sexta-feira, 29 de maio de 2009

301 Sariputra Nandisena



301
“Abram os portões...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto vivia em Jetavana sobre àdmissão de quatro mulheres ascetas na vida religiosa.
Tradição diz que os Licchavis da família governanteque somavam sete mil setecentos e sete viviam em Vesali. E todos eles eram dados a argumentar e disputar.
Bem, um certo Jain, hábil em manter quinhentas teses diferentes, chegou em Vesali e teve uma recepção gentil lá. Uma mulher Jain também de caráter semelhante chegou em Vesali. E os chefes Licchavi levantaram uma disputa entre este casal. E quando se mostraram aptos como polemistas, aos Licchavis ocorreu a idéia que um tal casal certamente teria filhos inteligentes. Então arranjaram o casamento entre os dois e como fruto desta união nasceram no devido tempo quatro filhas e um filho. As filhas eram chamadas Saccā, Lolā, Avavādakā e Patācārā e o filho chamava-se Saccaka. Estas cinco crianças quando alcançaram a idade da discrição aprenderam mil teses diferentes, quinhentas da mãe e quinhentas do pai. E os pais instruíram suas filhas deste jeito: "Se um leigo refutar vossas teses, tornem-se esposas dele, se um sacerdote refutar-vos, vos deveis tomar as ordens das mãos dele.”
Depois de um tempo os pais morreram. E quando já estavam mortos, o Jain Saccaka continuou vivendo no mesmo lugar em Vesali, estudando a doutrina dos Liccavis. Mas as irmãs tomaram em suas mãos um ramo de jambo, e no curso de suas viagens de cidade em cidade com o propósito de disputa, por fim chegaram a Savatthi. Lá, plantaram o ramo de jambo, na porta da cidade e dizeram a alguns meninos que estavam lá: "Se algum homem, seja leigo ou sacerdote, estiver em igualdade de disputar uma tese conosco, deixe-o pisar debaixo de seus pés este ramo”. Com estas palavras entraram na cidade em coleta de ofertas.
O venerável Sariputta depois de varrer onde era necessário, e colocar água nos potes vazios e tratar dos doentes, tarde do dia entrou na cidade para coleta de ofertas. E quando soube e viu o ramo de jambo, ordenou os garotos de destruí-lo e pisá-lo. “Que aqueles,” disse ele, “por quem este ramo foi plantado, assim que tenham terminado sua refeição, venham me ver na câmara oitanada, acima do portão de Jetavana.”
Assim ele entrou na cidade e quando havia terminado sua refeição, permaneceu esperando na câmara acima do portão do mosteiro. As mulheres ascetas também, depois de sua ronda de coleta de ofertas, retornaram e encontraram o ramo pisado. E quando questionaram quem havia feito isto, os garotos disseram a elas que foi Sariputra e que se estavam ansiosas por uma disputa, elas fossem à câmara acima do portão do mosteiro.
Assim elas voltaram e seguiram, com uma grande multidão, para a torre do portão do mosteiro e propuseram ao sacerdote mil teses diferentes. O sacerdote resolveu todas as dificuldades delas e então perguntou se conheciam mais alguma.
Elas responderam, “Não, meu Senhor.”
“Então eu,” disse ele, “perguntarei algo para vocês.”
“Pergunte, meu Senhor,” elas disseram, “e se soubermos te responderemos.”
Assim o sacerdote propôs apenas apenas uma questão a elas e quando elas tiveram que desistir, o sacerdote contou a elas a resposta.
Elas disseram, “Fomos vencidas, a vitória ficou contigo.”
“O quê vocês farão agora ?” ele perguntou.
“Nossos pais,” elas responderam, “nos aconselharam assim : 'se fores refutadas numa disputa por um leigo, tornem-se esposas dele, mas se por um sacerdote, recebam as ordens das mãos dele'. - Portanto nos admita na vida religiosa.”
O sacerdote prontamente consentiu e as ordenou na casa da Irmã ( Freira ) chamada Uppalavanna. E todas elas logo atingiram a Santidade.
Então um dia eles falavam deste assunto no Salão da Verdade, como Sariputra se mostrou um refúgio para as quatro mulheres ascetas e como através dele elas todas atingiram Santidade. Quando o Mestre veio e escutou a natureza do que falavam, disse, “Não apenas agora mas em tempos anteriores também, Sariputra mostrou-se um refúgio para estas mulheres. Na ocasião de agora ele as dedicou à vida religiosa mas anteriormente elevou-as à dignidade de rainhas.” Então ele contou uma história do mundo antigo.
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Certa vez quando Kalinga reinava na cidade de Dantapura no reino de Kalinga (na costa Coromandel), Assaka reinava em Potali no país Assaka. Bem, Kalinga tinha um poderoso exército e ele mesmo era forte como um elefante mas não encontrava ninguém que lutasse com ele. Estando então ávido por uma briga, ele disse a seus ministros : “Desejo brigar mas não encontro ninguém para guerrear comigo.”
Seus ministros disseram, “Senhor, há um caminho aberto para ti. Tens quatro filhas de beleza extraordinária. Mande-as se adornarem com jóias e, sentadas numa carruagem coberta, leve-as em cada lugarejo, vila e cidade real com um exército de escolta. E se algum rei desejar tomá-las para seu harém, conseguiremos uma briga com ele.”
O rei seguiu o conselho deles. Mas os reis dos vários países, onde quer que chegassem, temiam deixá-los entrar em suas cidades e enviando presentes, designavam onde poderiam ficar fora dos muros da cidade. Assim atravessaram a largura e o comprimento de toda a Índia até alcançarem Potali no país Assaka. Mas Assaka também fechou seus portões diante deles e apenas mandou presentes. Bem, este rei tinha um ministro hábil e sábio, chamado Nandisena, fértil em expedientes. Ele pensou consigo mesmo : “Estas princesas, dizem as pessoas, atravessaram toda a extensão da Índiia sem encontrarem ninguém que guerreasse pela posse delas. Neste caso, Índia é apenas um nome vazio. Eu mesmo farei guerra à Kalinga.”
Então ele foi e mandou os guardas abrirem o portão da cidade, falando a primeira estrofe :

Abram os portões a estas mulheres : por Nandisena poderoso,
O sábio leão do rei Aruna, é guardada, com retidão, nossa cidade.

[N. do tr.: A glosa diz que Aruna era o nome verdadeiro do rei Assaka.]

Com estas palavras ele fez abrirem as portas e trouxe as donzelas à presença do rei Assaka e disse a ele, “Nada tema. Se houver uma luta, eu cuidarei dela. Faça destas belas princesas suas rainhas principais.” Ele então as instalou como rainhas aspergindo-as com água santificada e despachou os ajudantes delas, pedindo-os que fossem e contassem a Kalinga que as filhas dele foram elevadas à dignidade de rainhas. Assim eles foram e contaram a ele, e Kalinga disse, “Presumo que ele não saiba como sou poderoso,” e imediatamente partiu com um grande exército. Nandisena escutou sobre sua aproximação e enviou uma mensagem quanto a isto : “Que Kalinga permaneça dentro de seus próprios pântanos e não ultrapasse os limites sobre os nossos, e que a batalha seja na fronteira dos dois países.” Recebendo esta mensagem, Kalinga estacionou dentro dos limites de seu próprio território e Assaka também manteve-se no seu.
Neste tempo o Bodhisatva seguia a vida ascética e vivia num eremitério que se situava entre os dois reinos. Disse Kalinga, “Estes monges são gente sabida. Quem pode dizer qual de nós ganhará a vitória e qual será derrotado ? Perguntarei a este asceta.” Então ele veio até ao Bodhisatva disfarçado e sentou respeitosamente em um dos lados, após as saudações usuais disse, “Vossa Reverência, Kalinga e Assaka arrastaram cada um suas forças dentro de seu próprio território, ansiosos por uma luta. Qual deles será vitorioso e qual será derrotado ?”
“Vossa Excelência,” ele respondeu, “um conquistará e òutro será derrotado. Não posso te dizer mais. Contudo Sakra, o Rei do Céu, está vindo para cá. Perguntarei a ele e te direi se voltares a-manhã.”
Então quando Sakra veio pagar respeitos ao Bodhisatva, ele colocou esta pergunta, e Sakra respondeu, “Reverendo Senhor, Kalinga vencerá, Assaka será derrotado e tais e tais presságios serão percebidos antes.” Dia seguinte Kalinga veio, repetiu sua pergunta e o Bodhisatva deu a resposta de Sakra. E Kalinga, sem perguntar quais seriam os presságios, pensou consigo mesmo : “Me disseram que vencerei,” e saiu fora todo satisfeito. Este relato espalhou-se. E quando Assaka o escutou, chamou Nandisena e disse, “Kalinga, eles dizem, sairá vitorioso e nós seremos derrotados. Que faremos ?”
“Senhor,” ele respondeu, “quem saberá disso ? Não se preocupe em quem ganhará a vitória e em quem sofrerá a derrota.”
Com estas palavras ele confortou o rei. Então ele foi ver e saudar o Bodhisatva e sentando respeitosamente em um dos lados, perguntou, “Quem, Reverendo Senhor, vencerá e quem será derrotado ?”
“Kalinga,” ele respondeu, “ganhará o dia e Assaka será batido.”
“E qual, Reverendo Senhor,” ele perguntou, “será o presságio daqule que vence e qual será o daquele que perde ?”
“Vossa Excelência,” ele respondeu, “a deidade tutelar do que vence será um touro branco sem manchas e aquela do outro rei um touro perfeitamente negro, e os deuses tutelares dos dois reis lutarão eles mesmos e serão rigorosamente vitoriosos ou derrotados.”
Escutando isto Nandisena levantou-se e reuniu os aliadosdo rei – eles eram ao redor de mil em número e todos eles grandes guerreiros – e levando-os ao alto de uma montanha próxima perguntou-os, “Vocês sacrificariam suas vidas pelo nosso rei ?”
“Sim, Senhor, sacrificaríamos,” eles responderam.
“Então atirem-se deste precipício,” ele falou.
Eles ensaiaram o fazer quando ele os parou dizendo, “Chega disso. Mostrem-se amigos leais de nosso rei e guerreiem galantemente por ele.”
Todos fizeram voto disto. E quando a batalha era agora iminente, Kalinga concluia em sua própria mente que seria vitorioso e seu exército também pensava “A vitória será nossa.” E deste modo colocaram suas armaduras e ordenados em destacamentos separados, avançaram justo até onde consideravam adequado, e chegado o momento para um grande esforço, falharam em o fazer.
Ambos os reis, montados em seus cavalos, aproximaram-se com a intenção de lutar. E seus dois deuses tutelares moviam-se diante deles, o de Kalinga na forma de um touro branco e o do outro rei na de um touro negro. E quando estes aproximaram-se um do outro, eles também demonstravam que lutariam. Mas estes dois touros eram visíveis apenas aos dois reis e para mais ninguém. E Nandisena perguntou a Assaka, “Sua Alteza, estão os deuses tutelares visíveis para ti ?”
“Sim,” ele respondeu, “eles estão.”
“Em qual aspecto ?” perguntou.
“O deus guardião de Kalinga aparece na forma de um touro branco, enquanto o nosso na forma de um touro negro e parece aflito.”
“Nada tema, Senhor, venceremos e Kalinga será derrotado. Apenas desmonte de seu bem treinado cavalo Sindh e apanhando uma lança, com sua mão esquerda atinja-o com um golpe no flanco e então com este corpo de mil homens avance rapidamente para com um golpe de sua arma derrubar no chão este deus de Kalinga, enquanto nós com mil lanças o atingiremos e assim perecerá a deidade tutelar de Kalinga, sendo Kalinga derrotado e nós vitoriosos.”
“Bom,” disse o rei e ao sinal dado por Nandisena, ele o atingiu com sua lança e seus cortesãos o atingiram com suas mil lanças e a deidade tutelar de Kalinga morreu lá e então.
Enquanto isto Kalinga era derrotado e fugia. E vendo isto todos os mil conselheiros levantaram um alto grito, dizendo, “Kalinga foge.” Kalinga então com medo de morrer, enquanto fugia, reprovou aquele asceta e pronunciou a segunda estrofe :-

“Corajoso Kalinga clamará a vitória,
Derrotando o povo de Assaka vergonhosamente.”
Assim profetizou vossa reverência,
E gente honesta nunca mente.

Deste jeito Kalinga, enquanto fugia, xingava aquele asceta. E na fuga para sua própria cidade ele nem ousou olhar para trás uma única vez. E uns poucos dias depois Sakra veio visitar o eremita. E o eremita conversando com ele pronunciou a terceira estrofe :-

Os deuses de palavras mentirosas são livres,
Verdade seu tesouro principal deve ser.
Aqui, grande Sakra, mentiste ;
Diga-me, prego, a razão por quê.

Escutando isto, Sakra falou a quarta estrofe :-

A ti nunca foi dito, Ó brahmin,
Que os deuses zelam pela coragem do herói ?
A determinação de não submeter-se,
A intrépida proeza no campo,
A alta coragem e a força aventurosa
Para Assaka deram a vitória.

E na fuga de Kalinga, rei Assaka voltou com seus espólios para sua cidade. E Nandisena enviou uma mensagem a Kalinga,que ele devia transmitir uma porção pelo dote das quatro donzelas reais. “De outro modo,” adicionou, “saberei como lidar contigo.” E Kalinga, escutando esta mensagem, ficou tão alarmado que enviou uma porção adequada por elas. E deste dia em diante os dois reis viveram juntos amigavelmente.
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Seu discurso terminado, o Mestre identificou o Jataka :- “Naqueles dias estas jovens mulheres ascetas eram as filhas do rei Kalinga, Sariputra era Nandisena e eu mesmo era o eremita.”

quinta-feira, 28 de maio de 2009

300 Buddha Sakra



300
“O lobo que pega...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre velha amizade. As circunstâncias são as mesmas detalhadas no Vinaya ( Mahavagga p.175) ; este é um resumo delas. O reverendo Upasena, discípulo de apenas dois anos, visitou o Mestre com um discípulo de apenas um ano que viviano mesmo mosteiro ; o Mestre o censurou e ele se retirou. Tendo adquirido insight espiritual e atingido santidade, tendo conseguido contentamento e virtudes afins, tendo realizado as Treze Práticas de um Recluso e as ensinado a seus seguidores, enquanto o Abençoado estava em reclusão por três meses, ele com seus irmãos, tendo aceito a culpa dada inicialmente por falar errado e sem conformidade, conseguiu em uma segunda oportunidade, aprovação, nas palavras, “De agora em diante, deixem que qualquer irmão me visite quando queira, dado que siga as Treze Práticas de um Recluso.” Assim encorajado, ele voltou e contou isto aos Irmãos. Após o quê, os irmãos seguiram estas práticas antes de visitar o Mestre ; então, quando ele saiu da reclusão, eles jogaram fora os velhos trapos e colocaram vestes limpas. Quando o Mestre com todo o corpo de Irmãos fez a ronda para inspecionar os aposentos, ele notou estes trapos largados e perguntou o quê era aquilo. Quando disseram a ele, ele falou, “Irmãos, a prática realizada por estes irmãos é de vida curta, como a guarda de dia santo por lobo “; e ele contou a eles um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como Sakra, rei dos deuses. Naquele tempo um Lobo vivia nas rochas próximas às margens do Ganges. As cheias do inverno chegaram e cercaram a rocha. Ele ficou lá na rocha sem comida e sem modo de conseguí-la. Àgua subia e subia e o lobo ponderava : “Nenhuma comida aqui e nenhum jeito de conseguí-la. Aqui me deito, sem nada para fazer. Devo portanto guardar uma festa de sábado [um dia santo]. “ Assim resolvido a guardar um sábado, enquanto estava deitado resolveu-se solenemente a guardar preceitos religiosos. Sakra em suas meditações percebeu a resolução má do lobo. Pensou ele, “Vou atormentar aquele lobo” ; e tomando a forma de um bode selvagem, permaneceu perto e deixou o lobo vê-lo.
“Guardarei o Sábado outro dia !” pensou o Lobo, enquanto o percebia ; levantou-se e pulou na criatura. Mas o bode também pulou de modo que o Lobo não pode pegá-lo. Quando nosso Lobo viu que não poderia apanhá-lo, parou, e voltou, pensando consigo mesmo enquanto deitava novamente, “Bem, meu Sábado não está quebrado afinal de contas.”
Então Sakra, com seu poder divino, pairou acima nos ares ; disse ele,
“O quê tem alguém como tu, todo instável, a ver com guardar o Sábado ? Não sabias que eu era Sakra e querias uma refeição de carne de bode !” e assim o censurando e atormentando, ele retornou ao mundo dos deuses.

O lobo que pega criaturas vivas para comer,
E alimenta-se com o sangue e a carne,
Habilitou-se certa vez a pagar um voto santo ,-
Colocou na mente guardar o dia de Sábado.

Quando Sakka compreendeu o que ele decidira fazer
Assumiu aparência de bode.
E então o bebedor de sangue pulou para apanhar a presa,
Seu voto esquecido, sua virtude abandonada.

Do mesmo modo algumas pessoas neste nosso mundo,
Que fazem resoluções além de seus poderes,
Desviam-se de seu propósito, como fez aqui o lobo
Tão logo viu o bode aparecer.

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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka como segue : “Naquele tempo eu mesmo era Sakra.”

[ N. do tr.: “O homem é o lobo do homem”, 'hominem homini lupus' . A imagem do lobo é larga tanto em Esopo Buddhista como nos Evangelhos : o lobo entra no curral das ovelhas, as dispersa e o pastor é morto. As vezes o pastor mesmo cria o lobo como cão. As vezes mercenários que cuidam das ovelhas, fogem dos lobos. O lobo põe veste de cordeiro. A porta das ovelhas.]

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Ushnisha-Vijaya ( Tara )


Cabeça e parte superior do torso.
Oito braços e quatro faces. Xisto ; tamanho do fragmento, 19 polegadas ; séc. XII A.D. (Pala).
Sarnath ; agora no museu de Sarnath.
Ushnisha-Vijaya é o nome do ornato todo na cabeça, ushnisha é aquele como que coque de cabelo em cima da cabeça do Buddha : notar o Buddha mesmo sentado em meditação no alto da cabeça da deusa. Tara é uma Devi, deusa feminina : há ainda ho-je em Bodh-Gaya, terra sagrada onde Buddha teria se iluminado, um templo de Tara. Tara também é nome da esposa de Sugriva, rei dos Macacos que ajudou Rama a resgatar Sita (raptada pelo rei dos demônios Ravana) e por Rama foi ajudado, justamente a resgatar sua esposa Tara, e o reino também.

299 Buddha brahmin Komaya



299
“Anteriormente usavas...etc.” - Esta história o Mestre contou em Pubbarama, sobre alguns Irmãos rudes e grossos nos modos. Estes Irmãos, que viviam no andar abaixo daquele onde o Mestre estava, falavam do que haviam visto e escutado, brigavam e abusavam. O Mestre chamou Mahamoggallana e pediu que os assustasse. O Ancião elevou-se nos ares e apenas tocou a fundação da casa com seu grande polegar. Até a mais distante orla do oceano, balançou ! Os Irmãos tremeram mortalmente, saíram e ficaram do lado de fora. O comportamento grosseiro deles tornou-se sabido entre os Irmãos. Um dia falavam sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo, existem alguns Irmãos que se refugiaram nesta casa de salvação, que são rudes e grossos ; eles não percebem a impermanência, o sofrimento e a irrealidade do mundo, nem fazem suas obrigações.” O Mestre entrou e perguntou o quê eles conversavam ali sentados. Eles disseram. “Esta não é a primeira vez, Irmãos,” ele disse, “que eles são rudes e grossos. Eles foram justo o mesmo antes.” E contou a eles um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como filho de brahmin em um vila. Eles o chamavam Komayaputra. Logo logo ele saiu e abraçou a vida religiosa na região do Himalaia. Haviam alguns ascetas frívolos que fizeram um eremitério na região e lá viviam. Mas não assumiam os meios para induzir o ênstase religioso. Catavam frutas na floresta para comer ; e então passavam o tempo rindo e brincando juntos. Possuíam um macaco, de modos grosseiros como os deles, que lhes proporcionava diversão sem fim com suas caretas e cambalhotas.
Muito tempo viveram neste lugar até que tiveram que partir para entre as pessoas novamente em busca de sal e condimentos. Depois que saíram, o Bodhisatva morou nesta residência deles. O macaco fazia suas brincadeiras para ele como fizera para os outros. O Bodhisatva estalava seus dedos para ele e lhe dava uma aula, dizendo, “Aquele que vive com ascetas bem treinados, deve se comportar apropriadamente, deve ser bem aconselhado em suas ações e devoto da meditação.” Após isto, o macaco estava sempre em virtude e bem comportado.
Depois o Bodhisatva foi embora. Os outros ascetas retornaram com seu sal e condimentos. Mas o macaco não mais fazia suas brincadeiras para eles. “O quê é isto, meu amigo ?” eles perguntaram. “Por quê não brincas mais, como costumavas a fazer ?” Um deles repetiu a primeira estrofe :-

Anteriormente usavas brincar
Quando nós eremitas nesta cabana estávamos.
Ó macaco ! faça como macaco ;
Quando você é comportado nós não te amamos.

Escutando isto, o Macaco repetiu a segunda estrofe :-

Toda a sabedoria perfeita pela palavra
Do sábio Komaya escutei.
Não me consideres como antes ;
Agora amo meditar.

Aí o anacoreta repetiu a terceira :-

Se plantas semente na rocha,
Apesar de chuva cair em cima, ela não crescerá.
Podes ter escutado perfeita sabedoria ;
Mas nunca meditarás.

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Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : “Naquele tempo estes Irmãos eram os frívolos anchoritas, mas Komayaputra era eu mesmo.”

segunda-feira, 25 de maio de 2009

298 Buddha Espírito-d'árvore


298
“Maduros estão os figos...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um certo Irmão que fez um eremitério para viver em uma certa cidade na fronteira. Esta moradia aprazível estava sobre um rocha plana ; um lugar pequeno mas aberto, com água suficiente para torná-lo agradável, uma vila próxima para ir em coleta de ofertas e povo amigável que oferece comida. Um Irmão em suas viagens chegou neste local. O Ancião que nele vivia fez os deveres de hospitalidade para com o que chegava e no dia seguinte o levou junto em suas rondas. O povo deu a ele comida e o convidou para visitá-los dia seguinte. Após o recém-chegado ter se alimentado uns dias, ele meditava através de que meios poderia desalojar òutro e ficar com o eremitério. Uma vez que viera para ajudar o Ancião, perguntou, “Já visitaste o Buddha, amigo ?” “Não, Senhor ; não há ninguém aqui que tome conta de minha cabana, pois senão já teria ido antes.” “Ah, eu cuidarei dela enquanto estiveres fora visitando o Buddhha,” disse o recém-chegado ; e assim o proprietário foi, após deixar instruções com os da vila para tomarem conta do Irmão santo até o seu retorno. O recém-chegado passou a caluniar aquele que o hospedava, insinuando aos da vila todo tipo de pecados nele. Òutro visitou seu Mestre e retornou ; mas o recém-chegado recusou-lhe abrigo. Ele encontrou um lugar para ficar e dia seguinte saiu em coleta de ofertas na cidade. Mas os cidadãos não cumpriram seus deveres para com ele. Ele ficou muito desanimado e voltou para Jetavana, onde contou aos Irmãos tudo que aconteceu. Eles passaram a discutir o problema no Salão da Verdade : “Amigo, Irmão Tal-e-tal tirou Irmão Tal-e-tal para fora do eremitério dele e ficou com ele para si mesmo !” O Mestre entrou e quis saber o quê conversavam lá sentados. Eles disseram a ele. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez que este homem põe para fora òutro de sua própria morada ;” e contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se um espírito-d'árvore na floresta. Naqueles dias durante a estação das chuvas costumava chover sete dias seguidos. Um certo Macaco pequeno de face-vermelha vivia em uma gruta nas montanhas abrigado das chuvas. Um dia ele estava sentado na entrada, seco e feliz. Enquanto estava sentado lá um Macaco grande de face-negra, todo molhado, morrendo de frio, o viu. “Como posso colocar este sujeito para fora e viver nesta caverna ?” ele cogitava. Inflando a barriga e fazendo como se tivesse comido uma boa refeição, parou em frente ao outro e repetiu a primeira estrofe :-

Maduros estão os figos, boa a banana,
E prontas para Macaco comer.
Venha comigo e comamos !
Por que angustiar-se com comida ?

O cara vermelha acreditou em tudo isto e desejou ter todo este fruto para comer. Assim saiu, caçou para cá, caçou para lá mas não encontrou nenhum fruto. Então voltou ; e lá estava Face-negra sentado dentro da caverna ! Ele determinou-se a enganá-lo ; então parado em frente dele repetiu a segunda :-

Feliz aquele que prestar honra
A seus anciãos cheios de dias ;
Felicidade igual sinto agora
Após todo aquele fruto, o voto !

O macaco grande escutou e repetiu a terceira :-

Quando grego encontra grego, começa o cabo de guerra ;
Um macaco percebe um truque de macaco de longe.
Mais jovens são vigaristas pelo meio ;
Mas pássaros velhos não são pegos com palha.

Òutro saiu fora.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele resumiu o Jataka : “Naquele tempo o proprietário da cabana era o pequeno macaco e o intruso era o macaco preto grande, mas o Espírito-d'árvore era eu mesmo.”



sexta-feira, 22 de maio de 2009

297 Ó pássaro que voas...etc.






297
“Ó pássaro, que voas...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um homem que se lamentava por sua esposa . As circunstâncias que provocaram a situação estão explicadas no Jataka 147 acima, assim como a história do passado.
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Assim o homem estava impalado vivo. Lá pendurado, olhou para cima e viu um corvo voando pelos ares ; e, sem se importar com a dor aguda, ele chamou o corvo, para que ele enviasse uma mensagem a sua querida esposa, repetindo os seguintes versos :-

Ó pássaro, que voas no céu !
Pássaro de asas que voa alto !
Diga a minha esposa, de belas pernas :
Longo será o tempo para ela.

Ela não sabe que a espada e a lança estão levantadas:
Cheia de ira e raiva ela se afligirá.
Este é o meu tormento e medo,
E não, estar aqui pendurado.

De minha mulher de lótus afastei-me,
E jóias em meu travesseiro descansam,
Com tecido macio de Benares do lado.
Que com bens ela se satisfaça.

Com estas lamentações ele morreu.
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Quando o Mestre terminou este discurso, declarou as Verdades e identificou o Jataka (e na conclusão das Verdades, o irmão apaixonado atingiu a fruição do Primeiro Caminho ) : “A esposa de então era a esposa de agora ; mas o espírito que presenciou isto, era eu mesmo.”

quinta-feira, 21 de maio de 2009

296 Ancião Upananda


296
“Sobre as ondas do mar...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre Ancião Upananda. Este homem era um grande comedor e bebedor ; nada havia que o satisfizesse, mesmo carroças de provisões. Durante a estação chuvosa ele passava o tempo em dois ou três estabelecimentos, deixando seus sapatos em um, seu cajado em outro, sua tigela em um terceiro e em um quarto ele mesmo ficava. Quando visitou um mosteiro no campo e viu irmãos com todos os requisitos em mãos, ele passou a falar sobre as quatro classes de ascetas satisfeitos (n. do tr.: O recluso que está contente com as roupas dadas a ele, com a comida, com a cama e que se satisfaz na meditação) ; pegou as roupas deles, e os fez apanharem trapos no lixo ; os fez tomarem tigelas de barro e darem a ele todas as tigelas que tinham e as tigelas de metal ; então encheu uma carroça com eles e levou-aos para Jetavana. Um dia o pessoal começou a falar no Salão da Verdade. “Amigo, Upananda do clã Sakya, grande glutão, camarada guloso, fez pregação religiosa para outras pessoas e chegou aqui com uma carroça cheia de propriedades de padres !” O Mestre entrou e queria saber sobre o quê conversavam lá sentados. Eles disseram. “Irmãos,” falou ele, “Upananda errou antes discursando sobre este contentamento. Mas um homem deve primeiro de tudo tornar-se modesto em seus desejos, antes de louvar o bom comportamento das outras pessoas.

A si-mesmo primeiro estabeleça em correção,
Depois ensine ; o sábio não deve buscar auto-satisfação.

Indicando este verso do Dhammapada (verso 158) e censurando Upananda, prosseguiu, “Esta não é a primeira vez, Irmãos, que Upananda foi ganancioso. Muito tempo atrás, ele pensou que até mesmo àgua do oceano devia ser poupada.” E contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se um Espírito-do-Mar. Bem, aconteceu de um Corvo-d'água estar passando pela superfície marítima. Ele seguia voando por cima e checando os cardumes de peixes e bandos de pássaros, gritando,
“Não bebam muita água-do-mar ! Cuidem dela !” Vendo-o, o Espírito-do-Mar repetiu a primeira estrofe :

Sobre as ondas do mar quem voa ?
Quem checa os cardumes de peixes e tenta
Os monstros do mar profundo parar,
Para que não bebam àgua do mar ?

O Corvo d'água escutou isto e respondeu com a segunda estrofe :-

Um bebedor nunca saciado
Assim todo mundo me chama,
Satisfeito tentaria beber o mar
E drenando, o senhor dos rios, secar.

Escutando isto o Espírito-do-Mar repetiu a terceira :-

Òceano sempre flui,
E novamente no mesmo dia reflui.
Quem já ouviu, d'oceano ter faltado ?
Ninguém conseguirá bebê-lo todo !

Com estas palavras o espírito assumiu uma aparência terrível e espantou para longe o Corvo d'água.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo, Upananda era o Corvo d'água mas o Espírito era eu mesmo.”

quarta-feira, 20 de maio de 2009

295 Buddha Espírito da árvore da Mamona


295
“Como de um touro...etc.” - Esta é outra história contada pelo Mestre na mesma situação sobre as mesmas pessoas. As circunstâncias também são as mesmas.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se espírito da árvore da Mamona que situava-se próxima a uma cera vila. Um velho boi morreu numa certa cidade ; e arrastaram a carcaça para fora e a atiraram para baixo neste bosque destas árvores junto do portão da cidade. Um Chacal veio e começou a comer a carniça. Depois veio um Corvo e pousou na árvore. Quando ele viu o Chacal, cogitou se bajulando-o conseguiria um pouco de carniça para comer. E então repetiu a primeira estrofe :-

Como de um touro, teu corpo se parece para mim,
Como de um leão tua atividade.
Ó rei das bestas ! Toda a glória para ti !
Por favor não esqueças de me deixar um pouco.

Escutando isto o Chacal repetiu a segunda :-

Aqueles que são de nascimento e linhagem nobre
Sabem como louvar gentilmente.
Ó Corvo, cujo pescoço é como o do pavão,
Desça d'árvore e pegue um pedaço !

O Espírito d'árvore, vendo isto, repetiu a terceira :

A mais baixa das bestas é o Chacal,
A mais baixa das aves o Corvo,
A Mamona a mais baixa das árvores :-
Agora os mais baixos aqui estão os três.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo devadatra era o Chacal, Kokalika era o Corvo mas o Espírito d'árvore era eu mesmo". 


294 Buddha Espírito d'árvore do Jambo



                             
                                ( Veluvana, Bosque de Bambus, Índia )

294
“Quem está sentado...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambus sobre Devadatra e Kokalika. Naquele tempo quando Devadatra começou a perder seus benefícios e reputação, Kokalika passava de casa em casa, dizendo, “Ancião Devadatra é nascido na linhagem do Primeiro Grande rei, do tronco real de Okkaka (Ikshvaku), por nobre descendência ininterrupta, versado em todas as escrituras, cheio de santidade enstática, de fala doce, pregador da lei. Ofertem ao Ancião, ajudem-no !” Com estas palavras ele louvava Devadatra. Por outro lado, Devadatra louvava Kokalika, com palavras tais como estas : “Kokalika veio de uma família brahmin do norte ; ele segue a vida religiosa ; ele é entendido na doutrina, um pregador da lei. Ofertem a Kokalika, ajudem-no !” Assim eles seguiam, louvando um ao outro e alimentando-se em diferentes casas. Um dia os Irmãos começaram a falar sobre isto no Salão da Verdade. “Amigo, Devadatra e Kokalika vão louvando um ao outro virtudes que não possuem e deste modo conseguem se alimentar.” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam, lá sentados. Eles disseram. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez que estes homens conseguem comida louvando um ao outro. Muito tempo atrás eles fizeram o mesmo.” E ele então contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva tornou-se um espírito d'árvore em um certo bosque de jambos. Um Corvo pousado num galho de um ramo desta árvore, começou a comer o fruto. Então veio o Chacal, olhou e espreitou o Corvo. Ele pensou, “S'eu bajular esta criatura, talvez eu consiga um pouco de fruto para comer !” Assim, bajulando, repetiu a primeira estrofe:-

Quem está sentado n'árvore jambo -
Doce cantor ! Cuja voz soa gentil para mim ?
Como um pavão jovem ele pia com graça doce,
E senta-se quieto em seu lugar.

O Corvo, em louvor do outro, respondeu com a segunda :-

Aquele que é de nobre nascimento e linhagem
Pode louvar a origem de outros, sabendo o quanto valem.
Como um jovem tigre tu me pareces :
Venha, coma, Senhor, o quê te dou !

Com estas palavras ele balançou o galho e fez alguns frutos caírem. Então o espírito d'árvore, vendo estes dois comerem, após engambelarem-se um ao outro, repetiu a terceira estrofe :-

Mentirosos congregam-se, eu bem sei.
Aqui, por exemplo, um Corvo carniceiro,
E um Chacal comedor de carcaça, em infantil estardalhaço,
Seguem bajulando um ao outro !

Após repetir esta estrofe, o espírito d'árvore, assumindo uma forma assustadora, espantou ambos dali.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele resumiu o Jataka ; “Naquele tempo o Chacal era Devadatra, o Corvo era Kokalika mas o Espírito d'Árvore era eu mesmo.”

[ Esopo Buddhista coloca a Raposa no lugar do Chacal em várias fábulas debaixo d'árvore esperando o fruto, como na famosa 32 com as uvas verdes ; 160 o gaio e a raposa, 165 a raposa e o corvo, 335 a cigarra e a raposa repetem a imagem ; imagem que é a dos frutos espirituais que vemos recorrentemente nos Jatakas ligados aos Caminhos respectivos justamente nesta parte conclusiva do texto. Obviamente são os frutos d'árvore da ciência do bem/mal do pardes bíblico, frutos proibidos mas que, se pensarmos que Adam/Eva levam com eles a muda, ramo, semente, d'árvore proibida  quando expulsos e reconstroem de novo o pardes com responsabilidade própria, livres, senhores de si mesmos, deixam de o ser, proibidos, e passam a lícitos. ]


terça-feira, 19 de maio de 2009

293 Caído, batido...etc.


293
“Caído, batido com uma doença ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um certo homem. Aprendemos que vivia em Savatthi um homem atormentado por uma icterícia, desacreditado pelos médicos como caso sem esperança. Sua esposa e filho cogitavam a quem encontrar que pudesse curá-lo. O homem pensou, “S'eu pelo menos pudesse me livrar desta doença, assumiria vida religiosa.” Bem, aconteceu que um dia após tomou algo que o fez sentir-se bem e são. Então foi à Jetavana e pediu admissão na Ordem. Ele recebeu as ordens menores e maiores do Mestre e não muito tempo depois atingiu santidade. Um dia depois disto os Irmãos falavam reunidos no Salão da Verdade : “Amigo, Tal-e-tal tinha icterícia e fez voto que se ficasse bom abraçaria a vida religiosa ; ele ficou e agora atingiu santidade.” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam, ali, sentados, juntos. Eles disseram. Então ele disse : “Irmãos, este não é o único homem que fez isto. Muito tempo atrás sábios, recuperando-se de doenças, abraçaram a vida religiosa e asseguraram seu benefício.” E ele contou um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família Brahmin. Ele cresceu e começou a juntar riqueza : mas ficou doente de icterícia. Mesmos os médicos nada podiam fazer por ele e sua esposa e família, ficaram desesperados. Ele resolveu que se ficasse bom, abraçaria a vida religiosa ; e tendo tomado algo que o fez ficar bom, realmente melhorou e com isto foi para o Himalaia e tornou-se religioso. Ele cultivou as Faculdades e as Consecuções e vivia em felicidade enstática / extática. “Todo este tempo,” pensou ele, “estive sem esta grande felicidade !” e soprou esta frase, aspiração :-

Caído, batido com uma doença medonha, eu
Em absoluto tormento e aflição, jazia,
Meu corpo rapidamente secando, como uma flor
Deixada ao sol sobre a poeira para secar.

O nobre parece ignóbil e puro parece o impuro,
Aquele que é cego, considera toda beleza uma fossa de podridão.

Maldito corpo doentio, maldito, digo,
Nojento, impuro e cheio de podre decaimento !
Quando tolos são indolentes, falham em ganhar
Novo nascimento no céu, e desviam do caminho.

Assim o Grande ser descreveu de vários modos a natureza da impureza e da constante doença e estando desgostoso com o corpo e todas suas partes, cultivou toda sua vida as quatro excelentes condições de vida, até dirigir-se para o mundo de Brahma.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele proclamou as Verdades e identificou o Jataka – muitos foram aqueles que atingiram a fruição do Primeiro Caminho e assim por diante - “Naquele tempo eu mesmo era o asceta.”

segunda-feira, 18 de maio de 2009

292 Buddha Corvo rei Supatra



292
“Aqui, na cidade de Benares...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre uma refeição de arroz misturado com ghee fresco e temperado com atum, que foi oferecido à Bimbadevi pelo Ancião Sariputra. As circunstâncias são como aquelas apresentadas acima no Jataka 281. Aqui também a Irmã santa teve dores no estômago. O excelente Rahula contou ao Ancião. Ele sentou Rahula em sua sala de espera e foi até o rei apanhar arroz, atum e ghee fresco. O rapaz deu a comida para a santa irmã, sua mãe. Logo que comeu, a dor cedeu. O rei enviou mensageiros para arguir e depois passou a mandar sempre este tipo de comida. Um dia começaram a falar sobre isto no Salão da Verdade : “Amigo, o Capitão da Fé ajudou a Irmã com tal e tal comida.” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam : eles disseram. Ele falou, “Esta não é a primeira vez, Irmão, que Sariputra ofereceu à mãe de Rahula o quê ela quer ; ele fez o mesmo antes.” Assim falando ele contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como um Corvo. Ele cresceu e tornou-se chefe de oitenta mil corvos, um rei Corvo, de nome Supatta, ou Bela-asa (Bel'asa) ; e sua companheira principal chamava-se pelo nome de Suphassa ou Fofa, seu Capitão chefe chamava-se Sumukho – Bom bico. Com seus oitenta mil súditos, moravam próximos a Benares.
Um dia ele e sua companheira, buscando comida, pasaram por cima da cozinha do rei. O cozinheiro do rei preparara uma hoste de pratos, de todo tipo de peixes, e deixara os pratos descobertos por um momento, para esfriá-los. A Rainha Corva cheirou o odor da comida e desejou um pedaço. Mas naquele dia ela nada disse.
Dia seguinte contudo, quando Rei Corvo propôs que eles deviam sair para buscar comida, ela disse, “Vá você : há algo que quero muito !”
“O quê é ?” ele perguntou.
“Quero comer um pouco da comida real ; e já que não posso tê-la, morrerei.”
O Corvo sentou pensativo. Bom bico aproximou-se dele e perguntou se algo o tinha desagradado. Rei Corvo contou o quê era. “Ah, tudo ficará bem,” disse o Capitão ; e adicionou, para consolar ambos, “você fica aqui ho-je e eu buscarei a refeição.”
Então ele reuniu os Corvos e contou a eles o problema. “Agora vamos apanhar a comida !” disse ele ; e saíram todos voando junto para Benares. Ele postou-os em grupos aqui e lá, próximos da cozinha para vigiar ; e ele, com oito campeões, esperaram no telhado da cozinha. Enquanto aguardavam o serviço da comida do rei, deu estas ordens aos seus : “Quando a comida aparecer, farei o homem largar os pratos. Uma vez isto tenha sido feito, terá terminado para mim. Então quatro de vocês devem encher os bicos com arroz e quatro com peixe e alimentar o casal real com isto ; e se perguntarem onde estou, digam que estou à caminho.”
Bem, o cozinheiro aprontou seus vários pratos, pendurou-os num gancho de balança e saiu em direção aos aposentos reais. Quando passava pela corte, o Capitão Corvo com um sinal a seus seguidores, voou pousou no peito do homem que transportava a comida, atingiu com garras abertas, com o bico, pontudo como uma lança, bicou a ponta do nariz do sujeito, e com suas duas garras fechou as mandíbulas dele.
O rei andava para cima e para baixo em um andar superior, quando olhando para fora de uma larga janela, viu o quê o corvo estava fazendo. Gritou para o que ransportava : “- Ei você, solte os pratos e pegue o corvo !” então o homem soltou os pratos e segurou firme o corvo.
“Venha aqui !” gritou o rei.
Então os corvos comeram tudo que quiseram, pegaram o resto como a eles foi ordenado e levaram embora. Depois todos os outros afluíram e comeram o quê sobrou. Os oitos campeões deram a comida para o rei e a rainha comerem. O desejo de Fofa foi apaziguado.
O empregado que carregava o jantar trouxe o corvo para diante do rei.
“Ó Corvo !” disse ele, “não mostraste nenhum respeito para comigo ! Quebraste o nariz do meu empregado ! Derrubaste meus pratos ! Imprudentemente atiraste fora tua vida ! O que te fez fazer tal coisa ?”
Respondeu o Corvo, “Ó grande rei ! Nosso rei vive próximo à Benares e eu sou o capitão do exército. A esposa dele (cujo nome é Fofa) concebeu um desejo imenso de provar tua comida. Nosso rei me disse o quê ela anelava. Prontamente dediquei minha vida. Agora já enviei à ela a comida ; meu desejo está realizado. Esta é a razão d'eu ter agido como agi.” E para explicar o assunto, ele disse :-

Aqui na cidade de Benares, Ó grande rei,
Mora um rei dos Corvos, o alto Bel'asa ;
Que recebe ajuda de um séquito
De oitenta mil Corvos.

Fofa, a companheira dele, tinha um desejo indomável :
Anelava jantar peixe do próprio rei,
Fresco, feito na cozinha do palácio, - prato tal
Como os que vão para a mesa real.

Agora me vês como mensageiro deles ;
Foi obrigação com o rei que me trouxe aqui ;
E por reverenciar meu monarca
Feri o nariz daquele empregado.

Quando o rei escutou isto, disse, “Fazemos grandes honras aos homens e ainda assim não conseguimos fazer amigos. Mesmo se ofertamos presentes de tais coisas como uma cidade inteira, não encontramos ninguém disposto a oferecer sua vida por nós. Mas esta criatura, corvo como é, sacrificou a vida pelo seu rei. Ele é muito nobre, de fala doce e boa.” Ele ficou tão agraciado com as boas qualidades do corvo que fez a honraria de dar a ele um parassol branco. Mas o corvo saudou o rei com isto, seu próprio presente e cantou as virtudes de Bel'asa. O rei mandou chamá-lo e escutou seus ensinamentos e enviou para ambos o mesmo tipo de comida que ele mesmo comia ; e para o resto dos corvos cozinhava todo dia uma larga medida de arroz. Ele mesmo andava de acordo com os conselhos do Bodhisatva e protegendo todas as criaturas, praticava a virtude. Os conselhos de Bel'asa o corvo foram lembrados durante setecentos anos.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo o rei era Ananda, o Capitão era Sariputra mas Supatra era eu mesmo.”



sexta-feira, 15 de maio de 2009

291 A Tigela dos Desejos


291
“Um pródigo certa vez...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um sobrinho de Anatha-pindika. Esta pessoa dissipou uma fortuna de quarenta crores (quatrocentos milhões) em ouro. Depois visitou seu tio que lhe deu mil dinheiros e mandou fazer comércio com este dinheiro. O sujeito dissipou também este e voltou novamente ; e uma vez mais recebeu quinhentos dinheiros. Tendo dissipado este como o resto, na vez seguinte seu tio lhe deu duas vestes grosseiras ; e quando já tinha gasto estas e mais uma vez solicitava, seu tio o tomou pelo pescoço e o colocou porta para fora. O homem era incapaz e caiu na sarjeta e morreu. Arrastaram-no para fora (da cidade) e o jogaram lá. Anatha-pindika foi e contou ao Buddha o que aconteceu com seu sobrinho. Disse o Mestre, “Como poderias ter satisfeito um homem que muito tempo atrás falhei em satisfazer, mesmo quando dei a ele a Tigela dos Desejos ?” e com pedido, ele continuou contando um conto(a) do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como filho de um rico mercador ; e após a morte de seu pai, tomou seu lugar. Em sua casa estava enterrado um tesouro de quatrocentos milhões. Ele tinha apenas um filho, único. O Bodhisatva fez ofertas e obras boas até que morreu e então veio a viver novamente como Sakra, rei dos deuses. Seu filho continuou fazendo um pavilhão através da estrada e sentando com muitos amigos ao redor, para beber. E pagava mil dinheiros para corredores e acrobatas, cantores e dançarinas, e passava o tempo bebendo, comendo e debochando ; ele vagava, pedindo som apenas e música e dança, dedicado a seus companheiros de alegria, afundado na esbórnia. Assim em pouco tempo ele dissipou todo seu tesouro de quatrocentos milhões, toda sua propriedade, bens e móveis e ficou tão pobre e miserável que andava trajado em trapos.
Sakra, enquanto meditava, tornou-se cônscio de quão pobre ele estava. Tomado de amor por seu filho, deu a ele uma Tigela de Desejos, com estas palavras : Filho, cuidado para não quebrar esta tigela. Enquanto você a tiver, sua fartura nunca terminará. Portanto cuide dela !” e então retornou para o céu.
Após isto o homem nada fez a não ser beber dela. Um dia, estava bêbado e atirou a tigela nos ares, pegando-a enquanto caía. Mas certa vez deixou-a escapar. Caiu no chão e espatifou ! Então ele ficou pobre novamente e andava em trapos, mendigando, tigela na mão, ate que por fim deitou junto a um muro e morreu.
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Quando o Mestre terminou este conto(a), continuou :-

Um pródigo certa vez uma Tigela adquiriu,
Uma Tigela que lhe dava todos os desejos do coração.
E da Tigela, enquanto dela cuidou,
Sua fartura era satisfatória.

Quando, soberba bebedeira, numa hora de descuido,
Ele quebrou a Tigela que lhe dava todo este poder,
Nu, pobre tolo ! em andrajos e farrapos, ele
Caiu em grande miséria.

Não de outro modo quem grande fortuna tem
Mas em desfrutá-la entra em desmedida,
Logo resseca-se, como o velhaco - pobre alma! -
Que quebrou sua Tigela dos Desejos.

Repetindo estas estrofes em perfeita sabedoria, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o sobrinho de Anatha-pindika era o velhaco que quebrou a Tigela dos Desejos mas eu mesmo era Sakra.”

quinta-feira, 14 de maio de 2009

290 Buddha Brahmin e Pingala


290
“Virtude é amável...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um brahmin que colocou sua reputação em teste. As circunstâncias que a fizeram surgir e a história mesma, são dadas nos Jatakas 86, 330 e 362. ( No 330 a história se completa narrando o encontro do protagonista com Pingalā, cuja fala aparece no Mahabharata, Santi parva seção CLXXIV). Aqui, como antes -
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Quando Brahmadatra reinava em Benares, seu capelão resolveu testar a própria reputação quanto à virtude e durante dois dias retirou uma moeda da contagem do Tesoureiro. No terceiro dia eles o carregaram até o rei e o acusaram de roubo. No caminho ele notou alguns encantadores de serpentes fazendo uma cobra dançar. O rei perguntou a ele por que fizera tal coisa. O brahmin respondeu, “Para testar minha reputação quanto a virtude” : e continuou

Virtude é amável - assim o povo crê -
Virtude em todo o mundo é tida como suprema.
Observe ! esta cobra meio morta que eles não matam,
'Pois ela é boa,' eles dizem.

Aqui proclamo como a virtude é toda abençoada
E amável no mundo : onde quer que a possuam
Aquele que é virtuoso é dito para sempre
Trilhar o caminho da perfeição.

Cara a parentes, a pessoa brilha entre amigos ;
E quando sua união com o corpo termina,
Aquele que satisfazia-se em praticar a virtude
No céu nasce de novo.

Tendo assim em três estrofes declarado a beleza da virtude e discursado para eles, o Bodhisatva prosseguiu - “Grande rei, uma grande porção foi dada a ti por minha família, pela propriedade de meu pai, pela da minha mãe, e pelo o quê ganhei eu mesmo : não há fim para isto. Mas peguei estas moedasdo tesouro para testar meu próprio valor. Agora vejo como desvaloriza-se neste mundo nascimento e linhagem, sangue e família, e como é melhor a virtude. Abraçarei a vida religiosa ; permita-me fazer isto !” Após muitos rogos, o rei por fim consentiu. Ele deixou o mundo e retirou-se para o Himalaia onde assumiu vida religiosa e cultivou as Faculdades e Consecuções até chegar no mundo de Brahma.
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Quando o Mestre terminou este discurso, ele identificou o Jataka : “Naquele tempo o capelão Brahmin que testou sua reputação quanto a virtude era eu mesmo.”


[Mahabharata, seção CLXXIV, Santi parva :
“Em relação a isto, Ó rei [N. do tr.: um Brahmana conversa com o rei Senajit], são proclamados os versos cantados por Pingala sobre o modo como ela adquiriu mérito eterno mesmo num momento desfavorável a ela. Uma mulher caída de nome Pingala, tendo ido a um lugar marcado, foi negada a companhia do seu amado por causa de um acidente. Naquele momento de grande miséria, ela teve sucesso em adquirir tranquilidade d'alma.

Pingala disse, 'Ai, vivi por muitos anos, durante os quais dominada pelo frenesi, ao lado daquele Querido Si mesmo em quem nada há, a não ser tranquilidade. Morte está na minha porta. Antes disso, contudo, não me aproximei da Essência da Pureza. Cobrirei esta casa de uma coluna e nove portas (por meio do verdadeiro Conhecimento) [n. do tr.: A casa referida é o corpo. A coluna única em que se suporta é a coluna vertebral e as nove portas são olhos, ouvidos, narinas,etc.]. Que mulher existe que perceba aquela Alma Suprema como seu senhor querido, mesmo quando ele está próximo ? [n. do tr.: O sentido é que as mulheres sempre consideram seus amantes humanos como queridos sem perceberem o Ser Supremo enquanto tal, apesar Dele estar sempre com elas.] Agora estou acordada. Elevei-me do sono da ignorância. Não sou mais influenciada pelo desejo. Amantes humanos, que são na realidade, formas infernais corporificadas, não mais me enganarão se aproximando luxuriosamente. Mal produz bem através do destino ou dos atos de uma vida passada. Elevada (do sono da ignorância), atirei fora todo desejo por objetos mundanos. Adquiri completo controle sobre meus sentidos. Alguém livre do desejo e da esperança dorme em paz. Liberdade de toda esperança e desejo é felicidade.' Tendo rechaçado desejo e esperança, Pingala dorme feliz.”

quarta-feira, 13 de maio de 2009

289 Vivemos numa única...etc.


289
“Vivemos numa única...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o venerável Ānanda aceitar um artigo valioso. As circunstâncias serão expostas no Jataka 456. "Durante os primeiros vinte anos da vida de Gautama enquanto Buddha, seus ajudantes não eram sempre os mesmos : as vezes Ancião Nagasamala, outras Nagita, Upavana, Sunakkhatra, Cunda, Sagala, e as vezes Meghiya ajudavam o Mestre. " Depois nos últimos vinte e cinco anos , é Ananda quem ajuda.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como filho de sua Rainha. Ele cresceu e foi educado em Taxila (Takkasila) ; e tornou-se rei com a morte do pai. Havia um sacerdote da família que foi afastado do posto e sendo muito pobre vivia em uma casa velha.
Uma noite aconteceu que o rei estava andando pela cidade disfarçado, explorando-a. Alguns ladrões, já tendo realizado trabalho, bebiam em uma taberna, casa de vinhos, e levavam um pouco de bebida para casa numa jarra. Eles o viram na rua e gritaram - “Alô, quem és tu ?” socando-o, derrubando-o e tirando seu manto ; então eles pegaram a jarra e saíram fora, escarnecendo dele enquanto isto.

O brahmin acima citado, calhava de estar na rua observando as constelações. Ele viu o rei cair em mãos inimigas e chamou sua esposa ; rapidamente ela veio, perguntando o quê era. Disse ele, “Esposa, nosso rei caiu em mãos inimigas !” “Pois senhor,” disse ela, “que relações tens com o rei ? Os brahmins dele verão isto.” Isto o rei escutou e seguindo ainda um pouco, gritou para os tratantes, “Sou pobre, mestres – levem meu manto e deixem-me ir !” Como ele repetia isto várias vezes, eles o deixaram ir por piedade. Ele tomou nota do lugar que viviam e retornou.

Disse o brahmin para sua esposa, “Esposa, nosso rei livrou-se das mãos dos inimigos !” O rei escutou isto como antes ; e dirigiu-se para o palácio.

Quando aurora veio, o rei reuniu seus brahmins e fez perguntas a eles.
“Vocês têm feito observações ?”
“Sim, meu senhor.”
“São fastas ou nefastas ?”
“Fastas, meu senhor.”
“Nenhum eclipse ?”
“Não, meu senhor, nenhum.”
Disse o rei, “Vão e busquem para mim o brahmin de tal e tal casa,” dando as indicações.
Assim eles buscaram o velho capelão e o rei passou a questioná-lo.
“O senhor fez observações na noite passada, mestre ?”
“Sim, meu senhor, fiz.”
“Houve algum eclipse ?”
“Sim, meu senhor : noite passada tu caístes em mãos de teus inimigos e logo ficaste livre novamente.”
O rei disse, “Este é o tipo de homem que um contemplador de estrelas deve ser.” Ele demitiu os outros brahmins ; ele disse ao brahmin velho que estava agraciado com ele e o mandou que fizesse um pedido. O homem pediu licença para consultar a família e o rei permitiu.
O homem reuniu esposa e filho, nora e empregada, e colocou o problema diante deles. “O rei me concedeu um pedido ; que devo pedir ?”
Disse a esposa, “Me arranje cem vacas leiteiras.”
O filho, chamado Chatra, disse, “Para mim, uma charrete puxada por corcéis brancos como lírio.”
A nora, “Para mim, todo tipo de bijuterias, brincos com gemas e coisa assim !”
E a empregada (cujo nome era Punna), “Para mim, pilão e cuia e uma cesta com peneira.”
O brahmin mesmo queria ter o feudo de uma cidade como pedido. Então quando retornou para o rei e o rei querendo saber se a esposa pedira, o brahmin respondeu, “Sim, meu senhor rei ; mas os que pediram não são todos concordes “; e repetiu um par de estrofes :-

Vivemos numa única casa , Ó rei,
Mas não queremos todos a mesma coisa.
Minha esposa quer - cem vacas ;
Uma vila próspera, para mim ;
O estudante claro quer carro e cavalos,
A garota, brincos finos.
Enquanto a pobre e pequena Punna, a empregada,
Quer pilão e cuia, disse ela !

“Está certo,” disse o rei, “todos terão o que querem” ; e repetiu as linhas restantes :-

Dê cem vacas para a esposa,
Para o bom homem uma vila para viver,
E brincos em jóias para a filha :
Uma charrete com uma parelha, como parte do estudante,
E a empregada ganha seu pilão e cuia.

Assim o rei deu ao brahmin o quê ele desejava e grande honra além disso ; e mandando que ele se ocupasse daí em diante com os negócios do rei, manteve o brahmin ajudando ao rei mesmo.
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Quando o Mestre terminou este discurso, identificou o Jataka : “Naquele tempo o Brahmin era Ananda mas o rei era eu mesmo.”

terça-feira, 12 de maio de 2009

288 A espírita-do-Ganges



288
“Quem poderia acreditar ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um mercador desonesto. As circunstâncias foram contadas acima.
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Certa vez quando Brahmadatra era rei de Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família de um proprietário de terras.
Quando ele cresceu, se tornou um homem rico. Ele tinha um irmão mais jovem. Depois o pai deles morreu. Deciddiram cuidar de alguns negócios do pai. Isto os levou a um cidade, onde receberam mil peças de dinheiro. No seu caminho de volta, enquanto esperavam nas margens do rio por um barco, alimentaram-se com uma comida de um pote-cesta. O Bodhisatva atirou o quê sobrou no Ganges para os peixes, oferecendo o mérito para o espírito do rio. O espírito aceitou gratificado, o quê aumentou o divino poder dela (espírito feminino), e meditando neste aumento de seu poder, tornou-se consciente do que aconteceu. O Bodhisatva estendeu sua veste de cima n'areia e lá deitou para dormir.
Bem, o jovem irmão era de uma natureza mais ladra. Ele queria surrupiar o dinheiro do Bodhisatva e guardá-lo para si ; então empacotou uma porção de cascalho para assemelhar-se a uma porção de dinheiro e separou-os.
Quando já estavam a bordo e chegavam no meio do rio, o mais jovem tombou contra um dos lados do barco e deixou cair para fora do barco a porção de cascalho, pensava ele, mas na realidade a de dinheiro.
“Irmão, o dinheiro caiu n'água !” ele gritou. “Que faremos ?”
“Que podemos fazer ? O quê está perdido, está perdido. Não se preocupe com isto,” respondeu òutro.
Mas o espírito do rio (espírita) pensou como estava agradecida com o mérito que recebera e como seu poder divino crescera que resolveu cuidar da propriedade dele. Então através do poder dela fez com que um peixe de boca grande engulisse o pacote e ela mesma cuidou dele.
Quando o ladrão chegou em casa, regozijou-se com o truqueque usou contra seu irmão e desempacotou a porção que ficou. Nada havia a não ser cascalho ! Seu coração secou ; caiu na cama e agarrou-se ao estrado.
Bem, alguns pescadores, justo então, jogavam suas redes na correnteza. Através do poder da espírita do rio, o peixe caiu na rede. Os pescadores o pegaram para vender na cidade. O povo perguntou qual era o preço.
“Mil dinheiros e sete anás,” disseram os pescadores.
Todos riram deles. “Vimos um peixe sendo oferecido por mil dinheiros !” eles riam.
Os pescadores trouxeram seu peixe à porta do Bodhisatva e pediram a ele que o comprasse.
“Quanto custa ?” ele perguntou.
“Você o terá por sete anás,” eles disseram.
“Quanto vocês pediram por ele para o resto do povo ?”
“Para o resto do povo pedimos mil rúpias e sete anás ; mas você pode tê-lo por sete anás,” eles disseram.
Ele pagou sete anás por ele e enviou-o para sua esposa. Ela o abriu cortando e lá estava o pacote de dinheiro ! Ela chama o Bodhisatva. Ele olha e reconhecendo sua marca, identifica como sendo seu mesmo. Ele pensa, “Estes pescadores pediram para as outras pessoas o preço de mil rúpias e sete anás mas porque as mil rúpias me pertenciam , eles me deixaram obtê-lo por sete anás apenas ! Se uma pessoa não entender o significado disto, nada jamais a fará acreditar :” e então ele repetiu a primeira estrofe :-

Quem poderia acreditar nesta história, onde se contasse
Que peixes seriam vendidos por mil dinheiros ?
Para mim custaram sete centavos : como desejaria
Comprar uma fieira inteira desse tipo de peixe !

Quando disse isto, conjecturava como aconteceu dele recuperar seu dinheiro. Naquele momento a espírita-do-rio plainava invisível nos ares e declarou -
“Eu sou o Espírito do Ganges. Tu deste os restos de tua comida para os peixes e deixou-me ficar com os méritos. Portanto tomei conta de tua propriedade ;” e ela repetiu a estrofe :-

Você alimentou o peixe e deu-me um presente.
Lembro-me disto e de tua piedade.

Então a espírita contou sobre o truque maldoso que o jovem irmão tentou. Adicionando, “Lá ele jaz com o coração seco dentro de si. Não há prosperidade para o traiçoeiro. Mas trouxe para ti o que é teu e te aconselho a não perder. Não dê para teu jovem irmão ladrão mas guarde para ti mesmo.” Então ela repetiu a terceira estrofe :-

Não há boa fortuna para o coração mau,
E respeito dos espíritos ele não tem nenhum ;
Aquele que lesa o irmão da riqueza paternal
E obra más ações com arte e trapaça.

Assim falou a espírita não desejando que o ladrão traiçoeiro recebesse o dinheiro. Mas o Bodhisatva disse, “Isto é impossível,” e mesmo assim enviou ao irmão quinhentos dinheiros.
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Após este discurso, o Mestre declarou as Verdades :- na conclusão das quais o mercador entrou na fruição do primeiro caminho :- e identificou o Jataka :- “Naquele tempo o irmão mais jovem era o mercador desonesto mas o mais velho era eu mesmo.”

segunda-feira, 11 de maio de 2009

287 Em como granjear ganhos



287
“Aquele que é louco...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um sacerdote discípulo do Ancião Sariputra. Este irmão veio e saudou o Ancião, e sentando em um lado, perguntou a ele o modo de conseguir ganhos e como poderia arranjar roupas e coisas semelhantes. O Ancião respondeu, “Amigo, existem quatro qualidades que fazem um homem ter sucesso em conseguir ganhos. Ele deve livrar-se da modéstia de coração, deve resignar-se das suas ordens, deve aparentar ser louco mesmo que não o seja ; ele deve difamar ; ele deve se comportar como um dançarino ; deve utilizar palavras indelicadas em todo lugar.” Assim ele explicou como alguém consegue um grande ganho. O irmão constestou este método e saiu fora. O Ancião foi até o Mestre e contou a ele sobre isto. O Mestre disse, “Esta não é a primeira vez que este irmão fala menosprezando os ganhos ; ele fez o mesmo antes ;” e então, com o pedido do Ancião, ele contou um conto do mundo antigo.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família Brahmin. Quando estava com a idade de dezesseis anos, já dominava os Três Vedas e as dezoito realizações ; e ele se tornou um professor de larga fama, que educava um corpo de quinhentos jovens. Um dos jovens, de vida virtuosa, aproximou-se de seu professor um dia com a questão, “Como este pessoal consegue ganhos ?”
O professor respondeu, “Meu filho, existem quatro qualidades que granjeiam ganhos a este pessoal ;” e ele repetiu a primeira estrofe :-

Aquele que é louco, aquele que calunia,
Que tem trejeitos de ator, que conta histórias doentias,
Tal é a pessoa que ganha prosperidade,
Onde todos são tolos : que esta seja tua máxima.

O pupilo ouvindo estas palavras do mestre expressou sua desaprovação em granjear ganhos nas seguintes duas estrofes :-

Vergonha àquele que granjeia glória e ganhos
Por medonha destruição e pecados perversos.

Com a tigela na mão, levarei vida errante
Melhor que viver na corrupção e na ganância.

Assim o jovem louvou as qualidades da vida religiosa ; e logo se tornou um eremita e solicitava ofertas com retidão, cultivando as Consecuções, até se tornar destinado ao mundo de Brahma.

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Quando o Mestre terminou este discurso ele identificou assim o Jataka :- “Naquele tempo o irmão que desaprovava os ganhos era o jovem mas o professor era eu mesmo.”




sábado, 9 de maio de 2009

Buddha das ruínas de Taxila (Takkasila)




                             Buddha espremido, apertado, de Taxila ( Takkasilla ) no Paquistão entre o islamismo e o hinduísmo.

sexta-feira, 8 de maio de 2009

286 Buddha Boi Pelo Vermelho


286
“Não inveje o quê ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre a tentação por uma garota gorda. As circunstâncias serão explicadas no Jataka 477. Então o Mestre perguntou a este irmão se era verdade que apaixonara-se. Sim, ele disse. “Por quem ?” o Mestre perguntou. “Por uma garota gorda.” “Esta mulher, irmão,” disse o Mestre, “é tua ruína ; tempos atrás, como agora, te tornaste comida para a multidão por causa do teu desejo de casar com ela.” Então com o pedido dos irmãos ele contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era um boi chamado Grande Pelo Vermelho e seu irmão mais jovem chamava-se Pequeno Pelo Vermelho. Ambos trabalhavam para uma família em uma vila.

Havia nesta família uma garota crescida que foi pedida em casamento por outra família. Bem na primeira família, um porco chamado Saluka (lit. comedor de aipo), estava sendo engordado, com o propósito de ser servido na festa do dia do casamento ; ele costumava dormir em um chiqueiro.

Um dia, Pequeno Pelo Vermelho disse a seu irmão, “Irmão, trabalhamos para esta família e os ajudamos a ganhar o sustento deles. Contudo eles apenas nos dão grama e capim, enquanto alimentam aquele porco lá com mingau de arroz e o deixam dormir no chiqueiro ; o quê ele faz por eles ?”

“Irmão,” disse Grande Pelo Vermelho, “não cobice o mingau dele. Eles querem fazer uma festa com ele no dia de casamento da jovem senhora, daí porque o engordam. Espero alguns dias e o verás ser arrastado do chiqueiro, abatido, cortado em pedaços e comido pelos convidados.” Assim falando compôs duas estrofes :-

Não inveje o quê este Saluka come ;
É mortal o alimento que toma.
Fique feliz e coma teu farelo :
Significa longa vida para ti.

Logo chegarão os convidados.
Com suas fofocas e algo mais.
Todo cortado, pobre Saluka,
Com seu grande nariz chato, ficará.

Poucos dias depois, chegaram os convidados do casamento e Saluka foi abatido e transformado em comida. Ambos os bois, vendo o que aconteceu com ele, consideraram que seu próprio farelo, era melhor.
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O Mestre em sua perfeita sabedoria, repetiu a terceira estrofe a guisa de explicação:

Quando viram o nariz chato abatido
Cortado, pobre Saluka,
Disseram os bois, 'Melhor a metade',
Certamente é nosso humilde farelo !

Quando o Mestre terminou este discurso, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka :- na conclusão das Verdades, o Irmão em questão atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo, a garota gorda era a mesma, o irmão apaixonado era Saluka, Ananda era Pequeno Pelo Vermelho e eu era Grande Pelo Vermelho.”

 [ n. do tr. : Jatakas // são os de número 30 e 477. Esopo Buddhista coloca um Bezerro no lugar do porco em seu número 92. E o Jataka serve para o entendimento da frase platônico / socrática, e anteriormente Buddhista, 'a metade é maior que o todo'. Onde a metade é esta ausência dos sentidos soltos (tão cara à sociedade, perdida, moderna, que considera os sentidos, tanto na ciência quanto nas artes, o método, o fim e a finalidade principal, desconsiderando o entendimento mesmo) : como uma tartaruga que recolhe seus membros para dentro da couraça, carapaça. Imagem oriental. ]










quinta-feira, 7 de maio de 2009

285 A história de Sundari


285
“Para o inferno irá ...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o assassino de Sundari. Naquele tempo aprendemos que o Bodhisatva era honrado e respeitado. As circunstâncias são as mesmas que no Kandhaka [?] ; este é um resumo delas. A irmandade do Abençoado recebia ganho e honra como cinco rios que se derramam em uma forte correnteza ; os heréticos, descobrindo que estes ganhos e honras não mais vinham para eles , tornaram-se ofuscados como mariposas àurora, e reuniram-se em conselho : “Desde que o sacerdote Gautama apareceu, nosso ganho e glória saiu de nós. Nenhuma alma sabe mais que existimos. Quem nos ajudará a trazer reprovação a Gautama e impedí-lo de conseguir tudo isto ?” Então uma ideia ocorreu a eles. “Sundari nos fará capaz de fazer isto.” Então um dia quando Sundari visitou o bosque dos heréticos, eles a saudaram mas não disseram mais nada. Ela se dirigia a eles repetidamente mas não recebia nenhuma resposta. “Algo aborrece os santos padres ?” ela perguntou. “Pois, irmã,” disseram eles, “não vês como o sacerdote Gautama nos aborrece, privando-nos de ofertas e honras ?” “Que posso fazer quanto a isto ?” ela disse. “Você, irmã, é bela e amável. Você pode trazer desgraça para Gautama e tuas palavras influenciarão muitos e assim podes restaurar nossos ganhos e boa reputação.” Ela concordou e saiu. Após isto ela costumava pegar flores, essências, perfumes, cânfora, condimentos e frutas e à tardinha, quando uma grande multidão entrava na cidade após ter escutado o discurso do Mestre, e voltava seu rosto em direção à Jetavana. Se alguém perguntasse aonde ela estava indo ela dizia, “Até o Sacerdote Gautama ; vivo com ele em uma câmara perfumada.” Então ela passava a noite em um estabelecimento herético e de manhã entrava na estrada que ia de Jetavana para a cidade. Se alguém perguntasse aonde ela ia, replicava, “Estive com sacerdote Gautama em uma câmara perfumada e ele fez amor comigo.” Após o lapso de alguns dias, contrataram alguns bandidos para matar Sundari diante da câmara de Gautama e atirar o corpo dela em um monte de lixo. E assim fizeram. Os heréticos então fizeram um clamor público em busca de Sundari e informaram o rei. Ele perguntou sobre quem recaía as suspeitas. Eles responderam que ela fora nos últimos dias à Jetavana mas o que aconteceu em seguida eles não sabem. Ele os enviou em busca dela. Agindo com esta permissão, chamaram seus próprios empregados e foram à Jetavana, onde procuraram ao redor até encontrarem-na num monte de lixo. Chamando uma liteira, trouxeram o corpo dela para a cidade e contaram ao rei que discípulos de Gautama mataram Sundari e a atiraram num monte de lixo de modo a esconder o pecado de seu Mestre. O rei mandou que eles percorressem a cidade. Foram através de todas as ruas, gritando, “Venham e vejam o quê foi feito pelos sacerdotes do príncipe Sakya !” e depois voltaram para a porta do palácio. O rei colocou o corpo de Sundari em uma plataforma e ele/ela foi velado/a no cemitério. Todo o povo, exceto os discípulos santos, seguiam dentro da cidade, fora da cidade, nos parques e nas matas, xingando os Irmãos e gritando, “Venham e vejam o quê os sacerdotes do príncipe Sakya fizeram !” Os Irmãos contaram tudo isto ao Buddha. Disse o Mestre, “Bem, vão e censurem este povo com estas palavras:

Para o inferno irá aquele que se delicia em mentir,
E aquele que tendo feito algo, nega :
Ambos, quando a morte os levar,
Como pessoas de ações más, surgirão em outro lugar.

[N. do tr.: Dhammapada, v.306 ; Sutta Nipata, v. 661.]

O rei mandou alguns homens descobrirem se Sundari foi assassinada por outra pessoa. Bem, os bandidos beberam o dinheiro do crime e discutiam entre si. Disse um para outro, “Você matou Sundari com um golpe e depois atirou o corpo dela num monte de lixo e aí está você comprando bebida com o dinheiro do crime !” “Tudo certo, tudo certo,” disseram os mensageiros ; e prenderam os bandidos e os arrastaram para diante do rei. “Vocês mataram ela ?” perguntou o rei. Eles disseram, si, matamos. “Quem mandou ?” “Os heréticos, meu senhor.” O rei chamou os heréticos. “Levantem Sundari,” disse ele, “e a carreguem ao redor da cidade, gritando enquanto andam : 'Esta mulher Sundari quis trazer desgraça para o sacerdote Gautama ; nós a assassinamos ; a culpa não é de Gautama nem de seus discípulos ; a culpa é nossa !' “ Eles fizeram isto. A multidão de inconversos acreditou e os heréticos mantidos à distância de mais dano, recebendo punição pelo assassinato. Daí em diante a reputação de Buddha cresceu mais e mais. Então um dia começaram a fofocar no Salão da Verdade : “Amigo, os heréticos pensaram em manchar o Buddha e só mancharam a eles mesmos ; desde então nossos ganhos e glórias só têm aumentado !” O Mestre entrou e perguntou sobre o quê conversavam. Eles disseram. “Irmãos,” disse ele, “é impossível tornar o Buddha impuro. Tentar manchar o Buddha, é como tentar manchar uma gema preciosa. Em eras passadas , um povo desejava manchar uma joia fina e apesar de muito tentarem, falharam em conseguir.” E ele contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu numa família Brahmin. Quando ele cresceu, percebendo o sofrimento que surge do desejo, saiu fora, e atravessou três cordilheiras do Himalaia, onde se tornou eremita e viveu em uma cabana de folhas.

Próximo a esta cabana havia uma gruta de cristal onde viviam trinta Javalis. Nas proximidades também, um Leão costumava vagar. A sombra dele costumava se refletir no cristal. Os Javalis viam este reflexo e aterrorizados, ficavam magros e fracos. Eles pensaram, “Vemos este reflexo porque o cristal é claro. Vamos sujá-lo e descolori-lo.” Então pegaram lama de um lago perto e esfregaram repetidamente no cristal. Mas o cristal sendo constantemente polido pelas cerdas (pelos das costas dos porcos) dos javalis, ficava mais brilhante ainda.

Eles não sabiam como lidar com a situação ; então decidiram perguntar ao eremita como podiam sujar o cristal. Foram portanto até ele e após saudação respeitável, sentaram do lado dele, e pronunciaram estes dois versos :-

Sete verões estamos aqui
Trinta em uma gruta de cristal.
Agora obscurecer o brilho tentamos -
Mas obscurecê-lo não conseguimos.

Apesar de tentarmos com toda a nossa força
Obscurecer seu brilho,
Mais ainda a luz resplandece,
Qual será a causa ?

O Bodhisatva escutou. Então repetiu a terceira estrofe :-

Este precioso cristal, sem sujeira, brilhante, e puro,
Nenhum vidro - com seu brilho com certeza
Pode-se comparar na terra ao brilho deste.
Javalis, é melhor procurarem outro lugar.

E assim eles fizeram, escutando esta resposta. O Bodhisatva perdeu-se em rapto enstático e tornou-se destinado ao mundo de Brahma.
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Após o término deste discurso, o Mestre identificou o Jataka : “Naquele tempo eu era o eremita.”










quarta-feira, 6 de maio de 2009

284 sobre Anatha pindika




       
                     
                            ( Yakshas : o braço elevado é porque a Planta desce o galho para ajudar )
284
“Quaisquer riquezas que...etc.” - Esta história o Mestre contou sobre um brahmin que roubou boa sorte. As circunstâncias deste Jataka são dadas acima no Jataka 40. Como anteriormente, o espírito 'herético' que vivia na torre do portão da casa de Anatha pindika, fazendo penitência, trouxe cinquenta e quatro crores (quinhentos e quarenta milhões) em ouro, encheu os depósitos e tornou-se amiga do grande homem. Ele a levou para diante do Mestre. O Mestre discursou para ela. Ela escutou e entrou na corrente da conversão. Daí em diante a honra do grande homem se tornou tão grande quanto antes. Bem, vivia em Savatthi um brahmin, versado em sinais de sorte, que pensava deste modo : “Anatha pindika estava pobre e então ficou famoso. Que aconteceria s'eu fingisse que fosse vê-lo e roubasse a sorte dele ?” Assim foi até a casa dele, onde o receberam com hospitalidade. Após troca de civilidades, o hospedeiro perguntou por quê viera. O brahmin olhava ao redor procurando onde a sorte do homem descansava. Bem, Anatha pindika tinha um galo, branco como concha polida, que ele mantinha numa gaiola dourada, e na crista deste galo descansava a sorte deste grande homem.

 O brahmin olhou ao redor e espreitou onde a sorte descansava. “Nobre senhor,” disse ele, “ensino encantos mágicos para quinhentos jovens seguidores. Somos castigados por um galo que canta na hora errada. Teu galo canta na hora certa. Vim por causa dele ; você me daria o galo ?” “Sim,” disse o outro : e no mesmo instante que a palavra foi pronunciada , a sorte deixou a crista do galo e se estabeleceu numa joia deixada numa almofada. O brahmin observou que a sorte foi para a joia e pediu ela também. Assim que o proprietário concordou em dá-la, a sorte deixou a joia e se estabeleceu em um porrete para auto-defesa que também estava numa almofada. O brahmin viu isto e o pediu novamente. “Leve-o e se vá,” disse o proprietário ; e no mesmo instante a sorte deixou o porrete e se estabeleceu na cabeça da esposa principal do proprietário, que se chamava Senhora Puññalakkhana. O brahmin ladrão pensou, quando viu isto, “Este é um bem inalienável que não posso pedir.” Então ele contou ao grande homem, “Nobre senhor,” disse ele, “vim à tua casa para roubar tua sorte. A sorte estava na crista do teu galo. Mas quando me deste o galo, a sorte passou para esta joia ; quando me deste a joia ela passou para teu porrete ; quando me deste o porrete, ela saiu dele e passou para a cabeça da Senhora Puññalakhana. Com certeza isto é inalienável, nunca poderei ter. É impossível roubar tua sorte – guarde-a, então !” e levantando-se do seu assento, partiu. Anatha pindika decidiu contar ao Mestre ; e assim foi ao mosteiro e após saudá-lo respeitosamente, sentou em um dos lados e contou ao Buddha tudo que aconteceu. O Mestre escutou e disse, “Bom homem, atualmente a sorte de uma pessoa não vai para outra. Mas anteriormente a sorte pertencente àqueles com pouco entendimento, iam para os sábios;” e contou a ele um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva nasceu em uma família Brahmin no reino de Kāsi. Crescendo, foi educado em Takkasila ( Taxila ) e vivia com sua família ; mas quando seus pais morreram, muito triste, retirou-se para viver vida de recluso no Himalaia e lá cultivou as Faculdades e as Consecuções.

Um longo tempo se passou e ele desceu para as terras habitadas na busca de sal e temperos, e se alojou nos jardins do rei de Benares. Dia seguinte, em suas rondas de coleta, chegou na porta de um treinador de elefantes. Este homem agradou-se dos seus modos e caminhos, alimentou-o e deu a ele alojamento em seu próprio terreno, servindo-lhe continuamente.

Bem, aconteceu justo então que um homem cujo negócio era catar lenha , não conseguiu voltar da floresta para a cidade à tempo. Deitou para passar a noite em um templo, colocando um feixe de gravetos debaixo de sua cabeça como travesseiro. Neste templo havia um bando de galos livres, pousados perto em um'árvore. Já próximo do dia, um deles, que cantava alto, deixou pingar algo nas costas do pássaro de baixo. “Quem deixou cair isto em mim ?” gritou este. “Eu deixei,” gritou o primeiro. “E por quê ?” “Não ligue,” disse o outro ; e depois fez de novo. Daí os dois começaram a abusar um do outro gritando - “Que poder você tem ? Que pode você fazer ?” Por fim o de baixo disse, “Quem quer que me mate e coma minha carne assada em brasas, ganhará mil dinheiros pela manhã !” E o de cima respondeu - “Ora, ora, bravateias coisa pouca como esta ! Quem quer que coma minha carne se tornará rei ; se comer as extremidades, se tornará comandante-chefe ou rainha, conforme seja homem ou mulher ; se comer as carnes juntos dos ossos, conseguirá o posto de Tesoureiro real, se for dono de casa ; ou, se for sacerdote, se tornará o favorito do rei !”

O catador de lenha escutou tudo isto e ponderou. “Bem, s'eu me tornar rei, não haverá necessidade nenhuma de mil dinheiros.” Mansamente subiu n'árvore, pegou o galo de cima e o matou : amarrou em uma dobra de sua roupa, dizendo a si mesmo - “Agora serei rei !” Logo que os portões foram abertos, ele entrou. Depenou o pássaro, o limpou e o deu a esposa, pedindo a ela que preparasse a carne para comer. Ela aprontou com um pouco de arroz e colocou diante dele, pedindo a seu esposo que comesse.

“Boa esposa,” disse ele, “há grande virtude nesta carne. Comendo-a me tornarei rei e você minha rainha !” Então eles levaram carne e arroz para baixo junto das margens do Ganges, pretendendo banharem-se antes de comê-la. Então, deixando carne e arroz no chão nas margens, entraram para se banhar.

Justo então uma brisa agitou àgua, que levou a carne. Descendo o rio ele flutuava, até chegar ser vista por um treinador de elefantes, um grande personagem, que banhava seus elefantes mais abaixo. “que temos aqui ?” disse ele e pegou a comida. “Carne de pássaro com arroz, meu senhor,” foi resposta.

Ele mandou que embrulhassem e selasse, e a enviou para casa para sua esposa, com uma mensagem para que abrisse quando ele retornasse.

O catador de lenha corria com sua barriga estufada de água e areia que engolira.

Bem, um certo asceta, que tinha visão divina, o capelão favorito do treinador de elefante, pensava consigo mesmo, “Meu patrão amigo não deixa este posto com os elefantes. Quando terá promoção ?” Quando ele assim ponderava, viu este homem com seu insight divino e percebeu o quê acontecia. Ele voltou antes e sentou na casa do patrão.

Quando o mestre retornou, ele o saudou respeitosamente e sentou em um dos lados. Então, mandando que viesse o embrulho, ordenou que comida e água fossem trazidas para o asceta. O asceta não aceitou a comida que era oferecida a ele ; mas disse, “Dividirei esta comida.” O mestre deu licença a ele. Então separando a ave em porções, deu ao treinador de elefantes a carne, as extremidades para a esposa e pegou a parte dos ossos como sua porção. Depois que a refeição estava terminada, ele disse, “No terceiro dia a partir de hoje, você se tornará rei. Cuidado com o quê fazes !” e saiu fora.

No terceiro dia um rei vizinho veio e cercou Benares. O rei mandou seu treinador de elefantes se vestir em vestes reais , montar seu elefante e lutar. Ele mesmo colocou um disfarce e se misturou às hostes ; rápida veio uma flecha e o perfurou, de modo que ele pereceu, lá e então. O treinador, entendendo que o rei estava morto, mandou vir uma grande quantidade de dinheiro e bateu o tambor proclamando, “Que aqueles que querem dinheiro, avancem e lutem !” A hoste de guerreiros em um piscar de olhos matou o rei inimigo.

Após as exéquias reais, os cortesãos deliberaram quem seria feito rei. Eles disseram, “Enquanto nosso rei ainda estava vivo, ele colocou as vestes reais no treinador de elefantes. Este mesmo homem lutou e salvou o reino. A ele o reino deve ser dado !” E o consagraram rei e sua esposa foi feita rainha. O Bodhisatva tornou-se seu confidente.
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Após este discurso o Mestre, em sua perfeita sabedoria, pronunciou as duas estrofes seguintes :-

Quaisquer riquezas que aqueles que se empenham vigorosamente
Sem a ajuda da sorte podem sempre ganhar,
Tudo isto, pelo favor da deusa Fortuna / Sorte,
Ambos hábeis e não hábeis, igualmente obtêm.
Todo mundo diante de muitos nossa vista encontra,
Não apenas bons, mas criaturas bem diferentes,
Cujo lote é a fruição possuir
De riquezas em estoque que não são delas por direito.

Após isto o Mestre adicionou, “Bom senhor, estes seres não têm outro recurso mas seus méritos ganhos em nascimentos prévios ; isto os habilita a obter tesouros em lugares onde não há nenhuma jazida.” Então ele recitou a seguinte escritura.

Há um tesouro em todas as coisas boas
Que realiza o desejo de pessoas e deuses.
Visões finas, vozes, figura, forma, e soberania
Com toda sua pompa, descansa neste tesouro.
Domínio e governo, benção imperial,
A coroa do céu, está dentro deste tesouro.
Toda a felicidade humana, as alegrias celestes,
O si-mesmo do Nirvana, é tirado deste depósito.
Laços verdadeiros de amizade, a liberdade da sabedoria,
Firme auto controle, descansa neste tesouro.
Salvação, entendimento, treinamento próprio
Para fazer Pacceka Buddhas vem dele.
Assim tem este mérito uma virtude mágica;
O sábio e constante louva-o inteiramente.

Por fim o Pássaro repetiu a terceira estrofe,explicando os tesouros em que descansava a sorte de Anatha pindika.

Um galo, uma gema, um porrete, uma esposa -
Tudo isto estava provido de sinais de sorte.
Pois todos estes tesouros, seja sabido,
Uma pessoa boa e sem pecado tinha.

Então ele identificou o Jataka : “Ancião Ananda era o Rei e o sacerdote da família era o Buddha Mesmo.”








terça-feira, 5 de maio de 2009

283 Ancião Dhanuggaha Javali Carpinteiro




                         Imagem de Vishnu Vahara Javali magnificamente esculpida em Khajuraho.

283
“O melhor, o melhor sempre...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre o ancião Dhanuggahatissa. Mahakosala, o pai do rei Pasenadi, quando casou sua filha, a Senhora de Kosala, com o rei Bimbisara, deu uma cidade de Kasi, produtora de uma receita de cem mil, para gasto em banhos e perfumaria. Quando Ajatasatru assassinou o rei seu pai, a senhora de Kosala morreu de tristeza. Então pensou rei Pasenadi, “Ajatasatru matou seu pai, minha irmã morreu, simpática com a desgraça do marido dela ; não darei a cidade da região de Kāsi a um parricida.” Assim recusou deixá-la com Ajatasatru. Por causa desta cidade havia guerra entre estes dois de tempos em tempos.

Ajatasatru era feroz e forte e Pasenadi era um homem muito velho, de modo que era repetidamente vencido e o povo de Mahakosala geralmente conquistado. O rei então perguntou a seus cortesãos, “Somos vencidos repetidamente ; o quê deve ser feito ?” “Meu senhor,” eles disseram, “os reverendos padres são hábeis em encantamentos. Devemos escutar as palavras dos Irmãos que moram no mosteiro de Jetavana.” O rei então despachou mensageiros, pedindo a eles que escutassem as conversas dos Irmãos em momento apropriado. Bem naquele momento haviam dois Anciãos  vivendo numa cabana de folhas próxima ao mosteiro cujos nomes eram Ancião Utta e Ancião Dhanuggahatissa. Dhanuggahatissa dormiu durante a primeira e a segunda vigília noturna ; e levantando-se na última vigília, quebrou alguns gravetos, acendeu um fogo, e sentando-se no chão disse, “Utta, meu amigo !” “Que é, amigo Tissa ?” “Não estais dormindo ?” “Agora que estamos acordados, que fazer ?” “Levante-se e sente-se aqui do lado.” Assim ele fez e começaram a conversar.

 “Aquele barrigudo estúpido de Kosala não consegue ter um jarro cheio de arroz cozido sem estragá-lo ; como nada sabe de planejar uma guerra. Está sempre sendo derrotado e forçado a pagar.” “Mas o quê ele devia fazer ?” Justo neste momento os mensageiros permaneciam escutando a conversa deles.

 Ancião Dhanuggahatissa discutia a natureza da guerra. “Guerra, Senhor,” disse ele, “consistem em três tipos : o exército lótus, o exército roda e o exército vagão [ n. do tr.: O formato 'roda' explica-se por si-mesmo : o 'vagão' era uma falange em ponta de cunha ; a 'lótus', “é igualmente extensa para todos os lados e perfeitamente circular, o centro sendo ocupado pelo rei.” Bühler, S.B.E. Vol. 25 pg. 246]. Se aqueles que desejam capturar Ajatasatru postarem guarnições em dois fortes nas montanhas e fingirem que estão fracos, e vigiarem até que eles estejam no meio das montanhas, barrarem a passagem deles, pularem dos dois fortes e atacarem pela frente e pelas costas, gritando alto, rapidamente os pegarão como peixe em terra firme, como sapo em mão fechada ; e assim serão capazes de segurá-lo.” Tudo isto os mensageiros contaram a seu rei. O rei fez com que se tocasse o tambor para o ataque, arrumou as tropas na formação vagão e prendeu Ajatasatru vivo ; sua filha, Princesa Vajira, deu em casamento ao filho de sua irmã e a dispensou com a cidade da região de Kasi como seu dinheiro de banho e perfumaria.

Estes acontecimentos tornaram-se conhecidos na Irmandade. Um dia, eles estavam todos falando sobre isto no Salão da Verdade ; “Amigo, escutei que o rei de Kosala conquistou Ajatasatru através das instruções de Dhanuggahatissa.” O Mestre entrou ; “Sobre o quê conversam sentados aí agora, Irmãos ?” perguntou ele. Eles disseram a ele. Ele disse, “Esta não é a primeira vez que Dhanuggahatissa foi inteligente em discursar sobre guerra” : e contou a eles um conto do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva veio à vida como espírito d'árvore. Naquele tempo haviam alguns carpinteiros estabelecidos em uma vila próxima a Benares. Um deles, errando na floresta para catar lenha, encontrou um jovem javali caído em um poço, o qual pegou e levou para casa para cuidar. Ele cresceu e ficou grande com presas em curva, sendo uma criatura de bons modos. Porque o carpinteiro cuidava dele ficou conhecido como Javali do carpinteiro. Quando o carpinteiro estava cortando um'árvore, o javali costumava virá-la com seu focinho e com seus dentes buscava a machadinha, a enxó, o cinzel, a marreta e esticava a linha de medir até o final. O carpinteiro temia que alguém pudesse comê-lo ; e assim o pegou e o levou para a floresta. O Javali corria na floresta, buscando um lugar seguro e agradável para viver ; por fim espreitou uma grande cova em um lado da montanha, com muitos bulbos, raízes, frutas, um lugar agradável para viver. Algumas centenas de outros javalis o viram e aproximaram-se dele.

Disse ele, “Vocês são justamente o que eu procurava e aqui encontrei vocês. Este me parece um lugar adequado ; e aqui pretendo viver agora com vocês.”
“Um bom lugar certamente é,” eles disseram, “mas perigoso”.
“Ah,” disse ele, “assim que vi vocês, cogitei como podia ser que aqueles que moravam em um lugar com tanta abundância pudessem ser magros na carne e no sangue. Do que vocês têm medo ?”
“Há um tigre que vem de manhã e todo aquele que ele vê ele pega e leva.”
“Isto acontece sempre, ou só uma vez ou outra ?”
“Sempre.”
“Quantos tigres são ?”
“Só um.”
“O quê – um só é muito para todos vocês ?”
“Sim, Senhor.”
“Vou pegá-lo, se vocês fizerem o quê eu disser a vocês. Onde o tigre vive ?”
“Naquela montanha lá.”

Então à noite ele instruiu os Javalis e os preparou para a guerra ; explicando a eles a ciência. “Guerra pode ser de três tipos – exército de lótus, exército de roda e exército de vagão :” e os arrumou na formação de lótus. Ele conhecia um lugar vantajoso ; e assim, disse, “Aqui devemos fazer nossa guerra.” As mães com seus filhotes de leite estabeleceu no meio ; ao redor destes colocou as porcas sem filhotes ; ao redor destas, os javalis jovens ; ao redor destes, os menos jovens ; ao redor destes, todos os que tinham presas crescidas ; ao redor destes, os javalis prontos para a guerra, fortes, poderosos, em dezenas e vintenas ; assim postando-os em ranks, fileiras. Diante de sua própria posição fez cavar um buraco redondo ; atrás, um poço afundando gradualmente, no formato de uma peneira. Enquanto se movimentava ao redor entre eles, seguido por sessenta ou setenta Javalis, pedindo-lhes que fossem corajosos, surge aurora.

O Tigre acordou. “Agora é hora !” pensou ele. Trotou até avistá-los ; então parou ainda acima no plateau, observando a multidão de Javalis. “Devolvam o olhar !” gritou o Javali do carpinteiro, com um sinal para os outros. Todos eles encararam. O Tigre abriu a boca e respirou fundo : os Javalis fizeram o mesmo. O Tigre relaxou : o mesmo fizeram os Javalis. Então o que quer que o Tigre fizesse, os Javalis faziam igual.

“Por quê isto ?!” cogitava o Tigre. “Eles costumam sair correndo assim que me vêem – na realidade ficam com medo até de correr. Agora, longe de correr, levantam-se contra mim ! O que quer que faço, eles imitam. Há um sujeito ali em posição de comando : é ele que organizou a turba. Bem, não vejo como levar a melhor sobre eles.” E ele girou e voltou para sua cova.

Bem, havia um eremita shamam, que costumava pegar uma parte da caça do Tigre. Desta vez o Tigre retornou de 'mãos vazias'. Notando isto, o eremita repetiu a seguinte estrofe.

O melhor, o melhor sempre colocas diante
Quando sais, o javali selvagem caçando.
Agora sem nada, tomado de tristeza,
Ho-je onde está a força que tinhas antes ?

Interpelado assim, o Tigre repetiu outra estrofe :

Normalmente eles correriam em confusão
Procurando suas tocas, tomados de pânico.
Mas agora eles grunhem em ranks compactos :
Invencíveis, eles permanecem me encarando.

“Oh, não fique com medo deles !” incentivou o eremita. “Um rugido e um pulo os aterrorizarão e os colocarão para fora de si-mesmos em confusão.” O Tigre rendeu-se a esta insistência. Arranjando coragem retornou e permaneceu no plateau.

Javali Carpinteiro ficou entre os dois poços. “Veja Meste ! Lá está o tratante novamente !” gritaram os Javalis. “Ah, nada temam,” disse ele, “o apanhamos agora.”

Com um rugido o Tigre saltou sobre o Javali Carpinteiro. No mesmo instante que ele saltou, o Javali esquivou-se e caiu direto no poço redondo. O Tigre não pode parar mas tombou cada vez mais nas mandíbulas do outro poço, que ficava bem estreito. Saltou para fora o Javali do seu buraco e rápido como um raio correu com suas presas para as pernas do Tigre, rasgando-as nos rins, enterrando suas presas na carne macia e ferindo também a cabeça dele. Então lançou-se para fora do poço, gritando alto - “Aí está o inimigo para vocês !” Aqueles que chegaram primeiro tiveram tigre para comer ; mas aqueles que chegaram depois ficaram cheirando a boca dos outros e perguntando qual era o gosto de carne de tigre !

Mas os Javalis ainda estavam ansiosos. “Qual o problema agora ?” perguntou nosso Suíno, que notava o movimento deles.

“Mestre,” disseram eles, “tudo bem matar um tigre mas o eremita shamam pode trazer dez tigres mais !”
“Quem é este ?”
“Um asceta ruim.”
“Um tigre eu matei ; vocês acham que um homem pode me machucar ? Vamos e nós o pegaremos.” Então todos partiram.

Bem, o homem cogitava por quê o Tigre demorava tanto em voltar. Poderiam os Javalis terem-no pego ? Ele pensava. Por fim passou a querer encontrá-lo no caminho ; e enquanto ia, lá vinham os Javalis ! Ele catou seus pertences e saiu fora correndo. Os Javalis romperam atrás dele. Ele jogou fora seus entulhos e com toda a velocidade subiu em uma figueira.

“Bem, Mestre, ele está no alto !” gritou a horda. “O homem subiu numa árvore !”
“Que árvore ?” perguntou o líder.
“Uma figueira.” eles responderam.
“Ah, muito bem,” disse o líder. “Os bacurinhos devem trazer água, os javalis jovens cavem ao redor da árvore, os com presas rasguem as raízes e o resto cercam-na e vigiem.” Eles fizeram suas várias tarefas como ele ordenou ; ele enquanto isso arremetia um raiz grossa, - era como um golpe de machado ; e com este golpe único ele derrubou àrvore no chão. Os Javalis que esperavam o homem, derrubaram-no e o fizeram em pedaços, deixando os ossos limpos em um instante !

Depois eles colocaram o Javali Carpinteiro no toco d'árvore. Encheram a tigela, concha, do homem morto com água e aspergiram o javali, consagrando-o rei deles ; uma jovem porca, eles consagraram como sua Consorte.

Esta, diz a lenda, é a origem do costume ainda observado. Quando o povo unge um rei nos dias de hoje, ele é colocado em uma bela cadeira de madeira de figueira e aspergido com três conchas.

Um espírito que habitava na floresta viu esta maravilha. Aparecendo diante dos Javalis no nó do seu tronco de árvore, ele repetiu a terceira estrofe :-

Honra a todas as tribos sejam dadas !
Uma união maravilhosa realmente vejo !
Como javalis de presas venceram o tigre
Com força e conjunto de presas unidas !
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Após este discurso, o Mestre identificou o Jataka : “Dhanuggaha o Ancião era o Javali Carpinteiro e eu mesmo era o espírito d'árvore.”