sábado, 5 de maio de 2012

444 Buddha asceta Dipayana Negro


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444
Sete dias...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana, sobre um certo irmão relapso. A ocasião será explicada no Jataka 531. Quando o Mestre perguntou se este relato era verdadeiro, ele disse, “Irmão, sábios em dias há muito idos, antes que o Buddha surgisse, mesmo homens que tinham entrado na vida religiosa não ortodoxa, por mais de cinquenta anos, andando em santidade sem se importar com isto, com escrúpulos de uma natureza sensível nunca contou a ninguém que foi relapso ; e por quê você que abraçou uma religião como a nossa que leva à salvação e estando em presença de um venerável Buddha que eu sou, por quê declaraste ser relapso diante dos quatro tipos de discípulos ? Por quê não preservaste teus escrúpulos ?” assim falando, ele contou um conto do mundo antigo.
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Certa vez, no reino de Vamsa, reinava em Kosambi ( no Ganges ) um rei chamado Kosambika. Naquele tempo havia dois brahmins em uma certa vila cada um possuindo oitocentos milhões e amigos caros um para o outro ; que, tendo percebido o engano que descansa na luxúria e distribuindo muitos bens em ofertas doadas, ambos abandonam o mundo e no meio de lamento e choro de muitas pessoas, partiram para o Himalaia e lá construíram um eremitério ( hermitage ). Lá por cinquenta anos viveram como ascetas alimentando-se de frutas e raízes da floresta onde tinham a chance de encontrar e colher ; mas entrar em ênstase eles eram incapazes de atingir. 

Depois que estes cinquenta anos passaram eles saíram em peregrinação através do país para conseguir sal e temperos e chegaram no reino de Kāsi. Em uma certa cidade deste reino vivia um dono de casa chamado Mandavya que tinha sido amigo laico no tempo de estudos do asceta Dipayana ( um dos ascetas). A este Mandavya vieram nossos dois amigos ; que quando os viu, arrebatado, construiu para eles uma cabana de folhas e proviu ambos com as quatro necessidades da vida. Três ou quatro estações eles moraram lá e depois despedindo-se dele foram em peregrinação para Benares, onde viveram em um cemitério cultivado de com árvores atimuttaka. Quando Dipayana já tinha ficado lá tanto o quanto quis, voltou a seu velho companheiro novamente ; Mandavya o outro asceta ( que tinha o mesmo nome do dono de casa ) permaneceu morando no mesmo lugar.

Aconteceu de um dia um ladrão que roubara a cidade retornava do ato cometido com uma quantidade de espólio. O proprietário e o vigias levantaram e gritaram “Ladrão!” e o ladrão, perseguido por estes, escapou pelo esgoto e correndo rapidamente pelo cemitério deixou cair um fardo na porta da cabana de folha do asceta. Quando os proprietários viram o fardo na porta eles gritaram, “Ah, você tratante! Ladrão de noite e de dia anda por ahi disfarçado de asceta !” Então, com tapas e socos, o carregaram para diante do rei.

O rei nem investigou mas disse apenas, “Saiam com ele daqui, empalem-no numa estaca !” Levaram-no para o cemitério e o levantaram numa estaca de madeira de acácia ; mas a estaca não machucaria o corpo do asceta. Então trouxeram uma estaca de árvore nimb mas esta também não o furaria : então uma estaca de ferro e nem esta mesmo furaria seu corpo. O asceta cogitava que ato no passado dele poderia ter causado isto e investigou o passado ; então surgiu nele o conhecimento das existências anteriores e com ele investigando o passado viu o quê tinha feito muito tempo atrás ; e era isto – furou uma mosca com uma lasca de ébano.

É dito que numa existência anterior ele foi filho de um carpinteiro. Uma vez ele foi no lugar onde seu pai estava serrando árvores e com uma lasca de ébano furou uma mosca como se empalando-a. E foi justamente este pecado que ele descobriu quando chegou naquele supremo momento. Ele percebeu que aqui então não havia como ficar livre do pecado ; então disse para os homens do rei, “Se vocês querem me empalar , peguem uma estaca de madeira de ébano.” Isto eles fizeram e o espetaram nela e deixaram um guarda para vigiá-lo e saíram.

Os vigias de um lugar escondido observavam todos que vinham para olhá-lo. Então Dipayana, pensando “Faz tempo desde que vi meu camarada asceta,” saiu para vê-lo ; e tendo escutado que ele estava pendurado por todo o dia empalado do lado da estrada, foi até ele e ficando em um dos lados, perguntou o quê ele tinha feito. “Nada,” cotejou ele. “Guardas rancor de alguém ou não ?” perguntou o outro. “Bom amigo,” disse ele, “nem contra aqueles que me prenderam nem contra o rei e não há qualquer rancor em minha mente.” - Se é assim a sombra de alguém tão virtuoso é um prazer para mim,” e com estas palavras sentou embaixo do lado da estaca. Então sobre seu corpo cae gotas de sangue coagulado do corpo de Mandavya ; e estas enquanto caíam sobre a pele dourada e lá secavam, tornavam-se pontos pretos sobre ele ; que deu a ele o nome de Kanha ou Dipayana Negro dahi em diante. E ele ficou sentado lá a noite toda.

Dia seguinte os vigias foram e contaram o acontecido ao rei. “Agi precipitadamente,” disse o rei ; e rapidamente correu para o lugar e perguntou a Dipayana o quê a fez sentar do lado da estaca. “Grande rei,” respondeu ele, “sento aqui para guardá-lo . Mas diga, o quê ele fez, ou o que deixou de fazer, que o trata assim ?” Ele explicou que o assunto não foi investigado. O outro respondeu, “Grande rei, um rei deve agir com circunspecção ; um leigo preguiçoso que ama o prazer não é bom etc ( cf. Jataka 276 ) e com conselhos tais, discursou para ele.

Quando o rei descobriu que Mandavya era inocente, ordenou que a estaca fosse retirada. Mas apesar de tentarem, não saiu. Disse Mandavya, “Senhor, recebi esta desgraça medonha devido a uma falta que aconteceu a muitos anos atrás e é impossível retirar a estaca do meu corpo. Mas se queres poupar a minha vida, traga um serrote e corte dela o pedaço de fora da pele.” Então o rei ordenou que se fizesse isto ; e a parte da estaca de dentro do corpo ficou lá. Pois naquela ocasião prévia dizem que ele pegou um pequeno pedaço de diamante e furou o duto da mosca, de modo que ela não morreu então não até o próprio fim de sua vida ; e dahi também o homem não morreu, dizem.

O rei saudou estes ascetas e suplicou por perdão ; e estabelecendo os dois em seu parque, cuidava deles lá. E a partir deste tempo Mandavya foi chamado Mandavya com a Estaca. E ele viveu neste lugar próximo ao rei ; e Dipayana após curar a ferida de seu amigo asceta voltou para seu amigo Mandavya o dono de casa. Quando eles o viram entrar na cabana de folhas, contaram para seu amigo. Quando ele escutou, ficou feliz ; e com a esposa e criança, pegando abundantes incensos, guirlandas, óleo, e açúcar e coisas semelhantes, foi até a cabana de follhas; saudando Dipayana , lavando e ungindo seus pés e dando a ele de beber, sentou escutando a história de Mandavya da Estaca. Seu filho então, um jovem chamado Yañña-datra, estava jogando com uma bola no fim do caminho coberto. Lá uma serpente vivia em um cupinzeiro A bola do moleque, jogada no chão, rolou por um buraco para dentro do cupinzeiro e caiu em cima da cobra. Sem saber disto, o menino colocou sua mão dentro do buraco. A cobra enraivecida picou a mão dele que caiu desmaiado devido à força do veneno da serpente. Por isto seus pais, encontrando seu filho picado de cobra, o levantaram e levaram para o asceta ; deitando-o aos pés do asceta, eles disseram, “Senhor, pessoas religiosas conhecem amostras e encantos ; por favor cure nosso filho.” - “Não conheço amostras ; e não exerço a medicina.” - “És um homem de religião. Tenha piedade, portanto, Senhor, deste menino e faça o Ato da Verdade.” “Bom,” disse o asceta, “um Ato da Verdade farei.” E colocando as mãos na cabeça de Yañña-datra, ele recitou a primeira estrofe :-

Sete dias sereno no coração
Puro vivi, desejando mérito
Desde então, por cinquenta anos apartado,
Auto-absorvido,declaro,
Aqui, relutante, vivo :
Possa esta verdade produzir uma benção :
Veneno rejeitado, o rapaz reviva !

Logo que feito este Ato de Verdade, para fora do peito de Yañña-datra saiu o veneno e mergulhou no solo. O rapaz abriu os olhos e com um olhar para seus pais, gritou, “Mãe !” e então virou e deitou quieto. Então Dipayana Negro disse para o pai,”Veja, usei o meu poder ; agora é sua tua vez de usar o teu.” Ele respondeu, “Então farei um Ato de Verdade” ; e colocando a mão no peito de seu filho, ele repetiu a segunda estrofe :

Se não ligava a mínima para presentes,
Entretendo todos que eventualmente se apresentavam
Ainda assim o sábio e bom não sabia
Estava meu verdadeiro self restringindo ;
Se relutante dou,
Possa esta verdade uma benção produzir,
Veneno rejeitado, o rapaz reviva !

Após a realização deste Ato de Verdade, para fora de suas costas saiu o veneno e afundou no chão. O rapaz sentou mas não conseguia ficar de pé. Então o pai disse para a mãe, “Senhora, usei o meu poder ; agora é contigo através de um ato de Verdade fazer nosso filho levantar e andar.” Ela disse, “Eu também tenho uma Verdade para falar mas na tua presença não posso falar.” “Senhora,” cotejou ele, “por qualquer e todos os meios faça meu filho inteiro.” Ela respondeu, “Muito bem,” e seu Ato da Verdade é dado na terceira estrofe :

A serpente que te picou ho-je
Naquele buraco, meu filho,
E este teu pai, são, digo,
Em minha indiferença, um :
Possa esta Verdade produzir benção :
Veneno rejeitado, o rapaz reviva !

Logo que feito este Ato de Verdade, então todo o veneno caiu e afundou no chão ; e Yañña-datra levantando-se com todo o corpo purgado do veneno, começou a brincar. Quando o filho tinha deste modo se levantado, Mandavya perguntou o que estava na mente de Dipayana com a quarta estrofe :

Deixam o mundo aqueles que são serenos, contidos,
A não ser Kanha, todos em ânimo nenhum relutante ;
O que te faz recolher, Dipayana, e por quê
Relutante andas no caminho da santidade ?

Para responder isto, o outro repetiu a quinta estrofe :

Deixar o mundo e depois novamente retornar ;
'Um idiota, um tolo !' pode assim se pensar :-
É isto que me faz recolher,
Assim ando santamente, apesar de desejo faltar,
A causa porque faço o bem é esta -
Louvada pelo sábio é a moradia da boa pessoa.
[ n. do tr. : ou neste último verso : 'Religião é o louvor do que é sábio e bom'. Recolher aqui no sentido de recollection, recolhimento. ]

Tendo assim explicado seu próprio pensamento, ele questionou Mandavya ainda novamente na sexta estrofe :

Esta tua casa era como um bar,
Comida e bebida armazenadas em suprimentos :
Sábios, viajantes, brahmins aqui
Sede e fome satisfazendo.
Temes algum escândalo, ainda
Dando apesar de contra tua vontade ?

Então Mandavya explicou seus pensamentos com a sétima estrofe :

Pai e avô foram santos,
Senhores de ofertas, ainda mais livres em dar ;
E eu sigo com todo cuidado
Nosso jeito ancestral de viver ;
Para não ser degenerado
Dou presentes relutantemente.

Após dizer isto, Mandavya, perguntou sua esposa uma questão nas palavras da oitava estrofe :

Quando uma jovem mulher, sem sentidos desenvolvidos,
Te trouxe da tua casa para ser minha esposa,
Tu não me disseste de tua indiferença,
Como sem amor viveste toda tua vida
E por quê, ó senhora de belos membros, ficaste
E viveste comigo deste jeito sem amor ?

E ela respondeu a ele repetindo a nona estrofe :

Não é costume nesta família
Uma esposa casada arranjar um novo companheiro,
Nem nunca será ; e este costume eu
Manterei, para não ser chamada degenerada.
Foi o medo de tal relato que me fez ficar
E viver contigo deste jeito sem amor.

Mas quando isto foi dito, um pensamento passou pela mente dela - “Meu segredo foi contado a meu marido, o segredo nunca contado antes ! Ele ficará irado comigo ; suplicarei perdão na presença deste asceta, nosso confessor.” E ele repetiu a décima estrofe :

Agora que falei o que não devia ser dito :
Pelo bem de nosso filho possa isto ser perdoado.
Nada há mais forte aqui que o amor dos pais ;
Nosso Yañña-datra vive, aquele que estava morto !

Levante-se senhora,” disse Mandavya, “te perdoo. De agora em diante não me trate mal ; nunca te magoarei.” E o Bodhisatva disse dirigindo-se a Mandavya, “Em acumular ganhos mal obtidos e em desacreditar que quando você dava liberalmente, o ato é a semente que traz fruto, nisto agiste errado. No futuro acredite no mérito dos presentes, das ofertas, e dê-lhos.” O outro prometeu isto e por sua vez disse ao Bodhistva, “Senhor, tu mesmo erraste em aceitar nossos dons enquanto andando no caminho da santidade contra tua vontade. Agora de modo a que teus atos possam produzir frutos abundantes, no futuro andes em santidade com coração tranquilo e puro, cheio de alegria enstática.” Então ele despediu-se do Grande Ser e partiu.

Daquele momento em diante a esposa passou a amar o marido ; Mandavya com coração tranquilo deu presentes com fé ; o Bodhisatva, largando a relutância, cultivou a Faculdade enstática e tornou-se destinado ao céu de Brahma.

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Este discurso terminado, o Mestre declarou as Verdades : (agora na conclusão das Verdades o relapso foi estabelecido no fruto do Primeiro Caminho : ) e identificou o Jataka : - “Naquele tempo Ananda era Mandavya, Visakha a esposa, Rahula o filho, Sariputra era Mandavya da Estaca e eu mesmo era o Dipayana Negro.”

 [ a história de Mandavya da estaca encontra-se no Mahabharata, Adi parva, seção CVII : o excesso de rigor com a punição ao rishi por ter matado a mosca resulta em maldição ao deus da justiça, dharma, que por isto, por este excesso, nasce servo, filho da empregada, no caso de  Vyasa, Krishna Dwaipayana, com a empregada apsara do rio Sayavati, nasce portanto Vidura que vimos há pouco em jataka anterior, irmão de Pandu e de Dhritarastra, personagens centrais do Mahabharata.  ]