terça-feira, 30 de junho de 2009

321 Buddha Pássaro Singila


                    Rajagaha, Índia.

321
“Macaco, nos pés...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre enquanto residia em Jetavana, sobre um jovem discípulo que botou fogo na cabana de folhas do ancião MahaKassapa. O incidente que dá origem à história aconteceu em Rajagaha. Naquele tempo, dizem, o ancião vivia numa cela na floresta próxima à Rajagaha. Dois jovens noviços eram ministros de suas vontades. Um deles servia ao ancião, òutro comportava-se mal. O que quer que fosse feito pelo seu camarada, ele fazia como se tivesse sido feito por ele mesmo. Por exemplo, quando òutro rapaz já havia colocado água para lavar a boca (e os dentes), ele se dirigia até o ancião, saudava-o, e falava, “Senhor, àgua está pronta. Podes lavar a boca.” E quando seu companheiro levantava cdo e varria a cela do ancião, assim que o ancião aparecia, ele batia as coisas lá e cá, fazendo como se toda a cela houvesse sido arrumada por ele mesmo.
O discípulo cumpridor dos deveres pensou, “Este sujeito ruim proclama o que quer que eu faça, como se ele houvesse feito. Vou expor seu comportamento dissimulado.” Então quando o jovem tratante voltou da cidade e estava descansando após a refeição, ele esquentou àgua para o banho e a escondeu no quarto de trás, e colocou apenas uma pequena quantidade d'água no boiler. Òutro rapaz, acordando, foi e viu o vapor elevando-se e pensou, “Sem dúvida nosso amigo aqueceu àgua e a colocou no banheiro.” Foi então até o ancião e disse, “Senhor, àgua está no banheiro. Podes tomar banho.” O ancião foi com ele tomar banho e não encontrando água no banheiro, perguntou onde àgua estava. O rapaz foi correndo até a câmara de aquecimento e deixou cair um colherão no boiler vazio. O colherão bateu no fundo do recipiente vazio e produziu som estrondoso. (Daí em diante o garoto ficou conhecido pelo nome de “Colherão Estrondoso.” ) Neste momento òutro rapaz trouxe àgua do quarto de trás e disse, “Senhor, por favor tome seu banho.” O ancião tomou seu banho e estando agora ciente do mau comportamento de Colherão Estrondoso, quando o garoto veio à noitinha para ajudá-lo, ele o reprovou e disse, “Quando alguém que está sob votos religiosos faz alguma coisa, somente ele pode dizer 'Fiz isto.' De outro modo é mentira deliberada. Portanto não se condene comportando-se assim.”
O garoto ficou irado com o ancião e no dia seguinte recusou ir com ele à cidade na coleta de oferta. Òutro jovem contudo acompanhou o ancião. E Colherão Estrondoso seguiu ao encontro de uma família que amparava o ancião. Quando perguntaram onde estava o ancião, ele respondeu que ficara em casa, doente. Eles questionaram o quê ele tinha. Ele disse, “Me dêem isto e isto,” e levou tudo e foi para um lugar que ele gostava e comeu tudo e voltou para o eremitério. Dia seguinte o ancião visitou aquela família e sentou com eles. O pessoal disse, “Você não está bem, está ? Ontem ficaste em casa, na tua cela. Te enviamos alguma comida pelas mãos de tal e tal rapaz. Vossa Reverência partilhou dela ?” O ancião manteve a paz e quando terminou sua refeição retornou para o mosteiro.
À noite quando o garoto veio para ajudá-lo, o ancião dirigiu-se assim a ele : “Foste em coleta de oferta, Senhor, em tal e tal família e em tal e tal cidade. E coletaste falando, 'O ancião deve ter tal e tal coisa para comer.' Então, comeste tudo sozinho. Tal coleta é altamente imprópria. Vejas que não sejas condenado por tal má conduta novamente.”
Assim o garoto para sempre alimentou ressentimento contra o ancião, pensando, “Ontem meramente por causa de um pouco d'água ele provocou uma briga comigo. E agora está indignado porque comi um pouco de arroz da casa casa daqueles que o amparam, briga comigo novamente. Vou encontrar o jeito certo de lidar com ele.” e dia seguinte, quando o ancião foi para a cidade em coleta de oferta, ele pegou um martelo e quebrou todos os potes usados para alimentação e colocando fogo na cabana de folhas, saiu correndo. Ainda em vida tornou-se um preta (zumbi, morto vivo) entre as pessoas e definhou até que morreu, re-nascendo no Grande Ínfero de Avici. E a fama de seus atos maus espalhou-se entre o povo.
Então um dia alguns Irmãos vieram de Rajagaha para Savatthi e após largarem seus mantos e tigelas na Sala Comum, foram, saudaram o Mestre e sentaram. O Mestre conversou agradavelmente com eles e perguntou de onde eles vinham. “De Rajagaha, Senhor,” “Quem é o professor que prega lá ?” ele perguntou. “O Grande Kassapa, Senhor.” “Kassapa está bem, Irmãos ?” ele questionou. “Sim, reverendo Senhor, o ancião está bem. Mas um jovem membro da fraternidade ficou tão irado por conta de uma censura dele, que colocou fogo na cabana de folhas do ancião e fugiu.” O Mestre, escutando isto, disse, “Irmãos, solidão / soledad é melhor para Kassapa do que manter a companhia de um tolo como este.” e assim falando ele repetiu a estrofe do Dhammapada:

Viajar com a horda vulgar recuse,
E amizade com gente tola evite ;
Teu par ou um melhor, escolha, como camarada
Ou então siga seu caminho na solitude.

E ainda se dirigindo aos Irmãos disse, “Não apenas agora, Irmãos, este jovem destruiu a cabana e ficou irado com alguém que o censurava. Em dias idos também ele ficou irado.” E então contou a eles uma lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como um jovem pássaro singila. E quando cresceu e tornou-se grande pássaro estabeleceu-se no Himalaia e construiu para si um ninho ao seu gosto, que era à prova de chuva. Então um certo macaco na estação chuvosa quando a chuva caía sem parar, sentou-se perto do Bodhisatva, os dentes tremendo por causa do frio excessivo. O Bodhisatva vendo-o assim estressado, baixou para falar com ele, e pronunciou a primeira estrofe :-

Macaco, nos pés, mãos e face
Tão semelhante à forma humana,
Por que não constróis moradia,
Para esconder-se da tempestade ?

O macaco, ouvindo, respondeu com a segunda estrofe :-

Nos pés e mãos e face, Ó pássaro,
Apesar de próximo aos do homem,
Sabedoria, dom principal a ele conferido,
A mim foi negado.

O Bodhisatva escutando ainda pronunciou duas estrofes mais :-

Aquele que mostra inconstância, de mente leve e volúvel,
Instável expondo-se nos seus caminhos, não pode achar felicidade.
Macaco, para distingüir-se em virtude, empenhe-se ao máximo,
E salvo da rajada invernal, resida, vá, planeje uma cabana de folhas.

Pensou o macao, “Esta criatura, morando num lugar que abriga-se da chuva, me despreza. Não deixarei que ele descanse quieto neste ninho.” De acordo com isto, em sua ânsia em apanhar o Bodhisatva, pulou em cima dele. Mas o Bodhisatva voou para os ares e bateu asas para outro lugar. E o macaco, após bater e destruir o ninho, retirou-se.
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O Mestre, tendo terminado esta lição, identificou o Jataka :- “Naquele tempo o jovem que botou fogo na cabana era o macaco e eu mesmo era o pássaro singila.”






segunda-feira, 29 de junho de 2009

320 Ele poderia dar...etc.



320
“Ele poderia dar...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana com relação a um casal de fazendeiros. De acordo com a história eles foram a uma vila para resgatar uma dívida, e tomando um carro em satisfação do que lhes era devido, depositam na casa de uma certa família, pretendendo pegar depois. Enquanto na estrada para Savatthi viram uma montanha. A esposa pergunta ao marido,”Suponha que esta montanha se tornar-se toda de ouro, você me daria um pouco dele?”. Ele respondeu: “Quem é você?” “Não te daria nem um pedaço.” Ela chora dizendo: ”Ele é uma pessoa de coração duro. Apesar da montanha ser toda de ouro não me daria nem um pedaço.” E ela ficou muito triste.
Quando aproximaram-se de Jetavana, sentindo sede, entraram no monastério e tomaram um pouco d’água. Àurora, o Mestre vendo neles a capacidade de Salvação, sentou-se na cela de sua Câmara Perfumada, esperando chegarem e emitindo os seis raios coloridos de Buddhidade. E depois de aplacarem a sede, vieram até o Mestre, e o saudando com respeito, sentaram a seu lado. O Mestre, após saudações gentis usuais, pergunta a eles onde estiveram. “Estávamos, Reverendo Senhor, reivindicando uma dívida.” “Irmã Leiga,” disse, “espero que teu marido esteja ansioso pelo teu bem e pronto para te fazer uma gentileza.” “Reverendo Senhor,” ela respondeu, “eu amo ele mas ele não me ama. Ho-je quando fiz um pedido a ele, tendo contemplado uma montanha, 'Suponha que ela fosse de ouro puro, você me daria um pouco ?' ele respondeu, 'Quem és tu ? Não te daria nem uma pedaço.' De tão sem coração que é.” “Irmã Leiga,” disse o Mestre, “é jeito de falar. Quando contudo ele lembra das tuas virtudes, está pronto a te entregar o senhorio de tudo.” “Fale-nos sobre isto, Vossa Reverência,” eles gritaram, e ao seu pedido ele relatou esta lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmdatra reinava em Benares ( Varanasi ), o Bodhisatva era seu ministro, prestando-lhe todo tipo de serviço. Um dia o rei viu seu filho, que atuava como vice-rei, vindo lhe prestar reverência. Ele pensou consigo mesmo, “Este sujeito pode me fazer mal, se tiver uma oportunidade.” Então mandou chamá-lo e disse, “Enquanto eu viver não poderás morar nesta cidade. Viva em algum outro lugar e com a minha morte mantenha a legislação no reino.” Ele concordou com estas condições e dando adeus a seu pai, partiu de Benares com sua esposa principal. Chegando numa vila da fronteira, construiu para si uma cabana de folhas na floresta e lá permanecendo, tinha como suporte de vida, raízes e frutos. Logo logo o rei morreu. O jovem vice-rei, a partir de suas observações das estrelas, soube da morte do pai, e enquanto viajava para Benares, apareceu diante de seus olhos uma montanha. Sua esposa disse a ele, “Suponha, Senhor, que aquela montanha lá fosse de puro ouro, me darias um pouco dele ?” “Quem és tu ?” ele gritou, “Não te daria nem um átomo.” Ela pensou: “Por amor a ele entrei nesta floresta, sem coragem de abandoná-lo, e ele fala deste jeito comigo. Ele é muito sem coração e tornando-se rei, que bem me fará ?” E ela ficou triste de coração.
Alcançando Benares ele foi estabelecido no trono e elevou-a a dignidade de rainha principal. Ele meramente deu a ela um título de rank, posto, não prestaando respeito ou honra além desta, e nem mesmo reconhecendo sua existência. Pensou o Bodhisatva, “Esta rainha foi companheira do rei, descontando as dores, e morando com ele na floresta selvagem. Ele, contudo, não se dando conta disto, segue, tendo prazeres com outras mulheres. Mas farei com que ela receba o senhorio de tudo.” E com este pensamento ele foi um dia saudá-la e disse, “Senhora, não recebemos de ti nem mesmo um pouco de arroz. Por quê és tão sem coração e nos neglige assim ?” “Amigo,” ela respondeu, “se eu mesmo recebesse algo, daria a ti, mas se não ganho nada, o que darei ? O quê, prego, o rei já me deu ? Na estrada, quando questionado, 'Se aquela montanha lá fosse puro ouro, me darias um pouco ?' ele respondeu, 'Quem és tu ? Não daria nada.' “ “Bem, repetirias tudo isto diante do rei ?” ele perguntou. “Por quê não, amigo ?” ela respondeu. “Então quando estivermos na presença do rei,” ele disse, “te questionarei e você repetirá.” “Concordo amigo,” ela disse. Assim o Bodhisatva, quando ele permancia junto ao rei prestando reverência, questionou a rainha, dizendo, “Não receberemos, senhora, nada de tuas mãos ?” “Senhor,” ela respondeu, “quando eu ganhar alguma coisa, te darei um pouco. Mas, prego, o quê o rei me daria agora ? Quando voltávamos da floresta e avistamos uma montanha, perguntei a ele, 'Se aquela montanha fosse de puro ouro, me darias um pouco dele ?' 'Quem és tu ? Ele respondeu, 'Não te daria nada.' E com estas palavras ele recusou o que era fácil de dar.” Para ilustrar isto, ela repetiu a primeira estrofe :-

Ele poderia dar à pouco custo
O que não perderia, se escapasse.
Montanhas douradas concedi ;
Ele a tudo que pedi disse: “Não”.

O rei escutando isto pronunciou a segunda estrofe :-

Quando você pode dizer “sim, eu darei”,
Sem poder, nada promete.
Promessas quebradas são mentiras ;
Mentirosos são desprezados pelos sábios.

A rainha, quando escutou isto, elevando aos mãos juntas em saudação respeitosa, repetiu a terceira estrofe :-

Permanecendo na retidão,
Tu, ó príncipe, humildemente abençoamos.
Fortuna pode a tudo destruir ;
Verdade é ainda tua única alegria.

O Bodhisatva, ouvindo o louvor do rei pela rainha, estabelece as virtudes dela e repete a quarta estrofe :-

Conhecida em fama como esposa sem mácula,
Dividindo o bem e o mal da vida,
Igual a ti no mesmo fado,
Mesmo com reis, adequada para casar.

O Bodhisatva com estas palavras cantou os louvores da rainha, dizendo, “Esta senhora, sua majestade, nos tempos de tua adversidade, viveu contigo e partilhou de tuas dores na floresta. Deves honrá-la.” O rei, com estas palavras, lembrou-se das virtudes da rainha e disse, “Sábio Senhor, com tuas palavras me lembrei das virtudes da rainha,” e assim falando, transmitiu todo poder para as mãos dela. E também concedeu grande poder para o Bodhisatva. “Pois foi por ti,” ele disse, “que me lembrei das virtudes da rainha.”
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O Mestre, tendo terminado sua lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades, o marido e a esposa atingiram a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo este fazendeiro era o rei de Benares, esta irmã leiga era a rainha e eu mesmo era o sábio conselheiro.”

// jataka 223

quinta-feira, 25 de junho de 2009

319 Rahula Perdiz


319
“Vida feliz...etc.” - Esta foi uma história contada pelo Mestre enquanto vivia no Mosteiro de Badarika próximo a Kosambi, relativa ao ancião Rahula. A história introdutória já foi relata inteira no Jataka 16. Bem quando os Irmãos no Salão da Verdade louvavam o venerável Rahula e falavam dele como aficcionado à instrução, escrupuluso e paciente na censura, o Mestre entrou e escutando deles o tema da conversa disse, “Não apenas agora mas anteriormente também Rahula possuiu todas estas virtudes.” Então contou a eles uma lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu numa família brahmin. E quando cresceu, estudou todas as artes em Takkasilā (Taxila ), desistindo do mundo dedicou-se a vida ascética no Himalaia, e desenvolveu todas as Faculdades e Consecuções. Lá no prazer da meditação enstática habita num bosque agradável indo certa vez numa viagem a uma vila da fronteira em busca de sal e vinagre. O povo, vendo-o, tornou-se crente e construiu uma cabana de folhas na floresta, fornecendo os requisitos Budddhistas, uma casa para ele.

Nesta época um caçador de pássaros desta vila pegou uma perdiz de isca e colocando-a numa gaiola cuidadosamente a treinou, cuidado dela. Levando-a para floresta com seu grito de isca, todas as outras perdizes se aproximavam. E a perdiz pensou : “Por minha causa muitos do meu povo encontram a morte. Este é um ato mau meu.” Desde modo ficando quieta. Quando o patrão dela a encontrou quieta, bateu com um bambu na cabeça dela. A perdiz com a dor que sentiu soltou um grito. E o caçador de pássaros ganhava a vida fazendo outras perdizes de isca através dela. Então a perdiz pensou : “Bem, suponhamos que elas morram. Não há nenhuma intenção má da minha parte. As consequências más dos meus atos, me afetam ? Quando fico quieta, elas não vêm, mas quando grito, elas vêm. E tudo que vem este sujeito pega e mata. Há um ato mau de minha parte aí, ou não há ?” Daí em diante o único pensamento da perdiz é, “Quem verdadeiramente pode resolver minha dúvida ?” e procurava um tal sábio homem. Bem, um dia o caçador de pássaros apanhou muitas perdizes e com o cesto cheio delas, chegou no eremitério do Bodhisatva pedindo um gole d'água. E colocando a gaiola próxima ao Bodhisatva, bebeu um pouco d'água e deitou n'areia para descansar. A perdiz vendo que ele estava dormindo pensou, “Perguntarei a este asceta sobre a minha dúvida e se ele souber resolverá minha dificuldade.” E deitada em sua gaiola, repetiu a primeira estrofe na forma de uma pergunta :-

Vida feliz levo todo dia,
Comida abundante me sobra:
Ainda assim num caminho lamentável
Qual será meu futuro estado ?

O Bodhisatva resolvendo esta questão falou a segunda estrofe :-

Se não há mal em teu coração,
Pronto a agir com vilania,
Tendo tu uma parte passiva,
Não há culpa anexa a ti.

A perdiz ouvindo pronunciou a terceira estrofe :-

“Olhe! nosso parente!” : assim gritam,
E em bandos vêm me ver.
Sou culpado que eles morram ?
Por favor me resolva esta dúvida.

Ouvindo isto, o Bodhisatva falou a quarta estrofe :-

Se nenhum pecado esconde-se no coração,
Inocente será o ato .
Aquele que é parte passiva
Livre é contado de toda culpa.

Assim o Grande Ser consolou a perdiz. E através dele o pássaro livrou-se do remorso. Quando o caçador acordou, saudou o Bodhisatva tomou a gaiola e foi embora.
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O Mestre, tendo terminado esta lição,identificou o Jataka : “Naquele tempo Rahula era a perdiz e eu mesmo era o asceta.”



terça-feira, 23 de junho de 2009

318 Buddha Ladrão


318
“Era o alegre tempo...etc.” - Esta é uma história contada pelo Mestre em Jetavana, sobre um Irmão que foi tentado por pensar na esposa que deixara. - As circunstâncias que levaram à história serão dadas no Jataka 423 ( // também aos Jatakas 13, 191). - O Mestre dirigindo-se a este Irmão, disse, “Antes, certa vez, por causa dela, tiveste a cabeça cortada.” E então ele relatou uma lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma vila de Kasi na casa de um ladrão, sob o fado de ladrão. Crescendo ganhava a vida como ladrão, e sua fama espalhou-se no mundo como corajoso e forte como um elefante. E ninguém podia pegá-lo. Certo dia invadiu a casa de um rico mercador e levou muitos tesouros. O povo veio ao rei e disse: “Senhor, um poderoso ladrão está assaltando a cidade: prenda-o.” O rei ordenou o prefeito da cidade de prendê-lo. O prefeito espalhando pessoas aqui e lá consegue capturá-lo, ainda com o dinheiro, e manda relatar ao rei. O rei ordena ao prefeito que corte a cabeça do ladrão. Então o prefeito tendo seus braços amarrados fortemente com corda de flor de kanavera vermelha passando pelo pescoço e jogando pó de tijolo na sua cabeça, o açoitou em cada esquina da cidade que passava e então o levou para o lugar de execução ao som duro do tambor. As pessoas diziam: “Este ladrão voraz que roubou nossa cidade está preso,” e toda a cidade estava alvoroçada.
Nesta época vivia em Benares uma cortesã chamada Sāmā, cujo preço era mil peças de dinheiro. Ela era a favorita do rei e tinha uma corte de quinhentas mulheres. E enquanto ela estava na janela aberta do último andar do palácio, ela viu este ladrão sendo levado. Ele era belo e bom de ficar olhando, e elevava-se acima de todos os homens, glorioso e de aparência divina. E quando ela assim o viu passando, ficou apaixonada por ele e pensou consigo mesma,”Por qual artifício posso assegurar este homem como meu esposo ?”. “Deste jeito,” ela disse e enviou por uma empregada, mil dinheiros ao prefeito, e “Diga a ele,” ela falou, “que este ladrão é irmão de Sama e que ele não tem nenhum outro refúgio a não ser em Sama. Peça a ele que aceite o dinheiro e deixe o prisioneiro escapar.” A empregada fez como ela pediu. Mas o governador disse, “Este é um ladrão notório, não posso libertá-lo desse jeito. Mas se encontrar outro homem que o substitua, coloco o ladrão numa carruagem coberta e o envio para ti.” A empregada retornou relatando isto para a sua senhora.
Bem, naquela época um certo jovem mercador rico, que era apaixonado por Sama, a presenteava todo dia com mil dinheiros. E naquele mesmo dia ao crepúsculo seu amante veio como costumava, até a casa dela com o dinheiro. E Sama pegou o dinheiro e colocou-o no colo e sentou chorando. E quando questionada qual era a causa do sofrimento, ela disse, “Meu senhor, este ladrão é meu irmão, apesr de nunca ter vindo me ver, porque as pessoas dizem que minha profissão é vil : quando enviei mensagem ao prefeito ele me respondeu que se ele recebesse mil dinheiros, deixaria o prisioneiro livre. E agora não encontro ninguém que vá e leve este dinheiro ao prefeito.” O jovem devido ao amor que tinha por ela, disse, “Eu irei.” “Vá então,” ela disse, “e leve contigo o dinheiro que me trouxeste.” Assim ele pegou o dinheiro e foi até a casa do prefeito. O prefeito escondeu o jovem mercador em um lugar secreto e fez com que se levasse o ladrão em uma carruagem coberta para Sama. Então ele pensou, “Este ladrão é conhecido no país. Primeiro tem que anoitecer bem. Depois, quando todas as pessoas se retirarem para dormir, executarei o homem.” E assim, arranjando alguma desculpa para atrasar a execução, quando o povo já tinha se retirado para descansar, enviou o jovem mercador com uma larga escolta para o lugar da execução e cortando a cabeça dele com uma espada, impalou o corpo e retornou para a cidade.
Daí em diante Sama não aceitou mais nada de nenhum outro homem mas passava todo seu tempo, tendo prazer com seu ladrão apenas. Ocorreu um pensamento ao ladrão : “Se esta mulher se apaixonar por um outro qualquer, ela me mandará matar e terá prazer com este outro. Ela é muito traiçoeira com seus amigos. Não devo mais morar aqui mas apressar-me em fugir.” Quando saía, pensou, “Não irei de mãos vazias mas pegarei alguns dos ornamentos dela.” Então um dia ele disse a ela, “Minha querida, sempre ficamos dentro de casa como pássaros domesticados em uma gaiola. Vamos um dia nos divertir no jardim.” Ela logo consente e prepara todo tipo de comida, quente e fria, e ornamentando-se toda com todos os ornamentos, dirigiu-se para o jardim / parque, com ele sentado, em carruagem coberta. Enquanto ele se divertia com ela, pensou, “Agora é a hora de escapar.” Então numa amostra de afeição violenta por ela, entraram numa moita de kanavera e fingindo beijá-la, a espreme até que ela desmaia. Soltando-a ele a espolia de todos os seus ornamentos, embrulhando-os numa roupa dela e colocando o embrulho no ombro, pula o muro do jardim e foge.
Quando ela recobra a consciência, levantando-se pergunta sobre seu jovem senhor aos empregados. “Não sabemos, senhora.” “Ele pensa,” ela disse, “que morri e deve ter fugido assustado.” E ficando triste com o pensamento, volta para casa e diz, “Até que eu veja novamente meu querido senhor, não mais deitarei em cama suntuosa,” e ela deitava no chão. E a partir daquele dia não mais coloca roupas bonitas, nem come mais que uma refeição, nem coloca perfumes, guirlandas e coisas semelhantes. E resolvida a buscar e trazer de volta seu amado através de todos os meios possíveis, chama uma trupe de atores e dá a eles mil dinheiros. E eles perguntam, “Que faremos em troca disto, senhora ?” Ela diz, “Não há lugares que vocês não visitam. Vão então em cada arraial, vila e cidade, e reunindo turbas ao redor de vocês, cantem primeiro esta canção no meio do povo,” - ensinando aos atores a primeira estrofe, - “E se,” disse ela, “quando cantares esta canção, meu marido for um da multidão, ele falará com vocês. Então vocês devem falar a ele que estou muito bem e trazê-lo de volta com vocês. E se recusar vir, enviem-me uma mensagem.” E dando a eles o dinheiro das despesas de viagem, fez com que partissem. Eles começaram em Benares e reunindo o povo aqui e lá, por fim chegaram numa vila fronteiriça. Bem, o ladrão desde a sua fuga vivia aí. E os atores reunindo a multidão a redor deles, cantaram a primeira estrofe :-

Era o alegre tempo da primavera
Brilhante em cada flor de árvore e arbusto
Do desmaio despertada
Sāmā vive, e vive para ti.

O ladrão escutando, aproximou-se do ator e disse, “Tu dizes que Sāmā vive, mas eu não acredito.” E dirigindo-se a ele repetiu a segunda estrofe :-

Pode uma montanha ser balançada por ventos ferozes ?
Podem eles chacoalharem a firme terra ?
Contudo, viva ver a morta,
Maravilha mais estranha seria !

O ator escutando estas palavras pronunciou a terceira estrofe :

Sāmā certamente não está morta,
Nem com outro senhor casaria.
Jejuando de todos os pratos, a não ser um,
Ela te ama e a ti apenas.

O ladrão escutando isto diz, “Esteja ela viva ou morta, não a quero,” e com estas palavras ele repetiu a quarta estrofe :-

A imaginação de Sāmā vagabundeia
De confiança testada para amores mais leves :
Eu também a Sāmā trairia
Não fosse, eu iria.

Os atores voltaram e contaram a Sāmā o diálogo com ele. E ela, cheia de pesar, retornou a seu curso anterior de vida.
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O Mestre, quando sua lição estava terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka : Na conclusão das Verdades o Irmão de mente mundana atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo este Irmão era o filho do rico mercador, a esposa que ele deixou era Sama e eu mesmo era o ladrão.”

segunda-feira, 22 de junho de 2009

317 Chorem pelos vivos...etc.


317
“Chorem pelos vivos...etc.” - O Mestre enquanto residia em Jetavana contou esta velha história de um certo fazendeiro que morava em Savatthi.
Na morte de seu irmão, é dito, ficou tão tomado de dor que não comia nem se lavava, nem se perfumava mas em profunda aflição costumava ir ao cemitério ao amanhecer para chorar. O Mestre, cedo da manhã colocando os olhos no mundo e observando naquele homem a capacidade de atingir a fruição do Primeiro Caminho, pensou ,”Não há ninguém além de mim mesmo que possa, contando a ele o que aconteceu muito antes, aplacar sua tristeza e trazê-lo para a fruição do Primeiro Caminho. Devo ser seu Refúgio.” Assim no dia seguinte, retornando à tarde da sua ronda de coleta de ofertas, ele tomou um padre mais novo e foi a sua casa. Ouvindo da chegada do Mestre, o fazendeiro ordenou que um assento fosse preparado e ordenou que entrasse e saudou-o e sentou do seu lado. Respondendo ao Mestre, que lhe perguntou por que chorava ele disse que estava triste desde a morte do irmão. Disse o Mestre: “Todas as existências compostas são impermanentes, e o que é para ser quebrado é quebrado. Não deve-se fazer um problema disto. Sábios antigos, sabendo disto, não choraram, quando o irmão deles morreu.” E a seu pedido o Mestre relatou esta lenda do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva renasceu numa família de mercadores ricos, possuídora de oitenta crores ( oitocentos milhões ). Quando já estava crescido, seus pais morreram. E com a morte deles um irmão do Bodhisatva passa a administrar os bens da família. E o Bodhisatva vivia na dependência dele. Logo logo o irmão também morreu de uma doença fatal. E os parentes, amigos e companheiros juntos, atirando os braços para cima, choram e lamentam, ninguém sendo capaz de controlar seus sentimentos. Mas o Bodhisatva nem lamentava nem chorava. As pessoas diziam, “Vejam agora, apesar de seu irmão estar morto, ele nem mesmo faz uma cara de tristeza : é um sujeito de coração muito duro. Parece que desejava a morte do irmão, na esperança de gozar o dobro de fortuna.” Assim eles culpavam o Bodhisatva. Seus parentes também o reprovavam, dizendo, “Apesar de teu irmão estar morto, tu não derramas nem uma lágrima.” Escutando estas palavras, ele disse : “Na loucura insana de vocês, desconhecendo as Oito Condições Mundanas, choram e gritam, 'Ai ! Meu irmão está morto,' mas eu também e vocês idem, teremos que morrer. Por quê então não choram com o pensamento de tua própria morte ? Todas as coisas são transitórias e consequentemente nenhum único composto é capaz de permanecer em sua condição natural. Apesar de vocês, tolos loucos, em teu estado de ignorância, desconhecendo as Oito Condições Mundanas, chorarem e lamentarem, por quê deveria eu chorar ?” E assim falando repetiu estas estrofes :-

Chorem pelos vivos antes do que pelos mortos !
Todas as criaturas que assumem forma mortal,
Bestas de quatro patas, pássaros e serpentes cabeçudas,
Anjos e pessoas, todos os mesmos caminhos trilham.

Impotentes para agüentar o destino, rejubilam-se em morrer
Entre a triste vicissitude da benção e da dor,
Por quê vertendo lágrimas vãs devem as pessoas queixarem-se,
E mergulhadas em lástimas por um irmão suspirar ?

Pessoas versadas em fraude e em excessos envelhecem,
O tolo sem tutor, mesmo homens valentes poderosos,
Se conhecentes do mundo e ignorantes do certo,
Podem considerar a sabedoria mesma como tolice.

Deste modo o Bodhisatva ensinou a estas pessoas a Verdade e os libertou de todo sofrimento.
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O Mestre, após ter terminado sua exposição religiosa, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das verdades o fazendeiro atingiu a fruição do Primeiro caminho :- “Naquele tempo o sábio que por seu discurso religioso livrou o povo do sofrimento era eu mesmo.”

sexta-feira, 19 de junho de 2009

Ajanta : duas entradas de cavernas



Duas entradas de cavernas de Ajanta : clique na imagem para vê-la ampliada, está escrito o número da caverna : uma jujuba para quem identificar na visão panorâmica. Tudo esculpido por dentro da rocha, tirando o excesso e deixando o que em potência já existe na pedra viva. Como ontem rolou em Vila Isabel um monte de granito, vivas, acho que elas querem ser esculpidas assim por dentro.

316 Buddha Lebre, Ananda Ariranha,...




                    Borobudur, Indonesia, Buddha Lebre. 


316
“Sete peixes vermelhos...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto em Jetavana sobre o dom de todos os requisitos Buddhistas ( filtro, agulha, três hábitos, navalha, tigela, cinto) . Um certo proprietário em Savatthi, dizem, fez oferta de todos os requisitos para a Irmandade com Buddha à sua frente e levantando um pavilhão na sua porta, convidou toda a companhia dos sacerdotes com seu chefe Buddha, os sentou em assentos elegantes preparados para eles e ofereceu-lhes uma variedade de comida delicada e escolhida.”Venham a-manhã novamente” disse e os entreteve por uma semana, e no sétimo dia presenteou o Buddha, e os quinhentos sacerdotes sob ele, com todos os requisitos. No final da festa o Mestre, retornando o agradecimento, disse,”Irmão Leigo, estais certo em dar prazer e satisfação com caridade. Pois esta é a tradição de velhos sábios, que sacrificam sua vida por qualquer mendicante que encontram, e lhes dão até sua própria carne.” E à pedido do anfitrião conta esta lenda do mundo antigo.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio a vida como uma jovem Lebre que vivia na floresta. De um lado desta floresta estava o sopé da montanha, do outro lado um rio e no terceiro lado uma vila fronteiriça. A lebre tinha três amigos – um macaco, um chacal e uma ariranha. Estas quatro sábias criaturas viviam juntas e cada uma delas pegava seu alimento em área de caça própria, e pela tarde encontravam-se novamente. A lebre em sua sabedoria à guisa de advertência pregava a Verdade a seus três companheiros, ensinando que ofertas devem ser feitas, a lei moral observada, e dias santos guardados. Eles aceitaram estas advertências e cada um foi para sua própria parte da jângal.
Assim no curso do tempo, o Bodhisatva um dia observando o céu, e vendo a lua, soube que o dia seguinte seria de jejum, e dirigindo-se aos três companheiros falou, "A-manhã será dia de jejum. Que vocês três guardem os preceitos morais e observem o dia santo. Àquele que se atem a prática moral, ofertas trazem um grande prêmio. Portanto alimentem qualquer mendicante que venham até vocês dando-lhe comida de sua própria mesa.” Eles logo aceitaram e recolheram-se cada qual para sua própria moradia.
De manhã bem cedo, àurora, a ariranha saiu fora atrás de sua presa e desceu a uma praia do Ganges. Aconteceu de um pescador trazer para terra sete peixes vermelhos, enfileirando-os juntos em um vime, enterrando-os n'areia da praia do rio. Depois descendo a corrente em busca de mais peixe. A ariranha sentindo o cheiro dos peixes enterrados, cava até encontrá-los e pegando-os grita três vezes, “A quem pertence estes peixes ?”. Não identificando nenhum proprietário, ela segura o vime com os dentes e deixa os peixes na jângal onde habitava, com a intenção de comê-los no momento adequado. E então descansou, pensando quão virtuosa era ! O chacal também saiu em busca de alimento e encontrou numa cabana de mateiro vazia, dois espetos, um lagarto e um pote de iogurte. E depois de gritar bem alto três vezes, “A quem pertence estas coisas ?” e não encontrando proprietário, colocou no pescoço uma corda para levar o pote e mordendo os espetos e o lagarto com os dentes, trouxe-os e deixou-os em sua toca, pensando, “Na devida hora vou devorá-los,” e assim descansou refletindo como era virtuoso.
O Macaco também entrando num capão de árvores e reunindo um punhado de mangas, as deixa em sua parte da jângal, com a intenção de comê-las no momento devido e então descansa pensando como era virtuoso. Mas o Bodhisatva saindo no momento devido, com intenção de pastar grama kusa enquanto descansava na jângal, pensou, “É impossível para mim oferecer grama para mendicante que apareça, não tenho óleo nem arroz nem nada semelhante. Se qualquer mendicante aparecer terei que dar a ele minha própria carne para comer.” Com esta esplêndida amostra de virtude, o trono de mármore branco de Sakra manifestou sinais de calor. Sakra refletindo descobriu a causa e resolveu colocar esta lebre real em teste. Primeiro de tudo ele foi e apareceu disfarçado como um brahmin na morada da ariranha e questionado por quê lá estava, respondeu, “Sábio Senhor, se conseguir algo para comer, após guardar o jejum, realizaria todos meus deveres sacerdotais.” A ariranha respondeu, “Muito bem, te darei alguma comida,” e enquanto conversava com ele, repetiu a primeira estrofe :-

Sete peixes vermelhos trouxe para terra com a cheia do Ganges,
Ó brahmin, coma tua parte, prego, e fique na floresta.

O brahmin disse, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” Depois ele foi até o chacal e quando questionado por ele por quê estava lá, deu a mesma resposta. O chacal, também, prontamente prometeu-lhe alguma comida, e falando com ele repetiu a segunda estrofe :-

Um lagarto e um jarro de coalhada, alimento noturno do mateiro,
Dois espetos para tostar a carne toda, erradamente furtei :
Dou a ti o quê tenho : Ó brahmin, coma, prego,
Se condescendes a ficar um pouco conosco nesta mata.

Disse o brahmin, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” Então foi até o macaco e quando questionado por quê estava ali, respondeu justo como antes. O macaco prontamente ofereceu a ele alguma comida, e conversando pronunciou a terceira estrofe :-

Corrente fresca, manga madura e clareira agradável de verde mata,
É tudo teu para gozares, se puderes contente morar em senda de floresta.

Disse o brahmin, “Deixe estar até a-manhã. Verei isto logo logo.” E foi até a sábia lebre e sendo questionado por ela por quê lá estava, deu a mesma resposta. O Bodhisatva escutando o que ele queria ficou altamente deliciado e disse, “Brahmin, fizeste bem em vir aqui em busca de comida. No dia de ho-je te darei um dom que nunca ofertei antes mas não deves quebrar a lei moral tirando a vida de animal. Vá, amigo, e quando tiveres empilhado pedaços de madeira e acendido um fogo, vneha e me deixe saber e me sacrificarei atirando-me no meio das chamas e quando meu corpo estiver tostado, comerás minha carne e realizarás teus deveres sacerdotais.” E assim dirigindo-se a ele, pronunciou a quarta estrofe :-

Nem gergelim, nem feijão, nem arroz tenho como alimento para ofertar,
Mas entrego minha carne tostada no fogo, se viveres conosco.

Sakra ouvindo o que ela disse com seu poder miraculoso causa que apareça uma fogueira de carvão queimando e vai e fala para o Bodhisatva. Levantando da cama de grama e indo para o lugar, sacudiu-se três vezes para que se houvesse algum inseto em seu pelo escapasse da morte. Então oferecendo seu corpo inteiro como um dom gratuito atirou-se, e como um cisne real, pairando acima de uma moita de lótus, em ênstase de alegria ele caiu na fogueira de carvão em brasa. Mas as chamas não conseguiram nem atingir os poros dos pelos do corpo do Bodhisatva e foi como se entrasse numa região gelada. Então ele se dirigiu à Sakra nestas palavras: “Brahmin, o fogo que acendeste é gelado : falha em esquentar mesmo os poros dos pelos do meu corpo. Qual o significado disto ?” “Sábio senhor,” ele respondeu, “Não sou brahmin. Sou Sakra, vim para testar tua virtude.” O Bodhisatva disse, “Se não apenas você Sakra mas todos os habitantes do mundo testassem-me nesta matéria de ofertas, não encontrariam em mim nenhuma falta de vontade em ofertar,” e assim o Bodhisatva gritou um grito de exultação como um rugido de leão. Então disse Sakra ao Bodhisatva, “Ó sábia lebre, seja tua virtude conhecida por todo um éon.” E espremendo a montanha, com a essência assim extraída emboçou o signo da lebre na órbita da lua. E após depositar a lebre numa cama de grama kusa jovem , na mesma parte florestal da jângal, Sakra retornou para seu lugar no céu. E estas quatro criaturas habitaram felizes e em harmonia juntas, observando a lei moral e guardando os dias santos, até que partiram sendo tratados de acordo com seus atos.
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O Mestre, quando terminou esta lição, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o dono de casa que fez oferta de todos os requisitos Buddhistas, atingiu a fruição do Primeiro Caminho :- “Naquele tempo Ananda era a ariranha, Moggaallana era o chacal, Sariputra o macaco e eu mesmo era a sábia lebre.”

Jatakas 20 do macaco com as canas furadas e 35 da codorna que apaga o fogo, permanecem também por um éon como sinal. Aproximando éon de áion em grego, significaria que o sinal estaria fora do tempo, ex tempore, antes de significar qualquer quantidade hexadecimal. Para os gregos há o tempo e a eternidade (título do livro póstumo de Ananda Coomaraswamy, 'Time and eternity' que disserta justamente sobre esta diferença entre a qualidade e a quantidade do tempo). Kairós é o tempo quantitativamente falando, in-tempore ; áion (éon) o tempo eterno, ex-tempore, de qualidade diferente.

Osamu Tezuka em seu mangá 'Buddha' desenha e reproduz este jataka, tamanha sua importância.

quinta-feira, 18 de junho de 2009

Ajanta : caverna 17



Ajanta caverna 17 , cena de banheiro. A mulher está com um espelho na mão se olhando. É um exemplo de cores e de cena prosaica. Uma maravilha.

Ajanta : visão panorâmica


Visão panorâmica das vinte cavernas de Ajanta, sudoeste da Índia, grande centro de arte Buddhista posto que muitas das histórias dos Jatakas estão pintadas em suas cavernas. Pinturas coloridas como o Buddha e Ananda já postado mas pinturas de cenas comuns como no exemplo que colocaremos acima. Foram construídas, pintadas, durante o primeiro milênio e constituía centro espiritual mesmo. Clique na imagem para vê-la ampliada. Percebe-se a estrada acima na foto. São vinte cavernas.

quarta-feira, 17 de junho de 2009

Buddhas negros e apsara também


Ajanta caverna 17 . Acima, pintura de uma Apsara da varanda da entrada da direita. Abaixo, pintura de Buddhas e casais em frente. Os casais fazem as ofertas. Clique na imagem para vê-la ampliada. Uma vez que Vishnu mesmo, parte da Trindade Hindu, é representado com a pele de cor negra, a representação de Buddhas negros também.

315 Buddha e a veação


315
“Para alguém que pede...etc.” - Esta foi uma história contada pelo Mestre enquanto residia em Jetavana, em como o Ancião Sariputra arranjou comidas delicadas para aguns Irmãos doentes sob tratamento médico [remédio-alimento]. O fato é que alguns Irmãos naquela época em Jetavana, após tomarem óleo purgativo, necessitavam de comidas delicadas. Aqueles que os ajudavam na doença, foram a Savatthi buscar os alimentos e depois de terem saído na coleta de ofertas numa rua no quarteirão dos Cozinheiros, voltaram sem nada terem conseguido do que queriam. Tarde do dia, o Ancião saindo para colher suas ofertas na cidade, encontra com estes Irmãos e pergunta a eles por quê já voltavam. Eles falam o que acontece. Sariputra diz-lhes: “Venham comigo.” E voltaram àquela mesma rua naquele quarteirão. E o povo deu a ele uma medida cheia do alimento delicado. Os ajudantes trouxeram a comida para os Irmãos doentes e a dividiram. Um dia comentavam no Salão da Verdade como alguns ajudantes deixavam a cidade, incapazes de conseguir comida -remédio para seus mestres doentes, quando o Ancião os levou na sua coleta de ofertas numa rua no quarteirão dos Cozinheiros e os fez voltarem com abundantes alimentos. O Mestre entra e questiona o que estão conversando e sendo informado sobre o quê é, diz, “Não apenas agora, Irmãos, Sariputra unicamente consegue comida. Anteriormente também sábios com voz macia e conhecedores em como falar agradavelmente obtiveram o mesmo.” E então ele conta um conto de tempos antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu como filho de um rico mercador. Um dia um certo rastreador de cervos (caçador) conseguiu veação (venison, carne de veado) e enchendo sua carroça com a carne, retornava para a cidade com a intenção de vendê-la. Neste momento quatro filhos de ricos mercadores que viviam em Benares saíram fora da cidade e conversavam sentados em uma encruzilhada sobre o quê viram ou ouviram. Um destes jovens vendo o carro cheio de carne, se propôs a ir e conseguir um pedaço de veação com o caçador. Os outros disseram para ele ir e tentar. Deste modo ele foi até o rastreador e disse, “E aí, Seu, me dê um pedaço de carne.” O caçador respondeu, “Um homem que pede algo de outro deve falar com voz gentil : receberás um pedaço de carne de acordo com seu jeito de pedir.” E pronunciou a primeira estrofe :-

Para alguém que pede um favor, meu amigo, tua linguagem é chula no tom,
Tal linguagem merece uma parte tosca, em resposta, ofereço, pele e osso.

Então umdos amigos perguntou que linguagem ele havia usado ao pedir um pedaço de carne. “Eu disse, 'E aí, Seu !' ” ele respondeu. “Eu também,” disse òutro, “pedirei a ele.” Foi então até o caçador, rastreador, e disse, “E aí, mano velho, me dê um pedaço de veação.” O caçador respondeu, “Deves receber o pedaço que mereces, referente as palavras que falaste,” e repetiu a segunda estrofe :-

No nome de irmão existe um forte elo de ligação, unindo semelhantes um ao outro,
Como tua palavra gentil sugere, presente de osso e carne dou ao meu irmão.

E com estas palavras pegou e atirou para ele um pedaço de carne com osso da veação. Então um terceiro jovem perguntou com que palavras o último pediu pela carne. “Me dirigi a ele como irmão,” ele respondeu. “Então, eu também pedirei a ele,” ele disse. Foi em seguida até ao caçador e gritou, “Querido pai, me dê um pedaço de veação.” O caçador respondeu, “Receberás um pedaço de acordo com as palavras que falaste,” e repetiu a terceira estrofe :-

Com coração orgulhoso de pai movido piedosamente, escutando o grito de ‘querido pai’,
Respondo também a seu chamado amoroso, dando-te o coração do veado.

E com estas palavras ele pegou e deu a ele um saboroso pedaço de carne, com coração e tudo. Então o quarto dos jovens perguntou ao terceiro jovem, com quais palavras pedira a veação. “ah, eu o chamei 'Querido pai',” respondeu ele. “Então eu também pedirei um pedaço,” disse òutro e foi até o caçador e disse, “Meu amigo, me dê um pedaço de carne.” Disse o caçador, “De acordo com as palavras que falaste, receberás.” E repetiu a quarta estrofe :-

Um mundo sem amigos, aventuro-me a pensar, certamente é um deserto.
Neste título de amigo está implicado tudo que é querido, então te dou todo o veado.

E com isto disse, “Venha amigo, levarei toda esta carroça cheia de carne para tua casa.” Assim este filho de mercador teve a carroça levada até sua casa, e foi e descarregou a carne. E tratou o caçador com grande hospitalidade e respeito, e mandando chamar a esposa e e o filho dele o retirou desta ocupação cruel e o estabeleceu na sua mesma ocupação. E se tornaram amigos inseparáveis e por toda a vida viveram amigavelmente juntos.
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O Mestre tendo terminado sua lição identificou o Jataka : “Naquele tempo Sariputra era o caçador e eu mesmo o Filho do Mercador que recebeu toda a veação.”




terça-feira, 16 de junho de 2009

314 Buddha Asceta


         
                             Savatthi capital de Kosala

314
“Devida parte de riqueza...etc.” - Esta história o Mestre, contou enquanto residia em Jetavana, sobre o rei de Kosala (Pasenadi). Naqueles dias, dizem, o rei de Kosala uma noite ouviu gritos de quatro habitantes dos Ínferos – as sílabas de, si, na, lo, um grito para cada sílaba. Em existências prévias, a tradição diz, foram príncipes em Savatthi e culpados de adultério. Após errarem com as esposas dos vizinhos, não importando o quão bem guardadas estavam e indulgindo em suas tendências amorosas, suas vidas más foram cortadas curtas pela Roda da Morte, próximo à Savatthi. Vieram à vida novamente nos Quatro Caldeirões de Ferro. Após serem torturados por sessenta mil anos, chegaram em cima e vendo a borda da boca do Caldeirão, pensaram consigo mesmos, “Quando escaparemos desta miséria ?” E então todos os quatro gemiam em altos gritos, um após outro. O rei com o barulho ficou aterrorizado até a morte, e sentou na cama na cama esperando àurora incapaz de se mexer.
Àurora os brahmins vieram e a ele perguntaram sobre sua saúde. O rei responde, “Como, meus Professores, pode estar bem, quem haja escutado quatro tão terríveis gritos.” Os brahmins agitam as mãos [ N. do tr.: provavelmente para evitar mau presságio]. “O quê pode ser isto, meus Mestres ?” disse o rei. Os brahmins asseguram-no que o sons são agouro de grande violência. “Há remédio ou não ?” disse o rei. “Você pode dizer que não,” disseram os brahmins, “mas somos bem treinados nestas questões, Senhor.” “Por quais meios,” disse o rei, “vocês afastaram estes males ?” “Senhor,” eles responderam, “há um grande remédio em nosso poder e é oferecendo o sacrifício quádruplo de toda criatura viva que afastaremos este mal.” “Então sejam rápidos,” disse o rei, “e peguem quatro de toda criatura viva – pessoas, bois, cavalos, elefantes, descendo até as codornas e outros pássaros – e por este sacrifício quádruplo restaurem a paz à minha mente.” Os brahmins consentiram e tomando o que era necessário, cavaram um poço sacrifical e amarraram suas numerosas vítimas às estacas e ficaram altamente excitados com o pensamento de poderem comer esta carne toda e com as riquezas que ganhariam e iam e voltavam dizendo, “Senhor, devo ter tal e tal coisa.”
A rainha Mallikā vem e pergunta ao rei por quê os brahmins estão tão felizes e sorridentes. E o rei diz, “Minha rainha, o quê tens a ver com isto ? Estais intoxicada com tua própria glória e não sabes como sou infeliz.” “Que é isto, Senhor ?” ela respondeu.”Escutei gritos terríveis, minha rainha, e quando perguntei aos brahmins qual a causa de escutar tais gritos, eles me disseram que eu estava ameaçado de perigo no meu reino, na minha propriedade ou na minha vida mas ofertando o sacrifício quádruplo eles restaurariam a paz da minha mente, e agora em obediência à minha ordem, eles cavaram um poço sacrifical e buscam todas as vítimas necessárias”. A rainha Mallikā pergunta ao rei : “Meu senhor, já consultaste o brahmin chefe no mundo Deva sobre a origem destes gritos ?” “ Quem, senhora,” disse o rei, “é o chefe brahmin no mundo Deva ?” “O Grande Gautama,” ela responde, “o Supremo Buddha.” “Senhora,” ele disse, “não consultei o Supremo Buddha.” “Então vá,” ela respondeu, “e consulte-O.”
O rei escutou as palavras da rainha e após a refeição matinal, subiu em sua charrete de estado e dirigiu para Jetavana. Aí, após saudar o Mestre ele assim se dirigiu a ele : “Reverendo Senhor, à noite escuto quatro gritos e consultei os brahmins sobre isto. Eles se encarregam de restaurar a paz da minha mente pelo sacrifício quádruplo de todo tipo de vítima e estão ocupados agora preparando um poço sacrifical. Escutar estes gritos anunciam o quê para mim ?”
“Nada realmente,” disse o Mestre. “Certos seres no Inferno, devido àgonia que sofrem, gritam alto. Estes gritos,” ele continuou, “são escutados por você apenas. Reis antigos escutaram o mesmo. E eles também, após consultarem seus brahmins, estavam ansiosos em oferecer sacrifícios matando vítimas, escutando o quê sábios tinham para dizer, recusaram-se a fazer tal coisa. Os sábios explicaram a eles a natureza de tais gritos e pediram que soltasse a multidão de vítimas e assim restaurasse a paz da mente.” E ao pedido do rei ele contou uma história de dias idos.
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Certa vez qando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva nasceu em uma família brahmin, em uma certa cidade de Kasi. E quando em idade madura, renunciando os prazeres dos sentidos e abraçando a vida ascética desenvolveu poderes sobrenaturais da meditação mística e gozando das delícias da Contemplação habitava num bosque aprazível no Himalaia.
O rei de Benares neste tempo estava assustadoramente alarmado ao escutar estes quatro sons pronunciados por quatro seres que habitavam os Ínferos. E quando informado pelos brahmins exatamente do mesmo modo que um dos três perigos devia cair sobre ele, ele concordou com a proposta de dar um fim nisto através do sacrifício quádruplo. A família sacerdotal com a ajuda dos brahmins providenciou um poço sacrifical e uma grande multidão de vítimas foi trazida e amarrada nas estacas. Então o Bodhisatva, guiado pelo sentimento de caridade, contemplando o mundo com seu olho divino, quando viu o quê iria acontecer, disse, “Devo ir imediatamente e buscar o bem estar de todas estas criaturas.” E então com seu poder mágico flutuando nos ares, ele pousou no jardim do rei de Benares e sentou na laje de pedra real, semelhante à uma imagem dourada. O discípulo principal da família sacerdotal aproximou-se de seu professor e perguntou : “Não está escrito, Mestre, em nossos Vedas, que não há felicidade para aqueles que tiram a vida de qualquer criatura ?”. O sacerdote respondeu, “Você deve trazer para cá a propriedade real e teremos abundante comida gostosa para comer. Apenas permaneça quieto.” E com estas palavras ele manda o discípulo sair. Mas o jovem pensou, “Não terei parte nesta matança,” e foi e encontrou o Bodhisatva no jardim do rei. E após saudá-lo de maneira amigável, sentou-se a uma distância respeitosa. O Bodhisatva perguntou a ele, “Jovem, o rei legisla este reino com retidão ?” “Sim, Reverendo Senhor, ele legisla,” respondeu o jovem, “mas ele escuta quatro gritos à noite e ao questionar os brahmins, foi por eles assegurado que restaurariam a paz da mente dele oferecendo um sacrifício quádruplo. Assim o rei, estando ansioso em recuperar sua felicidade, está preparando um sacrifício de animais e um vasto número de vítimas foi trazida e amarrada em estacas sacrificais. Agora, não é certo santos como vós, explicar a causa destes barulhos e resgatar estasnumerosas vítimas das mandíbulas da morte ?” “Jovem,” ele respondeu, “o rei não nos conhece, nem nós conhecemos o rei, mas realmente sabemos a origem destes gritos e se o rei viesse e nos perguntasse a causa, esclareceríamos as dúvidas dele.” “Então,” disse o jovem, “apenas permaneça aí por um momento, Reverendo Senhor, e trarei o rei até ti.”
O Bodhisatva concordou e o jovem foi e contou ao rei tudo sobre e o trouxe até ele. O rei saudou o Bodhisatva e sentando em um lado perguntou a ele se era verdade que sabia a origem destes barulhos. “Sim, Sua Majestade,” ele disse. “Então diga-me, Reverendo Senhor.” “Senhor,” ele respondeu, “estes hoemns em existências anteriores foram culpados de grande má conduta com as cuidadosamente guardadas esposas de seus vizinhos próximos a Benares e daí re-nasceram nos Quatro Caldeirões de Ferro. Onde após serem torturados por trinta mil anos em um líquido grosso corrosivo aquecido em ponto de ebulição, afundavam até que atingir o fundo do caldeirão e depois elevavam-se até acima como espuma de bolha e após estes anos , encontram a borda do caldeirão e a buscando os quatro juntos desejavam falar as quatro estrofes completas, mas falhavam em fazer isto. E depois de pronunciarem apenas uma sílaba cada, afundam novamente nos caldeirões de ferro. Bem, um deles que afunda após pronunciar a sílaba 'de' estava ansioso de falar o seguinte :-

Devida parte de riqueza não demos ; levamos uma vida má :
Não encontramos salvação segura em alegrias que agora fugiram.

E quando falhou em falar isto, o Bodhisatva com seu conhecimento repetiu a estrofe completa. E de modo semelhante com o resto. O que pronunciou meramente a sílaba 'si' queria falar a seguinte estrofe :-

Sinistro destino daqueles que sofrem! Ah ! Quando virá a libertação?
Ainda depois de incontáveis eons, as torturas dos Ínferos não cessarão.

E novamente no caso daquele que pronunciou a sílaba 'na' esta era a estrofe que ele desejava falar :-

Não, sem fim são os sofrimentos dos condenados pelo destino;
Os males que fizemos na terra, cabe aqui expiarmos.

E aquele que pronunciou a sílaba 'lo' estava ansioso por falar o seguinte :-

Logo passaremos daqui, atingindo o nascimento humano,
E ricamente dotados de virtude levantaremos a muitos em atos de valor.

O Bodhisatva, após recitar estes versos um a um, disse, “Os habitantes dos Ínferos, Senhor, querem pronunciar uma estrofe completa mas por causa da grandeza de seus pecados, são incapazes disto. E quando assim experimentam o resultado de seu mau proceder, gritam alto. Mas nada tema ; nenhum perigo se aproxima de ti em consequência da escuta de tais gritos.” Assim ele tranquilizou o rei. Eo rei proclamou batendo o tambor dourado que a vasta hoste de vítimas seria liberta e o poço sacrifical destruído. E o Bodhisatva após deste modo assegurar o bem estar de numerosas vítimas, lá permaneceu por alguns dias e depois retornou para o mesmo lugar, sem nenhuma quebra em seu ênstase, nascendo no mundo de Brahma.
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O Mestre tendo terminado a lição, identificou o Jataka : “Sariputra naquele tempo era o jovem sacerdote e eu mesmo era o asceta.”

segunda-feira, 15 de junho de 2009

313 Buddha Kundara-kumara, o pregador da paciência



313
“Aquele que cortou...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana sobre um Irmão colérico. O incidente que deu origem à história, já foi relatado. O Mestre questionou aquele Irmão dizendo, “Por quê após tomar ordens sob a dispensa do Buddha que não conhece o quê seja ira, mostras raiva ? Sábios em dias idos, apesar de sofrerem mil chibatadas e terem as mãos e os pés e as orelhas e o nariz cortados, não mostraram raiva contra o outro.” E ele então contou uma história dos tempos antigos.
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Certa vez um rei de Kasi chamado Kalabu reinou em Benares. Naquele tempo o Bodhisatva veio à vida em uma família brahmin dotada com tesouro de oitenta 'crores' (oitocentos milhões), na forma de um jovem chamado Kundaka-kumara. E quando estava com idade, alcançou o conhecimento de todas as ciências em Takkasila (Taxila) e depois se estabeleceu como dono de casa.
Com a morte de seus pais, olhando para a pilha do seu tesouro, ele pensou : “Meus parentes que acumularam este tesouro, todos já foram sem levá-lo com eles : agora é a mim que ele pertence e minha vez de partir.” Então ele cuidadosamente selecionou as pessoas, que por virtude de suas ofertas o mereciam, e doou toda esta riqueza a elas, e entrando na região do Himālaia, adotou a vida ascética. Lá morou por um longo tempo, vivendo de frutos do campo. E descendo às partes habitadas devido à busca por sal e vinagre, ele gradualmente fez seu caminho para Benares, onde ficou residência no parque real. Dia seguinte seguiu em ronda à cidade em coleta de ofertas, até chegar à porta do comandante-em-chefe. E ele agraciado com o asceta pela propriedade de sua conduta, o trouxe para dentro da casa e o alimentou com a comida preparada para ele mesmo.E tendo ganho seu consentimento, conseguiu dele fixar moradia no parque real.
Bem, um dia este rei Kalabu estando inflamado de bebida forte foi ao parque em grande pompa, rodeado de uma companhia de dançarinas. Então espalhou uma esteira no assento de pedra real e colocou sua cabeça no colo da favorita do harém, enquanto as coreográficas dançarinas indianas habilidosas em músicas instrumental e vocal dançavam propiciando divertimento – tão grande era sua pompa, como de Sakra, Senhor do céu – E o rei dormiu. Então as mulheres disseram, “Aquele por quem fazemos música caiu no sono. Que necessidade há de cantarmos ?” E largando seus violões e outros instrumentos aqui e ali, dispersando-se no parque, foram tentadas pelas flores e arbustos carregados de frutas a se divertirem.
Neste momento o Bodhisatva estava sentado no jardim, como um elefante real no esplendor do seu vigor, ao pé de um Salgueiro florido, gozando a benção do afastamento do mundo. Então estas mulheres, vagando, o cercam e dizem, “Venham aqui, senhoras, sentemos e escutemos algo do sacerdote que descansa aos pés desta árvore, até que o rei acorde.” Elas foram então e saudando-o e sentando ao redor, falaram, “Fale algo que valha ser escutado.” O Bodhisatva então pregou a doutrina a elas.
Enquanto isto a favorita do rei com um movimento do seu corpo acordou o rei. E o rei acordando e não vendo as mulheres, perguntou, “Onde aquelas vilãs foram ?” “Sua Alteza,” ela disse, “elas foram passear e estão sentadas escutando um certo asceta.” O rei com raiva pegou sua espada e partiu rapidamente, falando, “Darei a este falso asceta uma lição.” Então as mulheres que eram as mais favorecidas, quando viram o rei vindo encolerizado, foram e tomaram a espada da mão dele e o pacificaram. Ele então permaneceu ao lado do Bodhisatva e perguntou, “Que doutrina pregas, Monge ?” “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “O quê é esta paciência ?” disse o rei. “Não irar-se quando alguém abusa ou bate em você ou insulta. ” Disse o rei, “Veremos a realidade da sua paciência,” e mandou chamar seu executor. E este no caminho do seu ofício toma um machado e um açoite com espinhos e vestido de amarelo e com guirlanda vermelha, vem e sauda o rei e diz, “O que queres, Senhor ?” “Pegue e arraste este tratande vil asceta,” disse o rei, “e atirando-o no chão, com seu chicote de espinhos, açoite-o atrás e na frente e em ambos os lados, e dê nele duas mil chibatadas.” Isto foi feito. E as peles do Bodhisatva por dentro e por fora foram cortadas na carne e o sangue fluía. O rei perguntou novamente, “Que doutrina pregas, Monge ?” “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “Imaginas que minha paciência está somente a flor da pele. Não está à flor da pele, mas está fixa profundamente dentro do coração, onde não pode ser vista por ti, Senhor.” Novamente o executor perguntou, “O que queres, Senhor ?” O rei disse, “Corte ambas as mãos deste falso asceta.” Então ele pegou o machado e colocando a vítima dentro de um círculo fatal, corte-lhe ambas as mãos. Disse depois o rei, “Corte os pés,” e os pés foram cortados. E o sangue fluia das extremidades das mãos e dos pés como sumo de um vaso furado. De novo o rei perguntou que doutrina ele pregava. “A doutrina da paciência, Sua Majestade,” ele respondeu. “Pensas que minha paciência está nas extremidades das minhas mãos e pés. Não está mas está assenta profundamente em outro lugar.” O rei disse, “Corte fora o nariz e as orelhas.” O executor fez isto. Todo o corpo dele estava agora coberto de sangue. Novamente o rei perguntou da doutrina. E o asceta disse, “Não pense que minha paciência está colocada nas pontas do meu nariz e orelhas : minha paciência situa-se profundamente dentro do meu coração.” O rei falou, “Descanse falso Monge e agora exalte sua paciência.” E assim falando, chutou o Bodhisatva acima do coração e saiu.
Quando ele estava saindo, o comandande-em-chefe limpou o sangue do corpo do Bodhisatva, colocando bandagens nas extremidades das mãos e dos pés, nariz e orelhas e então gentilmente colocando-o na cadeira, o saúda e sentando do lado diz, “Se, Reverendo Senhor, ficares com raiva de alguém que pecou contra ti, encolerizes com o rei, com ninguém mais.” E fazendo este pedido, repete a primeira estrofe :-

Aquele que cortou seu nariz e ouvidos e arrancou pés e mãos,
Com ele fiques irado, alma heróica, mas poupes, pedimos, esta terra.

Ouvindo isto o Bodhisatva pronunciou a segunda estrofe :-

Longa vida ao rei, cuja mão cruel desfigurou meu corpo,
Almas puras como a minha tais atos nunca olha com ira.

E justo quando o rei saía do parque e naquele momento mesmo em que saía da visão do Bodhisatva, a poderosa terra que tem 240.000 léguas de espessura, dividiu-se em duas, como uma forte roupa grossa e chamas saindo de Avici tomaram o rei, envolvendo-o como um manto de lã vermelha real. Assim o rei afundou na terra justo no portão do parque e foi para o grande Inferno de Avici. E o Bodhisatva morreu naquele mesmo dia. E os empregados do rei e os cidadãos vieram com perfumes e grinaldas e incensos nas mãos e realizaram as exéquias do Bodhisatva. E alguns disseram que o Bodhisatva foi direto para os Himalaias. Mas nisto dizem algo que não é.

Um santo antigo, como falaram as pessoas,
Mostrou grande coragem:
Aquele santo forte em agüentar o erro
O rei de Kāsi matou.

Ai ! A dívida do vão arrependimento
Aquele rei terá de pagar ;
Quando condenado a habitar no mais baixo Inferno,
O seu dia de arrependimento será longo.

Estas duas estrofes foram inspiradas por Perfeita Sabedoria.
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O Mestre sua lição terminada, revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão colérico atingiu a fruição do Segundo Caminho enquanto muitos outros atingiram a fruição do Primeiro caminho :- “Naquele tempo Devadatra era Kalabu rei de Kasi, Sariputra era o Comandante-em-Chefe e eu mesmo era o Asceta, Pregador da Paciência.”

sexta-feira, 12 de junho de 2009

312 Se a tola juventude...etc.



312
“Se a tola juventude...etc.” - Esta história o Mestre contou enquanto residia em Jetavana, sobre um Irmão de idade. Um jovem nobre de Savatthi, diz a tradição, com senso das consequências ruins dos desejos pecaminosos, recebeu ordenação das mãos do Mestre e devoto ao rito pelo qual ênstase pode ser induzido, em não muito tempo atingiu Santidade. Logo logo com a morte de sua mãe, ele admitiu o pai e o irmão mais novo às ordens e fixaram residência em Jetavana.
Com o começo da estação das chuvas, ao saberem de um retiro em vilarejo, onde roupas dos requisitos eram obtidas facilmente, todos os três foram para a residência Vassa [ n. do tr.: entrar em um retiro prescrito para a estação das chuvas, três meses, com todo o necessário para tal período. Mahavagga III, 14 ] lá, e quando a estação das chuvas terminou eles voltaram direto para Jetavana. O jovem Irmão,, quando chegaram em um lugar próximo a Jetavana, disse ao rapaz noviço que trouxesse o pai devagar, enquanto ele mesmo ia mais rápido na frente para preparar a cela deles. O velho sacerdote andava lentamente. O noviço repetidamente o empurrava, com a cabeça, e o arrastava a força, gritando, “Vamos, Senhor.” O ancião dizia, “Você está me empurrando contra minha vontade,” e girando de volta, começava tudo novamente desde o começo. Enquanto eles assim discutiam, o sol se pôs e a escuridão desceu. O jovem Irmão enquanto isto, varreu sua cabana, colocou água nos potes e não percebendo eles chegarem, pegou uma tocha e saiu a seu encontro. Quando os viu, perguntou o quê os fez se atrasarem tanto. O pai explicou a razão. Então os fez descansarem e os trouxe lentamente pelo caminho. Naquele dia não encontraram tempo para prestar respeitos ao Buddha. Então no dia seguinte, quando foram prestar respeitos ao Buddha, após saudá-lo e tomarem assentos, o Mestre perguntou, “Quando vocês chegaram ?” “Ontem, Senhor,” ele respondeu e contou a razão. O Mestre censurou o ancião : “Não apenas agora ele agiu assim. Antigamente também ele fez justo o mesmo. Hoje é você que ele aborrece. Antes ele aborreceu sábios.” E ao pedido do Irmão ele contou uma velha história.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio a vida em uma família brahmin numa vila no país Kasi. Quando estava crescido, sua mãe morreu. E após a performance devida dos ritos funerais, no final de seis semanas ele deu em ofertas todo o dinheiro que havia na casa e tomando o pai e o irmão mais novo consigo, colocou roupa de casca de árvore de algum outro e adotou vida religiosa de asceta na região do Himalaia. E lá morou em um bosque agradável, ganhando a vida catando nos campos e de raízes e frutos.
Bem, no Himalaia, durante a estação das chuvas, quando as chuvas são incessantes, como é impossível cavar qualquer bulbo ou raiz, ou conseguir qualquer fruto selvagem, e as folhas começam a cair, os ascetas, na maior parte, descem do Himalaia, e fixam residência nos antros humanos. E nesta época o Bodhisatva, após viver aqui com seu pai e seu jovem irmão, assim que a região do Himalaia começou a florir novamente e a carregar-se de frutos, tomou seus dois companheiros e retornou para o eremitério nos Himālaias. E ao crepúsculo quando não estava longe de sua cabana, os deixou dizendo, “Vocês venham lentamente, enquanto irei na frente para colocar a ermida em ordem.”
Bem o jovem eremita vindo lentamente com seu pai passou a empurrá-lo nos quadris com a cabeça. O pai disse, “Não gosto do modo como como me levas para casa.” E assim girou retornando, começando novamente do mesmo lugar. E enquanto discutiam baixou a escuridão. O Bodhisatva logo que já tinha varrido a cabana de folhas e preparado àgua, pegou uma tocha e retornou no caminho e quando os encontrou perguntou por quê demoraram tanto tempo. E o garoto asceta contou a ele o que o pai fizera. Mas o Bodhisatva trouxe-os calmamente para casa e tendo guardado em segurança todos os requisitos Buddhistas, deu um banho em seu pai, lavou e ungiu os pés dele e ensaboou as suas costas. Arrumou então uma 'panelada' de carvão e quando seu pai já havia se recuperado da fadiga, sentou-se junto dele e disse, “Pai, garotos jovens são justo como vasos de barro : quebram em um momento e uma vez quebrados, é impossível emendá-los novamente. Homens de idade devem suportá-los com paciência, quando eles são abusados.” E como conselho a seu pai Kassapa, repetiu estas estrofes :-

Se a tola juventude ofende em ato ou palavra,
É a parte da sabedoria mostrar longanimidade ;
Querelas entre homens bons encontram fim rápido,
Tolos separam-se em partes, como argila não temperada.

Homens sábios em aprender, conscientes do próprio pecado,
Podem provar àmizade, que não sofre decaimento ;
Assim é pesada de suportar a carga de um irmão,
E discórdia de vizinhos, habilidosa em apaziguar.

Assim o Bodhisatva aconselhou seu pai. E ele daí em diante exercitou o auto-controle.
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O Mestre, tendo terminado sua lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo o velho sacerdote era o pai eremita, o noviço era o garoto eremita e eu mesmo era o filho que aconselhou o pai.”

quinta-feira, 11 de junho de 2009

311 Buddha Espírito da árvore Nimb



                           Veluvana, Bosque de Bambu ou Bambual, Índia.

311
“Ladrão levantes...etc.” - O Mestre enquanto residia no Bosque de Bambu, contou esta história sobre o venerável Moggallāna .
Quando este Ancião vivia perto de Rājagaha em uma cabana na floresta, um certo ladrão, depois de assaltar uma casa no subúrbio, fugiu com as mãos cheias de pilhagem, até chegar ao átrio da cela do ancião, e pensando que lá encontrava-se a salvo, descansou, na entrada da cabana de folhas. O ancião notou-o, lá descansando, e suspeitando do seu caráter disse a si mesmo, “Seria errado para mim ter qualquer negócio com um ladrão.” E assim, saindo da cela, disse-lhe para não descansar lá e mandou-o embora.
O ladrão adiantou-se e fugiu rapidamente. E homens com tochas na mão, seguindo de perto o rastro do ladrão, vieram e viram as várias marcas da presença do ladrão e disseram, “Foi por este caminho que o ladrão veio. Aqui ele descansou. Ali ele sentou. E por ali ele fugiu. Ele não será encontrado aqui.” Então correram para lá e para cá mas por fim retornaram sem nada encontrar. No dia seguinte cedo de manhã, o ancião saiu em sua coleta de ofertas em Rājagaha e voltando de sua peregrinação foi ao Bosque de Bambu e contou ao Mestre o que tinha acontecido. O Mestre disse, “Você não é o único Moggallāna, a suspeitar quando suspeita é justificada. Sábios passado suspeitaram do mesmo modo.” E a pedido do ancião contou uma história de tempos antigos.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio à vida como espírito de uma árvore Nimb no bosque do cemitério desta cidade. Bem um dia um ladrão, culpado de um ato de roubo no arraial próximo da cidade, entrou no bosque do cemitério. Neste tempo duas velhas árvores estavam lá, uma árvore Nimb e uma árvore Bo. O ladrão colocou seus bens roubados nos pés da árvore Nimb e lá deitou. Bem, nesta epóca ladrões pegos eram torturados sendo impalados em estaca de árvore Nimb. Então o espírito da árvore Nimb pensou : “Se o povo vier e capturar este ladrão, eles cortarão um ramo e farão uma estaca de árvore Nimb e o impalarão nela. E neste caso àrvore será destruída. Então vou espantar o sujeito para longe.” Assim dirigindo-se a ele, ele repetiu a primeira estrofe :-

Ladrão levantes! por que dormes ? Não é tempo de cochilo,
Os homens do rei estão atrás de ti, vingadores do teu crime.

Além do mais adicionou estas palavras, “Parta antes que os homens do rei te apanhem.” Deste modo ele espantou o ladrão. E logo após ele ter fugido, a deidade da árvore Bo repetiu a segunda estrofe :-

E se este ladrão ousado de mãos vermelhas fosse pego,
A ti, Ó árvore Nimb, espírito da floresta , que diferença faria ?

A deidade da árvore Nimb escutando isto pronunciou a terceira estrofe :-

Ó árvore Bo, certamente não sabes o segredo do meu temor ;
Não queria que os homens do rei achassem aqui o mau ladrão.
Eles, da minha árvore sacra, sei, logo retirariam um ramo,
E para retribuir o infeliz culpado, impalariam-o na estaca.

Enquanto as deidades silvícolas assim conversavam juntas, os donos dos pertences , seguindo os rastros do ladrão, com tochas na mão, quando viram o lugar em que ele descansara, disseram, “ Vejam ! O ladrão acabou de levantar-se e fugir deste lugar. Ainda não o pegamos mas se o fizermos, voltaremos e o impalaremos aos pés desta árvore Nimb ou o enforcaremos em um de seus galhos.”
E com estas palavras correndo para cá e para lá e não encontrando o ladrão, eles partiram. E escutando o quê eles disseram o espírito da árvore Bo pronunciou a quarta estrofe :-

Acautele-se de um perigo ainda que despercebido: suspeite antes que seja tarde,
O sábio mesmo no mundo presente, olha para um estado futuro.
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O Mestre quando terminou esta lição, identificou o Jataka : “Naquele tempo Sariputra era o espírito da árvore Bo. Eu mesmo era o Espírito da árvore Nimb.”

quarta-feira, 10 de junho de 2009

Buddha e sua família, negros.


Ajanta , caverna 2. Acima, Buddha nos céus. Abaixo, a direita Mahamaya (mãe do Siddharta Gautama) reclinada contra um pilar ; a esquerda, Suddhodana (pai de Sidartha Gautama) e Mahamaya com o sábio Asita.
Ajanta é no sudoeste da Índia. E apesar da representação da família de Buddha como negra, dever ser comum, não o é. Rama, filho de Dasaratha, também era negro. Krishna o grande Deus também é representado negro. Depois postaremos imagens que confirmam isto. África Buddhista e Hinduísta também.
(Clique na imagem para vê-la ampliada)

310 Buddha Eremita


                                      Takkasilla, Taxila, Paquistão.

310
“Nenhum trono na terra...etc.” - O Mestre contou esta história enquanto residia em Jetavana , sobre um irmão relapso, que em suas rondas em Savatthi por ofertas viu uma bela mulher : e daí ficou descontente e perdeu todo prazer na Lei. Assim os Irmãos o trouxeram para diante do Abençoado. Bento disse, “É verdade, Irmão, o quê ouvi, que estais descontente?” Ele confessou que sim. O Mestre ouvindo a causa do descontentamento falou,” Por quê, Irmão, desejas o mundo, depois de tomar ordens em uma religião que leva à Salvação ? Sábios antigos quando a eles ofertada a dignidade de capelão real rejeitaram, e adotaram a vida ascética.” E contou a eles uma história dos tempos antigos.
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Certa vez quando Bramadatra reinava em Benares, o Buda foi concebido no útero da esposa brahmin do capelão real, e nasceu no mesmo dia que o filho do rei. Quando o rei perguntou a seus ministros se alguma criança nascera no mesmo dia que seu filho, eles disseram, “Sim, Senhor, o filho do sacerdote da família real.” Então o rei fez com que o trouxessem, fosse colocado a cargo de nutrizes e cuidado junto com o jovem príncipe. E ambos vestiam os mesmos ornamentos e comiam e bebiam exatamente as mesmas coisas. E quando estavam crescidos foram juntos estudar em Takkasilā (Taxila) e logo que atingiram proficiência em todas as ciências voltaram para casa.
O rei fez seu filho vice-rei e concedeu a ele grande honra. Naquele tempo o Bodhisatva comia, bebia e vivia com o príncipe e havia uma grande amizade entre eles. Logo, com a morte do pai, o jovem príncipe ascendeu ao trono e gozava de grande prosperidade. Pensou o Bodhisatva : “ Meu amigo agora governa o reino ; quando ele encontrar oportunidade, ele certamente me dará o ofício de capelão real. O quê eu tenho a ver com vida de pai de família ? Torna-me-ei asceta e me devotarei à solidão.”
Assim ele saudou seus pais e tendo pedido a permissão deles para tomar ordens, abriu mão de sua fortuna mundana e partindo totalmente sozinho entrou no país do Himalaia. Lá em um lugar encantador, ele construiu para si um eremitério e adotando a vida religiosa de um anacoreta ele desenvolveu todas as Faculdades e as Consecuções e vivia no gozo do prazer da vida mística.
Em determinado momento o rei lembrou dele e disse, “O que aconteceu com meu amigo ? Não o vejo em lugar algum.” Seus ministros contam que ele tomara ordens e vivia, eles souberam, em algum bosque aprazível. O rei perguntou o lugar da residência dele e disse a seu conselheiro chamado Sayha, “Vá e traga meu amigo de volta contigo. Farei dele meu capelão.” Sayha prontamente assentiu e partindo de Benares no curso de tempo devido alcançou uma vila na fronteira e fixando residência lá, foi com alguns mateiros até o lugar onde o Bodhisatva morava e o encontrou sentado como uma estátua dourada na porta da sua cabana. Após saudá-lo com os cumprimentos costumeiros, sentou a uma distância respeitosa e assim se dirigiu a ele : “Reverendo Senhor, o rei deseja teu retorno, estando ansioso em elevá-lo a dignidade de sacerdote da família real.” O Bodhisatva respondeu, “S'eu fosse receber não apenas o posto de capelão mas toda Kasi e Kosala e o reino da Índia e a glória de um Império Universal, ainda assim recusaria ir. Os sábios não tomam de volta os pecados que abandonaram, não tanto quanto não engolem a fleuma /flegma que já lançaram.” Assim falando ele repetiu estas estrofes :-

Nenhum trono na terra me tentará para me envergonhar,
Nenhum reino à beira mar, guardado profundamente ;
Amaldiçoo a luxúria da riqueza e da fama
Que condena o pobre ser humano a chorar em “Mundos de Sofrimento”.

Melhor pela terra um vagabundo sem lar a extraviar-se
E tigela na mão a pedir de porta em porta,
Do que como rei, presa de luxúrias pecaminosas,
Suportar lei tirânica e avexar o povo.

Assim o Bodhisatva apesar de novamente oportunado por ele, rejeitou a oferta. E Saya sendo incapaz de convencê-lo, saudou-o e retornou e contou ao rei a recusa dele em voltar.
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Quando o Mestre terminou sua lição, ele revelou as Verdades e identificou o Jataka :- Na conclusão das Verdades o Irmão relapso atingiu a fruição do Primeiro Caminho. Muitos outros também experienciaram fruições semelhantes de Conversão :- “Naquele tempo Ananda era o rei, Sariputra era Sayha e eu mesmo era o sacerdote da família.”

terça-feira, 9 de junho de 2009

309 Buddha Pariah


309
“Santo Professor...etc.” - O Mestre enquanto residia em Jetavana contou esta história sobre a Fraternidade dos Seis Sacerdotes. Está relatado em detalhe no Vinaya. Aqui temos um breve resumo.
O Mestre enviou os Seis Padres e perguntou se era verdade que eles ensinavam a lei de um assento mais baixo, enquanto seus pupilos de um assento mais alto. Eles confessaram que sim, e o Mestre reprovando estes irmãos por querer o respeito deles por sua lei, disse que sábios antigos tiveram que reprovar homens que ensinavam, mesmo doutrinas heréticas, de assento mais baixo. Então contou a eles uma história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Boddhisatva veio a vida como filho de mulher pariah, e quando cresceu tornou-se pai de família, dono de casa. A mulher grávida teve um grande desejo de comer manga e disse a seu marido, “Meu senhor, tenho desejo de comer mangas.”
“Minha querida,” ele disse, “não há mangas nesta estação, te trarei algum outro fruto ácido.”
“Meu senhor,” ela disse, “s'eu puder comer manga, viverei. Se não, morrerei.”
Apaixonado pela esposa, ele pensou, “Em que lugar deste mundo posso conseguir manga ?” Bem, naquela época havia manga no jardim do rei de Benares que tem fruta o ano inteiro. Então ele pensou, “Apanharei manga madura lá para aplacar os desejos dela.” E indo para o jardim à noite, ele trepa n'árvore e vai de galho em galho procurando fruto e assim atarefado, surge àurora e o dia começa. Ele pensa, “S'eu descer para ir embora agora, serei visto e pego como ladrão. Esperarei até que escureça. “ Então sobe até uma forquilha d'árvore e lá permanece, pendurado nela.
Bem, naquele tempo o rei de Benares aprendia os textos sagrados com o seu capelão. E chegando no jardim ele senta em um assento mais alto aos pés da mangueira e colocando seu professor em um assento mais baixo, dele recebe aulas. O Bodhisatva sentado acima deles pensou, “Como é mau este rei. Está aprendendo os textos sagrados sentado em assento alto. O brahmin também é igualmente ruim, sentando e ensinando de um assento mais baixo. Eu também sou mau pois caí em poder de uma mulher e contando minha vida como nada, estou aqui roubando manga.” Então segurando um galho desceu da árvore diante dos dois e disse, “Ó grande Rei, sou um homem perdido, tu um grande tolo e este padre é como um morto.” E sendo questionado pelo rei o que ele queria dizer com aquelas palavras, pronunciou a primeira estrofe :-

Santo Professor, Aluno Real, contemplem! vejo um ato de pecado,
Ambos caídos da graça, ambos transgridem a lei.

[ N. do tr.: A Glosa adiciona este verso: Fé verdadeira na terra prevalecia / Falsa doutrina surgiu depois.]

O brahmin, escutando isto, repetiu a segunda estrofe :-

Minha comida é arroz puro da montanha,
Com um leve tempero de carne,
Pois por quê deveria um pecador ater-se
A regra observada por santos, enquanto comem?

Escutando isto o Bodhisatva recitou duas estrofes mais :-

Brahmin, vá medir a largura e o comprimento da terra;
Contemple ! Sofrimento, se observa, é o lote comum.
Aqui estragada pelo pecado tua vida arruinada vale
Menos que fragmentos de um pote quebrado.
Acautele-se da ambição e domine a cobiça:
Vícios como estes levam aos “Mundos de Sofrimento”.”

O rei agraciado com a exposição da lei, perguntou a ele de que casta era. “Sou um pariah, meu senhor,” ele disse. “Amigo,” ele respondeu, “foste tu de uma família de alta casta, teria te feito rei único. Mas de agora em diante serei rei de dia e você será rei de noite.” E com estas palavras colocou no pescoço dele uma guirlanda de flores que o adornava e o fez protetor da cidade. Daí vem o costume dos prefeitos vestirem guirlandas de flores vermelhas no pescoço. E deste então o rei escutando seus conselhos prestou respeito ao professor e aprendia os textos sagrados de um assento mais baixo.
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O Mestre sua lição terminada, identificou o Jataka : “Naquele tempo Ananda era o rei e eu mesmo era o pariah.”

segunda-feira, 8 de junho de 2009

308 Buddha Pica-pau



         Imagem do sarcófago de Ravena como leão de boca aberta bem no meio.

308
“Gentileza tanta quanto...etc.” - Esta história foi contada pelo Mestre enquanto residia em Jetavana sobre a ingratidão de Devadatra.
Ele a terminou dizendo, “Não apenas agora mas em dias anteriores Devadatra mostrou ingratidão,” e com estas palavras ele contou um história do passado.
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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares, o Bodhisatva veio a vida como um pica-pau no país do Himalaia.
Bem, um certo leão, enquanto devorava sua presa, ficou com um osso espetado em sua garganta. Sua garganta inchou de modo que ele não podia comer nenhuma comida e ficou com dores agudas. Então este pica-pau, enquanto buscava sua própria comida, pousado em um galho, viu o leão e perguntou a ele, falando, “Amigo, o quê te aflige ?” Ele contou qual era o problema e o pássaro disse, “Eu tiraria o osso para fora da tua garganta, amigo, mas não ouso colocar minha cabeça denro da tua boca, temendo que me comas.”
“Nada temas, amigo ; não te comerei. Apenas salve minha vida.”
“Está certo,” disse o pássaro e ordenou ao leão que deitasse de lado. Então ele pensou : “Quem sabe o que este sujeito fará ?” E para prevenir que fechasse a boca, fixou uma vara entre a mandíbula superior e a inferior e então colocando sua cabeça dentro da boca do leão, quebrou a extremidade do osso com seu bico. O osso caiu e sumiu. Então o pica-pau retirou sua cabeça de dentro da boca do leão e com um golpe de seu bico quebrou a vara e saltando fora sentou no topo de um galho.
O leão recuperado de sua doença, um dia devorava um búfalo selvagem que ele matara. Pensou o pica-pau : “Agora vou colocá-lo em teste,” e pousando em um galho acima da cabeça do leão, passou a conversar com ele e pronunciou a primeira estrofe :-

Gentileza tanta quanto a que existe entre nós,
Para ti, meu senhor, certa vez mostramos:
Para nós desta vez, humildemente pedimos,
Conceda tu um dom insignificante.

Escutando isto o leão repetiu a segunda estrofe :-

Confiar tua cabeça numa boca de leão,
Uma criatura vermelha nas presas e nas garras
Ousar tal façanha e ainda viver,
É prova suficiente de minha boa vontade.

O pica-pau escutando isto pronunciou mais duas estrofes :-

Do egoísta ingrato não espere obter
A recompensa devida por serviço bem prestado;
De pensamento amargo e palavra irada, refrei ,
E rapidamente a presença do miserável, evite.

Com estas palavras o pica-pau voou para longe.
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O Mestre sua lição terminada, identificou o Jataka : “Naquele tempo Devadatra era o Leão e eu mesmo era o Pica-pau.”

[N. do tr.: Esopo Buddhista repete a história igualzinha com lobo no lugar do leão e garça no do pica-pau na famosa fábula número 224. A boca do leão aberta com uma vara entre as duas mandíbulas é uma imagem forte. Siddharta Gautama está vencendo a morte e a perseguição com que Devadatra ameaçou Sua vida. Segue texto de Ananda Coomaraswamy de seu livro “The door in the sky” pgs 27s sobre o assunto.

“Assim śarkara apropriadamente designa o svayamātrnnā mais alto, não só no seu sentido de “pedra,” mas também naquele de graha: a Porta do Sol é ou a Porta da Vida ou as Mandíbulas da Morte, tudo dependendo do entendimento do Sacrificante, que se pensa de si mesmo Tal-e-tal, “pensando ‘Ele é um, e eu outro,’ não é um Entendedor, mas como se ele fosse uma besta a ser sacrificada aos deuses” (BU I, 4, 10 ). Todas “passagens” (de um estado do ser para outro) são neste sentido “perigoso” ; e não pode haver dúvidas que o makara (= śimśumāra) colocado acima de corredores, e conhecidos em Java como kāla-makara (kāla, “Tempo,” sendo um dos bem conhecidos nomes da Morte) tem uma significado semelhante; cf. J. Scheftelowitz, Die Zeit als Schicksalsgottheit in der indischen und iranischen Religion, Stuttgart, 1929. A cabeça kāla-makara é chamada na Índia e no Ceilão, dos dois, “ face makara (makara vaktra )” e “mandíbulas do leão (simha-mukha ),” e é de se notar que no que é talvez a primeira referência a este motivo, Kh A 172, o siha-mukha é um ornamento lateral da nave do carro do rei,” evidentemente como no exemplo Chinês, B. Laufer, Jade (Chicago, 1912), pr. XVI, fig. I.
Um autor (extraviei a referência) descrevendo uma tumba Frígia do século segundo A.D. , remarca o leão representado nela “enquanto aparece ao arco do portão da cabana da porta da morte” e “como símbolo do poder do leão para quem pelo portão quiser passar.” Não será esquecido que Cristo, que disse de si mesmo que Eu sou a porta,” é o “Leão de Judá” assim como o “Sol dos Homens.”
A teoria da arte Indiana e universal assume protótipos angélicos como mimesis. O palácio do rei, por exemplo, reproduz as formas da cidade celestial. Uma notável ilustração disto, é dada pela fortaleza-palácio de Sihagiri no Ceilão, descrita como “difícil de ascender, para seres humanos (durārohan manussehi, Mhv XXXIX, 2; cf. o durohana de AB IV, 21 ).” Aqui Kassapa construiu uma “escada na forma de um leão (sihākārena ... nisseni-gehāni) ... e construiu um palácio real encantador e belo, como um segunda Ālakamanda (Cidade celestial, D. II, 147, 170) e habitou lá como Kuvera” (ibid., 3-5). A escada principal levava, de fato, através das mandíbulas de um leão colossal em tijolo e estuque, do qual a fortaleza toma seu nome e da qual pedaços ainda existem (Archaeological Survey of Ceylon, Annual Report, 2 vols., 1898, p.9, e Culavamsa, tr. Wilhelm Geiger e C. M. Rickmers, 2 vols., Oxford, 1929, 1930, p. 42, n.2 ). Uma assimilação do palácio-fortaleza com um protótipo divino e a ascenção em um Caminho celeste é manifestamente intencionado.
O lugar e a natureza de uma máscara de coroa de um makara torana (e.g., Coomaraswamy, História da Arte Indiana e Indonésia, 1927, fig. 225) são os mesmos: a torana funciona, realmente, como o nicho de uma imagem, mas ela chama-se torana porque o nicho é essencialmente um portal e para ser entendido como parte do aspecto frontal da deidade cuja imagem preenche o corredor. As costas da imagem ficam encobertas, e geralmente deixadas sem terminar e sem forma, relativamente, não sem razões que soam metafísicas. Não deve haver dúvida da similaridade entre este tipo de figura e as figuras radiantes de Cristo em Majestade (uma concepção complexa, geralmente conectada com a psicostasis e o Julgamento Final) estabelecida nos portais das catedrais Romanescas como se a dizer, “ninguém vem ao Pai a não ser por mim,” e ,”a não ser que você nasça novamente” ; tais são as figuras do Sol dos Homens, que separa os carneiros dos bodes na “encruzilhada dos caminhos.” A figura acima do portal prefigura a do Pantokrator que preenche o círculo do que é realmente o “olho” do domo ( “O domo central era caibro de uma carranca estupenda de Cristo Pantokrator, o juiz soberano,” Robert Byron e David Talbot Rice, em The Birth of Western Painting, London, 1930, p. 81; Vicent de Beauvais fala da ferocitas de Cristo ). O Caminho para o “olho” do domo é horizontal (tiryak) até que o altar, o umbigo [navel] da terrra, seja alcançado, e a partir daí ele é vertical (urddhvam); ou dizendo o mesmo em outras palavras, o caminho dentro da Igreja prefigura a entrada no Céu. Na arquitetura Muçulmana os mesmos princípios estão implicados pela abertura circular que, em muitos casos, se sobrepõem a nichos e entradas.
A bem conhecida “máscara de ogro” Chinesa, que aparece em muitos meios característicos nos primeiros bronzes Chineses, é certamente, formalmente relacionada a “face makara” da tradição Indiana. Devemos reconhecer que a relação é não somente de forma mas também de significado, e que a designação t’ao t’ieh, significando “glutão” (cf. Agni como grasisnu, kravyāt, etc., e textos tais como BU 1, 2, 1, tam jātam abhivyādadāt ), apesar de “máscara de ogro” ser dada pelos acadêmicos há bastante tempo, é dado mais apropriadamente (ver também nota 78). Uma interpretação similar pode ser dada dos monstros devoradores das empunhaduras de espadas Indonésias, que foram brilhantemente estudadas por R. Heine-Geldern; estes, contudo, não devem tanto se ligar, a lendas particulares, mas antes vê neles uma ilustração do princípio geral que está refletido em tais lendas. (...) A utilização da “cabeça da Morte” à empunhadura de uma arma é tão apropriado como o do simha-mukha e “t’ao t’ieh” ao cubo de uma roda, notado acima e na nota 77. A “cabeça da Morte,” seja leonina, aquilina, réptil, ou na forma de “glutão” , é a Face de Deus que faz os dois, “mata e faz viver.” Como Carl Hentze corretamente viu, “A exposição do T’ao-t’ieh une os símbolos da noite e obscuridade ... com os símbolos da luz e da renovação ... o T’ao-t’ieh é aquele demônio da obscuridade que deixa sair direto de si a luz e a vida,” assim combinando os caracteres lunar e solar (Frühchinesische Bronzen- und Kulturdarstellungen, Antuérpia, 1937, p. 85 ). Esta é unidade de Mitrāvarunau, Amor e Morte: “A Treva Divina é a Luz inacessível ... todos que entram são julgados dignos de conhecerem e verem a Deus” (Dionísio, Ep. ad Dor. Diac. ); “E a profundeza das trevas é tanta quanto a da habitação da luz; e elas não estão distantes uma da outra, mas juntas são uma a outra” (Jacob Boehme, Three Principles of the Divine Essence, tr. Jonh Sparrow, London, 1910, XIV, 76 ).
As mesmas relações podem ser estudadas no sarcófago de Ravena, em que o retângulo do Cosmos é sobreposto pela abóbada do Paraíso supra-solar, o Sol e a Face de Deus estando representadas pela máscara do leão (simha-mukha) colocada no centro do telhado dos mundos abaixo e base dos céus acima. Reconhecemos em ordem descendente Leão, Pomba, e Cruz, i.e., Sol, Espírito, Cristo – ou, em Sânscrito, Āditya,Vāyu, Agni. A Cruz está suportada em e ergue-se de um vaso (kumbha de RV VII, 33, 13) que, na medida que esta é especificamente uma representação do Batismo, significa o Jordão (como indicado por J. Strzygowski), mas também as Águas Inferiores impregnadas pela descida do raio, ou, em outras palavras, a Theotokos, Mãe Terra. Quanto mais detalhado nosso conhecimento de ontologia Védica e sua iconografia última, mais óbvios serão os paralelos. Aqui, em relação a Theotokos, podemos meramente aludir ao nascimento de Agni das Águas, que é também o do Profeta Vasishta na lótus = vaso = barco (da terra) (RV VII, 33, 11-12 e 88,4 ), e à freqüente representação iconográfica de Śri Laksmi pelo Vaso Transbordante (purna-kumbha, etc.) na primeira arte Indiana. Mais imediatamente pertinente a este estudo é o fato que a boca aberta do Leão é a Janua Coeli [Porta do Céu], o Auto-perfurado superior, do qual procede o Espírito; e a boca do vaso abaixo, o Auto-perfurado terrestre correspondente, o lugar de nascimento do Filho, que é ele mesmo o Leão e quem está lá para seguir-mos no seu retorno ao Pai através das mandíbulas do Leão. É, claro, o ponto de intercessão dos braços da Cruz que corresponde ao Auto-perfurado intermediário do altar Védico.” No mesmo livro o autor relaciona a imagem às aldravas das portas em que um aro é seguro pela boca do leão, dragão, ogro, lobo, etc.]