores.

Um dia aconteceu de o Leão derrubar um búfalo ou um elefante ou alguma outra caça ; e, após comer o quê queria, desceu para beber neste lago. Justo quando ele saía, um Javali robusto alimentava-se à margem d'água. “Ele será minha refeição algum dia destes,” pensou o Leão. Mas temendo que se o Javali o visse, poderia não voltar lá novamente, o Leão enquanto saía da água escapole furtivamente pelo lado. Isto o Javali viu ; e logo veio pensamento à mente dele, - “Isto é porque ele me viu, e está com medo ! Ele não ousa se aproximar de mim, e foge amedrontado ! Este dia verá uma luta entre eu e o leão !” Então ele levanta sua cabeça e faz um desafio ao Leão na primeira estrofe:

Tu és quadrúpede – também o sou : então, amigo, somos semelhantes, veja você ;
Volte, Leão, volte ; estás com medo ? Por quê foges de mim ?

O Leão deu ouvidos. “Amigo Javali,” ele disse, “ho-je não haverá luta entre eu e você. Mas daqui há uma semana que haja luta aqui neste mesmo lugar.” E com estas palavras partiu.

O Javali ficou altamente deliciado em pensar como lutaria com um leão ; e contou a todos seus amigos e parentes ( kith & kin ) sobre isto. Mas a história apenas os aterrrorizava. “Serás a perdição de todos nós,” eles disseram, “e você mesmo sairá correndo. Você não sabe o quê podes fazer, ou não estarias tão ansioso para combater um leão. Quando o Leão vier, ele será a morte tua e de todos nós também ; não sejas tão violento !” Estas palavras fizeram o Javali ficar com medo. “O quê farei então ?” ele perguntou. Os outros Javalis aconselharam-no a rolar pelo esgoto dos anacoretas pelos próximos sete dias, e deixar a sujeira secar no corpo dele ; então no sétimo dia devia deixar-se molhar com gotas de orvalho e ser o primeiro no lugar da disputa ; devia descobrir para onde sopra o vento, e ficar a barlavento ; e o Leão, sendo uma criatura limpa, poupará a vida dele quando sentisse o cheiro.

Ele fez conforme dito ; e no dia indicado, lá ele estava. Logo que o Leão sentiu o cheiro da sujeira, disse, “Amigo Javali, belo truque este! Não estivesses tu todo sujo, teria perdido tua vida neste dia mesmo. Mas como estais, não posso morder-te, nem mesmo tocar-te com minha pata. Portanto poupo tua vida.” E então ele repetiu a segunda estrofe:

Ó Javali sujo, teu couro está impregnado, o fedor é terrível para mim;
Se você brigasse, eu me entregaria, e terias a vitória.

Então o Leão gira e sai procura da comida do dia ; e em pouco tempo, após beber no lago, voltou de novo para sua cova na montanha. E o Javali contou a seus parentes como derrotou o Leão ! Mas eles ficaram aterrorizados com medo que o Leão pudesse voltar outro dia e matar todos eles. Por isto fugiram correndo e abrigaram-se em outro lugar.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele identificou o Jataka: “O Javali daqueles dias é agora o Ancião idoso e eu mesmo era o Leão.”






152 Buddha Leão





152
Quem precipitadamente empreende...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto na câmara oitanada sobre um barbeiro que vivia em Vesali.

Este homem, como nos é dito, usava fazer barbas e cabelos pregueando na casa real, reis e rainhas, príncipes e princesas, realmente ele fazia tudo da arte de coiffeur que devia-se fazer. Ele era crente verdadeiro, refugiando-se nos Três Refúgios ( Buddha, Dharma, Sangha ) resoluto a manter os Cinco Preceitos ; e de tempos em tempos ele ia escutar o Mestre discursar.

Um dia saiu para fazer seu trabalho no palácio, levando seu filho junto. O jovem, vê uma garota Licchavi vestida fina e lindamente, como uma ninfa, caiu apaixonado com desejo por ela. Ele diz a seu pai, quando deixam o palácio juntos ainda, “Há uma garota – s'eu tiver a ela, viverei ; mas se não, nada haverá além de morte.” Ele não comia comida nenhuma mas jazia abraçado ao estrado da cama. Seu pai o encontro e diz, “Por quê, filho ? Não coloque sua mente em fruto proibido. Você não é ninguém – filho de barbeiro ; esta garota Licchavi é lady alta. Não és para ela. Encontrarei outra pessoa ; uma garota do seu lugar e rank.” Mas o rapaz não escutava ele. Veio então mãe, irmão, e irmã, tia e tio, todos os parentes e amigos e companheiros, tentar pacificá-lo ; mas pacificá-lo não puderam. Assim ele pinhou e pinhou e ficou deitado lá até que morreu.

O pai então realiza as exéquias, e faz o quê é usual fazer pelos espíritos dos mortos. Passa o tempo, e quando a primeira força da dor já gastara-se, ele pensou que deveria visitar o Mestre. Levando um largo presente de flores, essências, e perfumes, ele vai a Mahavana, e faz reverência ao Mestre, o saúda, e senta de um lado. “Por quê estiveste ausente todo este tempo, leigo ?” o Mestre perguntou. O homem então contou a ele tudo o quê tinha acontecido. Disse o Mestre, “Ah, leigo, esta não é a primeira vez que ele perece por colocar o coração naquilo que não devia ; isto é exatamente o quê ele fez antes.” Então ao pedido do leigo, ele contou esta história de tempos antigos.

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Certa vez quando Brahmadatra era rei de Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio ao mundo como um jovem Leão na região dos Himalaias. Na mesma família haviam alguns irmãos jovens e uma irmã ; e todos eles viviam na Cova Dourada.

Próxima a esta cova havia a Cova de Cristal na montanha de prata, onde vivia um Chacal.

 Depois de um tempo os Leões perdem seus pais por um golpe da morte. Então, acostumaram-se a deixar a Leoa, irmã deles, atrás na cova, enquanto eles vagavam em busca de comida ; que após obterem traziam para ela na volta para comer.

Bem, o Chacal viu esta Leoa, e caiu apaixonado por ela ; mas enquanto o velho Leão e a Leoa viviam, não tinha nenhum acesso. Agora, quando os sete irmãos saíram para buscar comida, ele sai também da Cova de Cristal e corre para a Cova Dourada ; onde, em pé diante da jovem Leoa, fala astutamente as palavras sedutoras e tentadoras:
Ó Leoa, sou criatura de quatro patas, e você também é. Portanto seja minha companheira, e eu serei seu marido! Viveremos juntos em amor e amizade, e você me amará para sempre !”
Bem escutando isto a Leoa pensou consigo mesma, “Este Chacal aí é o menor entre as bestas, vil, e como uma pessoa da mais baixa casta : e eu sou considerada como de origem real. Que ele comigo assim fale é inverossímil e mau. Como posso viver após escutar tais coisas ditas ? Vou segurar minha respiração até morrer.” - Então, pensando ela um pouco, “Não,” disse ela, “morrer assim não seria belo. Meus irmãos logo estarão em casa novamente ; contarei a eles isto e depois darei um fim a mim mesmo.”

O Chacal, vendo que não tinha resposta, sentiu que com certeza ela nada queria com ele ; e volta para sua Cova de Cristal, e deita triste.

Bem, um dos jovens Leões, tendo matado um búfalo, ou um elefante, ou outro bicho, ele mesmo come e traz de volta uma parte para sua irmã, que dá a ela, convidando-a a comer. “Não irmão,” diz ela, “nem uma mordida vou comer ; pois devo morrer !” “Por quê tal deve ser ?” ele perguntou. E ela contou a ele o quê aconteceu. “Onde está este Chacal agora ?” ele perguntou. Ela o viu deitado na Cova de Cristal e pensando que ele estava alto no céu ( n. do tr.: por causa da transparência ), disse ela, “Pois, irmão, não podes vê-lo lá na Montanha Prateada, deitado no céu ?” O jovem Leão, desconhecendo que o Chacal estava deitado na Cova de Cristal, e considerando que ele estava verdadeiramente no céu, deu um salto, como fazem leões, para matá-lo, e bateu contra o cristal : que fez explodir seu coração em dois, e cair ao sopé da montanha, perecendo direto.

Depois veio outro, a quem a Leoa conta a mesma história. Este Leão fez o mesmo que o primeiro, e caiu morto ao sopé da montanha.

Quando seis dos irmãos Leões estavam mortos deste jeito, último de todos entra o Bodhisatva. Quando ela já tinha contado sua história, ele perguntou onde estava o Chacal agora ? “Lá está ele,” ela disse, “alto no céu, acima na Montanha Prateada !” O Bodhisatva pensou - “Chacais deitados no céu ? Nonsense . Sei o quê é isto : ele está deitado na Cova de Cristal.” Ele vai então ao sopé da montanha e lá vê os seis irmãos jazendo mortos. “Vejo o que aconteceu,” ele pensou ; “estes eram todos tolos, e carentes da plenitude da sabedoria ; sem saber que esta é a Cova de Cristal, eles bateram seus corações contra ela, e foram mortos. Isto é o quê acontece em agir precipitadamente sem reflexão devida ;” e ele repete a primeira estrofe:-

Quem precipitadamente empreende uma tarefa,
Não contando todos os problemas que podem surgir,
Como alguém que queima a boca ao comer
Cai vítima dos planos que urdir.

Após repetir estas linhas, o Leão continuou : “Meus irmãos quiseram matar este Chacal mas não souberam como executar seus planos com inteligência ; de modo que saltaram muito apressadamente contra ele, e assim morreram. Não farei isto ; mas farei o Chacal explodir seu próprio coração enquanto deita na Cova de Cristal.” Prescrutou o caminho por onde o Chacal subia e descia e virando para este lado rugiu três vezes o rugido dos leões, de modo que céu e terra juntos eram um só grande rugido ! O Chacal deitado na Cova de Cristal ficou assustado e aterrorizado, e seu coração explodiu ; e ele pereceu incontinentemente naquele lugar.

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O Mestre continuou, “Assim este Chacal pereceu ao ouvir o rugido do Leão.” E tornando-se perfeitamente iluminado, ele repetiu esta segunda estrofe:-

Em Daddara o Leão deu um rugido,
E fez Monte Daddara ressoar novamente.
Próximo vivia um Chacal ; temia dor plena
Ao escutar o som, e explodiu em dois seu coração.

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Assim nosso Leão matou o Chacal. Ele depois sepulta os Irmãos em uma cova, e conta para a irmã que eles estavam mortos, e a confortou ; e ele viveu o resto dos seus dias na Cova Dourada, até que ele passou para o lugar que seus méritos ganhavam para ele.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, ele revelou as Verdades, e identificou o Jataka: - à conclusão das Verdades, o leigo foi estabelecido no Fruto do Primeiro Caminho : - “O filho do barbeiro de ho-je era então o Chacal ; a garota Licchavi era a jovem Leoa ; os seis jovens Leões são agora seis Anciãos ; e eu mesmo o Leão mais velho.”




segunda-feira, 14 de julho de 2008

151 Buddha Brahmadatra




                  ( Moeda de Kosala )

151
Duro com o duro...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto vivia em Jetavana, para explicar como a um rei foi dada lição.

Isto será explicado no Jataka 521.

É dito que um dia o rei de Kosala deu sentença em um caso muito difícil envolvendo moral má. Após sua refeição, com mãos ainda úmidas, ele segue em sua esplêndida carruagem para visitar o Mestre ; e o rei o saúda, seus pés belos como flor de lótus aberta e senta em um dos lados.

Então o Mestre dirigiu-se a ele nestas palavras. “O quê, meu senhor rei, o traz aqui nesta hora do dia ?” “Senhor,” disse ele, “perdi a hora porque decidia um caso difícil, que envolvia moral má ; agora já o terminei, e me alimentei e aqui estou, com minhas mãos ainda úmidas, diante de ti.” “Meu senhor rei,” respondeu o Mestre, “julgar uma causa com justiça e imparcialidade é a coisa certa ; este é o caminho do céu. Pois quando você primeiro aconselha-se com pessoas como eu sapientes, não é maravilha se você julga seu caso perfeita e justamente ; mas o maravilhoso é quando reis têm somente o conselho de 'scolars' que não são sapientes, e ainda assim decidem-se perfeita e justamente, evitando os Quatro Caminhos Ruins, e observando as Dez Virtudes Reais, e após legislar com justiça vai preencher as hostes celestes.” Então, ao pedido do rei, ele contou uma história de tempos antigos.

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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva foi concebido pela Rainha Mãe ; e as cerimônias próprias ao estado de gravidez devidamente realizadas, ela dá a luz. No dia do batismo, o nome que deram a ele foi Príncipe Brahmadatra [ Theo-doro, mesmo nome ].

Com o tempo, ele cresce, e aos dezesseis anos vai para Takkasila ( Taxila no Punjab ) para educar-se , onde aprende todos os ramos do saber, e com a morte do pai torna-se rei no lugar dele, e legisla com retidão e correção, administrando justiça sem considerar sua própria vontade ou capricho (will or whim). E enquanto legislava assim com justiça, seus ministros na parte deles também eram justos ; assim, enquanto todas as coisas eram feitas com justiça, não havia ninguém que trouxesse um processo falso para a corte. De
modo que todo o alvoroço presente com os advogados cessa dentro dos recintos do palácio ; durante todo o dia os ministros podiam ficar sentados no banco e depois ir embora sem ver um único litigante. As cortes ficaram desertas.

Então pensou o Bodhisatva consigo mesmo, “Porque governo com justiça nenhum requerente vem pedir decisão na corte ; o velho burburinho esta quieto ; as cortes de justiça estão desertas. Agora devo buscar se em mim mesmo há alguma falta ; que, encontrada, devo afastar, e viver depois boa vida.” A partir daquele momento ele tentou continuamente encontrar alguém que dissesse a ele alguma falta ; mas de todos que estavam ao redor na corte não conseguiu encontrar ninguém ; nada conseguia escutar a não ser o bem de si mesmo. “Talvez,” pensou ele, “estejam todos com tanto medo que não dizem mal de mim apenas bem,” e então saiu para tentar com as pessoas do lado de fora dos muros. Mas com estes aconteceu justamente o mesmo. Partiu para mais afastado e fora da cidade inquirindo os cidadãos dos subúrbios nos quatro portões da cidade [ n. do tr.: cada portão para um ponto cardial, uma casta ]. Ainda assim não houve ninguém que encontrasse qualquer falta ou erro nele ; nada além de louvores ouvia. Por fim, com a intenção de testar a zona rural, confiou todo o governo aos ministros, e montado em sua carruagem e levando apenas o auriga com ele, deixou a cidade disfarçado. Atravessou todo o campo até a fronteira ; mas não se deparou com nenhum crítico ; tudo que escutou foram apenas louvores seus. Volta então dos pântanos e dirige-se para casa pela auto-estrada.

Bem, por fortuna, fado, destino, neste mesmo momento, Mallika, rei de Kosala, estava fazendo exatamente a mesma coisa. Ele também era um rei justo, e buscava seus erros ; mas entre as pessoas ao redor não houvera ninguém que encontrasse falta nele ; e escutando nada a nãos ser louvor e elogio, partiu perguntando através do país, e chegava naquele momento naquele mesmo lugar.

Estes dois encontram-se, num lugar em que a estrada das carruagens afundava entre os dois barrancos, e não havia espaço para uma carruagem passar a outra.

Tire sua carroça do caminho !” disse o auriga do rei Mallika ao auriga do rei de Benares.
Não, não, motorista,” respondeu ele, “saia você do caminho ! Saiba que nesta carruagem está sentado o grande monarca Brahmadatra, senhor do reino de Benares !”
Nem tanto, motorista !” replicou o outro, “nesta carruagem esta sentado o grande rei Mallika, senhor do reino de Kosala ! São vocês que devem dar caminho, e deixar passar a carruagem do nosso rei !”

Pois, eis que aí está um rei também,” pensou o auriga do rei de Benares. “O quê deve ser feito ?” Então uma ideia lhe ocorreu ; ele perguntaria as idades dos dois reis de modo que o mais jovem daria passagem ao mais velho. E perguntou ao outro motorista qual a idade do rei ; mas deram-se conta de que ambos tinham a mesma idade. Daí questionaram a extensão do poder real, bens, e glória e todos os pontos relativos a castas , clãs e família ; e descobriram que ambos tinham um país de trezentas léguas de extensão que eram semelhantes em poder, bens, glória e na natureza das linhagens e famílias. Então pensou consigo mesmo que passagem deveria ser dada à melhor pessoa ; e requiriu que o outro motorista descrevesse as virtudes do seu patrão. O homem respondeu com o primeiro verso da poesia que segue, na qual estabelece as faltas de seu rei como se fossem tantas como as virtudes:-

Duro com o duro, rei Mallika inclina-se suavemente ao suave,
Governa o bom com bondade e paga o mau com maldade.
Dê passagem, dê passagem, Ó auriga ! Tais são os caminhos deste monarca!

Oh,” disse o auriga do rei de Benares, “é tudo que tens a dizer sobre as virtudes de seu rei ?” “Sim,” disse o outro. - “se estas são suas virtudes, quais serão seus vícios !” “Vícios sejam então,” cotejou ele, “se queres ; mas deixe-nos escutarmos quais seriam as virtudes de teu rei !” “Escute então,” juntou o primeiro, e repetiu o segundo verso:-

Ele conquista ira com mansidão, o mau com inclinações de bondade,
Vence o miserável com presentes e paga mentiras com verdades.
Dê passagem, dê passagem, Ó auriga ! Tais são os caminhos deste monarca!

Com estas palavras ambos rei Mallika e seu auriga desceram de sua carruagem e puxando seus cavalos moveram-se para fora da estrada, para dar lugar ao rei de Benares. Então o rei de Benares fez boa admoestação ao rei Mallika, dizendo, “Assim e assim deves ser ;” após o que retornou a Benares e lá fez ofertas e obras boas por toda sua vida, até que por fim foi preencher as hostes celestes. E rei Mallika guardou a lição com o coração ; e depois de atravessar o comprimento e a largura da terra, e não deparar-se com ninguém que encontrasse erro, retornou à sua própria cidade ; onde fez ofertas por toda a vida e obras boas, até que no final foi preencher as hostes celestes.

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Quando o Mestre terminou seu discurso, que começara com o intuito de ensinar o rei de Kosala, ele identificou o Jataka : “Moggallana era então o motorista do rei Mallika, Ananda era o rei, Sariputra era o auriga do rei de Benares, e eu mesmo era o rei.”




150 Buddha e Ajatasatru




    ( Pilar de Ajatasatru, Bharhut, clique na imagem para vê-la ampliada ) 

150
Ajude um vil...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto no Bosque de Bambu, sobre àdesão de Rei Ajatasatru a falsos professores (Kulla-Vagga VII, 3 as várias tentativas de matar Buddha, tentadas por Devadatra, com àjuda do príncipe Ajatasatru a quem ele instiga a matar o rei pai Seniya Bimbisara, que entrega o trono ao filho quando sabe que este o quer matar por isto ). Pois ele acreditava no rancoroso inimigo dos Buddhas, o mau e vil Devadatra, e em sua insensatez, querendo fazer honras a Devadatra, gasta vasta soma erigindo um mosteiro em Gayasisa. E seguindo os perversos conselhos de Devadatra, ele mata o bom e virtuoso ancião rei seu pai o Rei, que entrara nos Caminhos, e com isto destruiu sua própria oportunidade de ganhar bondade e virtude semelhante e trouxe grande dano para si mesmo.

Escutando que a terra engolira Devadatra, ele teme fado semelhante consigo mesmo. E tal o frenesi de seu medo que não mais se interessou pelo bem-estar de seu reino, não dormia na cama mas vagava fora tremendo em todos os membros, como um elefante jovem em agonia de dor. Em fantasia via a terra de mandíbulas abertas e as chamas dos ínferos projetando-se ; ele podia se ver atado a cama de metal em chamas com lanças de ferro atravessando seu corpo. Como galo ferido, nem por um instante ele ficou em paz. O desejo veio a ele de ver o Buddha Todo-Sapiente, reconciliar-se com ele, e pedir orientação ; mas devido a magnitude de suas transgressões ele encolheu-se de ir à presença de Buddha. Quando celebrava-se já o festival Kattika, e de noite Rajagaha iluminava-se e adornava-se como a cidade dos deuses, o Rei [ n. do tr.: Ajatasatru tem este título porque seu pai passou-lhe o trono; ele apesar disto mata o pai de fome numa prisão], enquanto sentado em alto trono de ouro, viu Jivaka Komarabhacca sentado próximo. A idéia de ir ao Buddha com Jivaka, iluminou a mente dele mas sentiu que não podia dizer imediatamente que não iria sozinho mas queria que Jivaka o acompanhasse. Não ; o melhor curso, trajeto, seria, após louvar a beleza da noite, propor sentar aos pés de algum sábio ou brahmin, e perguntar aos cortesãos qual professor pode dar paz ao coração. Claro que irão todos louvar individualmente seus próprios mestres ; mas Jivaka iria com certeza exaltar o Buddha Todo-Iluminado ; e ao Buddha o Rei com Jivaka iria. Então ele irrompe nos cinco louvores à noite, dizendo - “Como é bela, senhores, esta clara noite sem nuvens! Como brilha! Como encanta! Como delicia! Como ama! ( n. do tr.: palavras de abertura do Samaññapala Sutra ) Que sábio ou brahmin devemos buscar, para ver se com felicidade pode dar paz aos nossos corações ?”

Então um ministro recomendou Purana Kassapa, outro Makkhali Gosala e outros ainda Ajita Kesakambala, Kakudha Kaccayana, Sañjaya Belatthiputra, ou Nigantha Nathaputra [este, Maha-Vira, Grande-Irmão ]. Todos estes nomes o Rei escutou em silêncio, esperando que seu ministro chefe, Jivaka, falasse. Mas Jivaka, suspeitando que oobjetivo real do Rei era fazê-lo falar, manteve silêncio de modo a ter certeza. Por fim o Rei disse, “Bem, meu bom Jivaka, por quê você não tem nada a dizer ?” Bastou esta frase para Jivaka saltar do assento e com mãos postas em adoração em direção ao Abençoado, gritou, “Senhor, lá, no meu bosque de manga mora o Buddha Todo-Iluminado com mil e trezentos e cinqüenta Irmãos. Esta é a alta fama que surgiu relativa a ele.” E aqui ele segue recitando os nove títulos honoríficos atribuídos a ele, começando com 'Venerável' (cf. Digha Nikaya para esta lista e para o sutra em questão). Quando depois mostrou como desde o nascimento mesmo os poderes de Buddha ultrapassavam todos antigos presságios e expectativas, Jivaka fala, “Até ele, o Abençoado, encaminhe-se o Rei, para escutar a verdade e colocar questões.”

Seu objetivo assim atingido, o Rei pede a Jivaka que apronte os elefantes e vá em formalidade real ao bosque de manga, onde encontrou no pavilhão perfumado o Buddha no meio da Irmandade que estava tranquilo como oceano em repouso perfeito. Olhando para onde olhasse, os olhos do Rei viam apenas os ranks, as fileiras sem fim dos Irmãos, excedendo em séqüito qualquer número que já vira. Agraciado com a postura dos Irmãos, o Rei inclinou-se baixo e falou palavras de louvor. Saudando então o Buddha, sentou-se, e perguntou a ele uma questão, 'Qual o fruto da vida religiosa ?' E o Abençoado pronunciou o Samaññapala Sutra em duas seções. Com o coração feliz , o rei fez as pazes com o Buddha ao término do Sutra, e levantando-se, partiu em solene obediência. Logo depois que o Rei partiu, o Mestre dirigiu-se aos Irmãos e disse, “Irmãos, este Rei está desenraizado ; não tivesse este Rei assassinado em luxúria por poder, aquele reto legislador seu pai, ele teria ganho a clara visão da Verdade de Arahat, antes de levantar do assento. Mas por seu vil favorecer a Devadatra, perdeu o fruto desde primeiro caminho.”

Dia seguinte os Irmãos conversavam juntos sobre tudo isto e disseram que o crime de parricídio de Ajatasatru, que era devido ao mau e perverso Devadatra foi a ruína do Rei. Neste ponto o Mestre entra no Salão da Verdade e pergunta o tema da conversa. Entendendo, o Mestre fala, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Ajatasatru sofre por favorecer o mal ; conduta semelhante no passado custou a ele sua vida.” Assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares (  Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família de brahmin rico. Chegando na idade da discrição, foi estudar em Takkasila ( Taxila ) , onde recebeu educação completa. Em Benares como professor gozava de fama mundial e tinha quinhentos jovens brahmins como pupilos. Entre estes estava um de nome Sañjiva, a quem o Bodhisatva ensinou o encanto de ressuscitar mortos. Mas apesar do jovem ter aprendido isto, não aprendeu o contra encanto. Orgulhoso do seu novo poder, ele saiu com seus pupilos estudantes para a floresta catar lenha, e lá encontram um tigre morto.
Agora me vejam fazer o tigre voltar à vida,” disse ele.
Não consegue,” disseram eles.
Vocês olhem e me verão fazê-lo.”
Bem, se podes, então faça-o,” disseram eles e subiram em uma árvore em seguida.
Então Sañjiva repetiu seu encanto e bateu na cabeça do tigre morto com uma louça de barro [ n. do tr.: provavelmente quebra um vaso com óleo, cena semelhante à de IHS XTO em Bethânia na Quinta-feira da Paixão, quebrando um vaso de óleo da Índia ]. Levanta-se o tigre e rápido como um raio, salta em Sañjiva e morde-o na garganta, matando-o imediatamente. Cai morto o tigre lá e então, then and there, e morto cai Sañjiva também no mesmo lugar. De modo que os dois jazem deitados mortos lado a lado.

Os jovens brahmins catam sua lenha e voltam a seu mestre para quem contam a estória. “Meus caros pupilos,” disse ele, “notem aí como por razão de mostrar favor a um ruim e prestando homenagem onde não era devida, ele trouxe toda esta calamidade sobre si mesmo.” E falando assim ele disse esta estrofe:-

Ajude um vil, ampare-o na necessidade,
E, como aquele tigre que Sañjiva ressuscitou
À vida, imediatamente, para sofrimento seu, ele te devora.

[n. do tr.: A Glosa sugere ironia com o nome de Sañjiva que significa 'Vivo'.]

Tal foi a lição do Bodhisatva aos jovens brahmins, e após vida de caridade e obras boas outras, ele passou sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada o Mestre identificou o Jataka dizendo, “Ajatasatru era o jovem brahmin daqueles dias que ressuscitou o tigre morto, e eu o professor famoso.”




domingo, 6 de julho de 2008

149 Buddha Brahmin




                     ( Vesali, Índia ) 

149
Se veneno esconde-se...etc.” - Esta história foi contada sobre o Príncipe Licchavi, o Mau de Vesali pelo Mestre quando vivia na casa oitanada na grande floresta perto de Vesali.

 Naqueles dias Vesali gozava de maravilhosa prosperidade. Tripla muralha
rodeava a cidade, cada muro uma légua de distância do outro, e haviam três portões com torres de vigília. Naquela cidade haviam sempre sete mil setecentos e sete reis para governar o reino e número semelhante de vice-reis, generais e tesoureiros. Entre os filhos dos reis havia um conhecido como Príncipe Licchavi o Mau, jovem feroz, irascível e cruel , punindo sempre. Como uma víbora irada. Sua natureza irascível era tal que ninguém podia falar mais de duas ou três palavras à presença dele ; e nem os pais, parentes, nem amigos podia fazê-lo ficar melhor. Então por fim seus pais resolveram levar o jovem desgovernado ao Buddha Todo-Sapiente, entendendo que ninguém a não ser ele possivelmente poderia domar o espírito feroz de seu filho. Assim trouxeram-no ao Mestre, a quem, com obediência devida, suplicaram que lesse uma leitura para o jovem, [que fizesse um discurso, que desse uma preleção].

Dirigiu-se então o Mestre ao príncipe, falando: -”Príncipe, seres humanos não devem ser cruéis, irascíveis e ferozes. O homem feroz é aquele que é duro e grosso mesmo com a mãe que o carregou, com seu pai e seu filho, com os irmãos e irmãs, com a esposa, amigos e parentes ; inspirando terror como uma víbora que projeta-se para picar, como um ladrão saltando sobre uma vítima na floresta, como um ogro avançando para devorar, - o homem feroz, direto vai re-nascer após esta vida no ínfero ou em outro lugar de punição ; e mesmo nesta vida, não importa quão bem trajado esteja, parece feio. Seja bela sua face como lua cheia em órbita, ainda assim é repugnante como lótus escorchada em chamas, como um disco de ouro coberto de sujeira. É tal raiva que leva, os homens a matarem-se, uns aos outros, com a espada, tomando veneno, a enforcarem-se, a jogarem-se do alto dos precipícios ; e então acontece que encontrando sua morte por causa da própria raiva , re-nascem em tormento. Assim também aqueles que injuriam os outros, são odiados mesmo nesta vida e devem por seus pecados passarem com a morte do corpo para ínfero e punição ; e quando uma vez mais nascem como pessoas, doenças e males os atingem nos olhos nos ouvidos, em todo lugar, a partir do seu nascimento. Daí, deixe toda pessoa mostrar gentileza e ser doadora de bem, e então com certeza, ínfero e punição não serão temidos por elas.”

Tal foi o poder desta única preleção sobre o príncipe que o orgulho foi humilhado a partir daí ; sua arrogância e egoísmo saíram dele e seu coração girou, voltou, para o amor e a gentileza. 

Nunca mais ele xingou ou bateu mas tornou-se gentil como cobra com presas arrancadas, como caranguejo com garras cortadas, como um touro com chifres quebrados.

Notando esta mudança de temperamento, os Irmãos falavam reunidos no Salão da Verdade de como o Príncipe Licchavi o Mau, a quem as exortações incessantes dos pais não conseguiram curvar, humilhou-se e abrandou-se com uma única preleção do Buddha Todo-Sapiente, e como isto era igual a domesticar seis elefantes berrantes de uma só vez. Bem, foi dito que, 'O amansador d'elefante, Irmãos, guia o elefante que ele treina, fazendo ele ir p'ra esquerda ou p'ra direita, p'ra trás ou p'ra frente, de acordo com seu desejo ; de modo semelhante o domador de cavalo e o de boi com cavalos e bois ; e assim também o Abençoado, o Buddha Todo-Sapiente, guia a pessoa que ele treina à retidão, para onde quer que ele queira em qualquer das oito direções, e faz seu pupilo discernir as formas externas a si-mesmo. Tal é o Buddha e Ele apenas,' - e assim por diante, descendo até as palavras, - 'Ele que é aclamado como chefe dos treinadores de pessoas, supremo em vergá-las ao jugo da Verdade.' “Pois, senhores,” disseram os Irmãos, “não há treinador de pessoas como o Supremo Buddha.”

E aqui o Mestre entra no Salão e questiona-os sobre o quê conversavam. Então eles dizem a ele, e ele fala, “Irmãos, esta não é a primeira vez que uma simples preleção minha conquistou o príncipe ; o mesmo aconteceu antes.”

E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida novamente como um brahmin no país Norte, e quando ele cresceu, primeiro aprendeu os Três Vedas e todo o ensino, em Takkasila ( Taxila ), e por algum tempo viveu vida mundana. Mas quando seus pais morreram ele se tornou um recluso, morando nos Himalaias, e alcançou os Conhecimentos e as Consecuções místicas. Lá morou bastante tempo, até necessidade de sal e outros artigos da vida, trazê-lo de volta aos caminhos das pessoas, e ele chega em Benares, onde abriga-se, aloja-se, no jardim real. Dia seguinte vestiu-se com cuidado e esmero, e trajando a melhor roupa de asceta foi em busca de coleta de oferta na cidade e chega ao portão do rei. O rei estava sentado e vê o Bodhisatva da janela e nota consigo mesmo como o eremita, sábio de coração e de alma, fixando a vista imediatamente nele, move-se em majestade leonina, como se em cada passo, depositasse bolsa com mil peças.

 “Se bondade habita em algum lugar,” pensou o rei, “deve ser no peito deste homem.” Chamando então um cortesão, pediu-lhe que trouxesse o eremita à sua presença. E o cortesão foi até o Bodhisatva e com obediência devida, tomou sua tigela de coleta da mão. “E agora, sua excelência ?” falou o Bodhisatva. “O rei chama sua reverência,” respondeu o cortesão. “Minha morada,” diz o Bodhisatva, “é nos Himalaias e não gozo do favor do rei.”
Então o cortesão voltou e relatou isto ao rei. Lembrando-se que estava sem conselheiro confidencial naquele momento, o rei pede que tragam o Bodhisatva e o Bodhisatva consente em vir.

O rei o saúda com grande cortesia à entrada e pede que sente em um trono dourado debaixo de um parassol real. E o Bodhisatva foi alimentado com finas comidas que fora aprontada para alimentar o rei mesmo.

Então o rei perguntou onde o asceta vivia e entendeu que sua casa era nos Himalaias.
E aonde vais agora ?”
Em busca, senhor, de um abrigo para a estação das chuvas.”
Por quê não moras em meu parque -jardim ?” sugeriu o rei. Então, tendo ganho o consentimento do Bodhisatva e tendo comido ele também, foi com seu convidado até o jardim e lá fez construírem um eremitério, com uma cela para o dia e uma cela para a noite. Esta morada era provida dos oito requisitos de um asceta. Tendo assim instalado o Bodhisatva, o rei colocou-o aos cuidados do jardineiro e voltou ao palácio. Acontece então do Bodhisatva passar a morar no parque-jardim do rei, e duas ou três vezes por dia o rei vir visitá-lo.

Bem, a rei tinha um filho feroz e irascível que era conhecido como Príncipe Mau, que estava fora do controle de seu pai e parentes. Conselheiros, brahmins e cidadãos todos apontavam ao jovem seus modos ruins mas em vão. Ele não presta atenção aos conselhos deles. E o rei sente que a única esperança de recuperar seu filho, depositava-se no asceta virtuoso. Então como última tentativa ele pega o príncipe e entrega ao Bodhisatva para lidar com ele. O Bodhisatva então anda com o príncipe pelo parque-jardim até chegarem onde um arbusto de árvore Nimb crescia, no qual contudo cresciam apenas duas folhas, uma de um lado, uma do outro.

Prove a folha deste arbusto, príncipe,” disse o Bodhisatva, “e veja como te parece.”
O jovem o fez; mas bastou colocar a folha na boca, que ele a cuspiu para fora com um palavrão, praguejando e escarrando para tirar o gosto da boca.
Qual o problema, príncipe ?” perguntou o Bodhisatva.
Senhor, ho-je esta árvore só sugere veneno mortal ; mas, se deixada crescer , mostrará que é mortal para muita gente,” falou o príncipe, e em seguida arrancou e picou com as suas próprias mãos, o arbusto, recitando estas linhas:-

Se veneno esconde-se no arbusto
O quê não acontecerá em crescimento pleno ?

Disse então o Bodhisatva a ele, “Príncipe, temendo o quê o arbusto venenoso crescendo seria, você o arrancaste e picaste de uma vez. Do mesmo modo que agiste com o arbusto, o povo deste reino, temendo o quê um príncipe tão feroz e irascível pode se tornar quando rei, não te entronizará mas te arrancarão como esta árvore Nimb e te mandarão para o exílio. Portanto aceite o conselho do arbusto e mostre misericórdia e abunde em gentileza amável.”
A partir daquele momento o temperamento do príncipe muda. Cresce em humildade, mansidão, misericórdia e transborda de gentileza. Conformando-se ao conselho do Bodhisatva, quando veio a morte de seu pai, tornou-se rei, abundando em caridade e outras obras boas, e no fim passou, sendo tratado de acordo com seus méritos.

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Sua lição terminada, o Mestre diz, “Então, Irmãos, esta não é a primeira vez que abrando Príncipe Mau ; fiz o mesmo em dias idos.” Então ele identificou o Jataka dizendo, “O Príncipe Licchavi Mau de ho-je era o Príncipe Mau da estória, Ananda o rei, e eu o asceta que exortou o príncipe à bondade.”



quarta-feira, 2 de julho de 2008

148 Buddha Chacal




   ( A cena do chão medido com moedas de ouro quadradas, Barhut, Índia )

148
Morda uma vez, a segunda acautele-se...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto em Jetavana, sobre subjugar os desejos.

Nos é dito que certos quinhentos amigos ricos, filhos de mercadores de Savatthi, foram levados ao escutarem os ensinamentos do Mestre, a entregarem seus corações à Verdade e juntos à Irmandade viver em Jetavana na parte que Anatha-pindika pavimentou com moedas de ouro postas lado a lado ( Kulla-vaga VI,4 [ Jeta príncipe diz a Sudattha, Alimentador dos pobres, que não vendia aquela terra nem que ele cobrisse o chão todo com moedas quadradas – ele leva a sério e cobre o chão com moedas muitas e assim efetua a venda. Príncipe Jeta logo cede a terra toda como oferta quando vê que o assunto é sério. E adere à Fé. ]).

Bem, no meio de certa noite pensamentos luxurientos tomam todos, e, no sofrimento deles começam a se agarrar às luxúrias que haviam abandonado. Naquela hora o Mestre eleva ao alto a lâmpada da sua omnisciência e descobre qual paixão agarra os Irmãos em Jetavana, e, lendo os corações deles, percebe que luxúria e desejo brotaram dentro deles. Como a mãe que vigia seu filho único, ou como um homem que têm apenas um olho cuida de seu olho que resta, vigilante igual está o Mestre sobre seus discípulos ; - de manhã ou à tarde, na hora que suas paixões guerreiam contra eles mesmos, ele não deixará seu fiel ser dominado mas naquela hora mesma subjugará as luxúrias alinhavadas que os assedia. Daí o pensamento veio a ele, “Isto é como quando ladrões que invadem cidade de imperador ; desdobrarei direto a Verdade a estes Irmãos, com o fim de que, subjugando as luxúrias deles, eleve-os à Arahat(idade).”

Então ele saiu de seu quarto perfumado e em fala macia chamou o venerável Ancião, Ānanda, Tesoureiro da Fé. E o Ancião veio e com obediência devida permaneceu diante do Mestre para saber seu desejo. O Mestre pediu que ele reunisse em sua câmara perfumada todos os Irmãos que moravam naquele quarteirão de Jetavana [próximo ao portão portanto aonde houvera o 'negócio' entre Sudattha e príncipe Jeta]. Tradição diz que o pensamento do Mestre era que se apenas reunisse aqueles quinhentos Irmãos, eles concluiriam que ele estava cônscio do humor luxuriento deles, e seriam impedidos, agitados, de receberem a Verdade ; deste jeito mesmo reuniu todos os Irmãos que moravam lá. E o Ancião pegou uma chave e foi de cela em cela reunindo os Irmãos até que todos estavam juntos na câmara perfumada. 

Após o quê aprontou o trono de Buddha. Em dignidade de estado como Monte Sineru descansando em sólida terra, o Mestre sentou-se no trono de Buddha, fazendo com que brilhasse ao seu redor como que pares de guirlandas sobre guirlandas das seis cores de luz, que dividia-se e dividia-se em massas do tamanho de uma bandeja, de um pálio, ou de uma torre, até, como raio de raio, os raios alcançarem o céu acima. Era mesmo como o sol que eleva-se, agitando as profundezas do oceano.

Com obediência reverente e corações também, os Irmãos entram e sentam-se ao redor dele, em circunferência como se fossem cortina de cor laranja. Em voz e tons como de Maha-Brahma o Mestre disse, “Irmãos, um Irmão não deve ancorar os três pensamentos ruins, - luxúrias, ódios e crueldade. Nunca pensem imaginar que desejos maus são assunto trivial. Pois tais desejos são como um inimigo ; e um inimigo não é assunto trivial, mas, dada oportunidade, obra apenas destruição. Assim mesmo é desejo, apesar de pequeno ao primeiro surgir, apenas cresce, quando deixado, de modo que obra posterior destruição. Desejo é como veneno na comida, coceira na pele, como uma víbora, como o raio de Indra, sempre a ser evitado, sempre a ser temido. Aonde quer que surja desejo, daí, sem encontrar em nenhum momento ancoradouro no coração, deve ser expelido pelo pensar e refletir, - como uma gota de chuva que rola na folha da lótus. O sábio de tempos anteriores tinham ogeriza tanto ao menor desejo, que o esmagavam para fora antes que ele crescesse.” E assim falando, ele contou esta história do passado.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva re-nasceu na vida como chacal e morava na floresta à margem de um rio. Bem, um velho elefante morreu às margens do Ganges, e o chacal, encontrando a carcaça, parabenizou a si mesmo por topar com tal estoque de carne. Primeiro ele mordeu a tromba mas era como morder cabo de arado. “Não há nada de comer aqui,” disse o chacal e mordeu perto da presa. Mas era como morder ossos. Tentou então a orelha mas era como mastigar o aro de uma cesta de joeirar. Caiu então em cima do estômago mas a achou dura como cesta de grãos. As patas não eram melhores pois estavam como pilões. Depois tentou o rabo este como a cuia. “Aqui também não vai dar,” disse o chacal ; e falhando em todo lado em encontrar um pedaço de carne, ele tenta as costas e descobre que era como bolo macio. “Por fim,” disse ele, “encontrei o lugar certo,” e comeu seu caminho indo direto para dentro da barriga, onde fez banquete copioso dos rins, coração e do resto, temperando a sede com sangue. E quando a noite vem, ele descansa dentro. Enquanto deitava lá, o pensamento veio à mente do chacal, “Esta carcaça é ambos, alimento e casa para mim, e por quê deveria deixá-la ?” Então lá ficou e morava nas entranhas do elefante, comendo em volta. Passa o tempo até que o sol e os ventos de verão secam e encolhem o couro do elefante, fechando a entrada pela qual o chacal entrou e o interior ficar em trevas completas. Assim foi o chacal, como que, cortado para fora do mundo e confinado a um interspaço entre os mundos. Depois do couro, a carne secou e o sangue acaba. Em um frenesi desesperado, ele corre batendo de um lado e de outro contra as paredes da sua prisão na tentativa infrutífera de escapar. Enquanto ele chacoalhava para cima e para baixo dentro como uma bola de arroz numa panela fervendo, logo cai uma tempestade e a chuva molha o corpo da carcaça e a restaura a sua forma anterior, até que luz brilha como uma estrela através do caminho pelo qual o chacal entrara. “Salvo! Salvo!” grita o chacal, e, voltando à cabeça do elefante corre enfiando a cabeça primeiro para fora pelo escape. Ele tenta atravessar, é vero, mas foi apenas deixando todo seu pêlo no caminho. Primeiro correu, depois parou e sentou vendo seu corpo pelado, agora macio como tronco de palmeira. “Ah!” ele exclama, “este infortúnio caiu sobre mim por causa de minha cobiça e apenas por causa dela. De agora em diante não serei ganancioso nem novamente entrarei na carcaça de um elefante.” E seu terror encontrou expressão nesta estrofe:-

Morda uma vez, a segunda acautele-se. Ah, grande foi meu medo!
Entranhas de elefante evitarei de agora em diante.

E com estas palavras o chacal partiu, e ele nem mesmo olhou novamente aquela carcaça nem outra qualquer. E daí em diante não foi mais ganancioso.

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Sua lição terminada, o Mestre disse, “Irmãos, nunca deixem desejos se enraizarem no coração mas arranquem-los fora onde quer que brotem.” Tendo pregado as Quatro Verdades (nos finais das quais aqueles quinhentos Irmãos ganharam Arahat(idade) e o resto ganhou vários graus menores de salvação), o Mestre identificou o Jataka como segue:- “Eu mesmo era o chacal daqueles dias.”

[ N. do Tr.: Cf. com a parábola tradicional hebraica da Raposa e das Galinhas, evangélica mesma, em que IHS é a galinha e Herodes a raposa, quando a raposa por três dias assombra à noite o galinheiro passando por porta estreita : na noite terceira, gorda, farta, não passa na estreita porta e é pega. Metáfora da vida mesma em que no 'muito comer', no saciar-se em excesso, se fica preso na roda das coisas, na roda das existências. O final feliz do Chacal aparece na versão, Lebre no Jardim do Hortelão guardado por Cão (constelações mesmas) : “a Lebre a quem o Cão persegue, numa corrida sem fim.” teria dito Arato no séc. II A.D em 'Phainomena'.. Ela consegue escapar levando seu Fruto da Vida, também passando por porta estreita não sem perder o rabo, mordida pelo Cão na passagem como o Chacal que perdeu seu pêlo. No céu permanece a imagem do movimento eternizado (cf. constelações à noite fria). Corrida sem fim do Cão atrás da Lebre. Daí a Lebre ser símbolo da Ressurreição, imagem da Páscoa. ]