terça-feira, 26 de junho de 2012

447 Siddharta e Suddhodana



447
Que costume é este...etc.” - Esta história o Mestre contou, após sua primeira visita ( como Buddha ) a Kapilapura , enquanto hospedava-se no Bosque Banian do seu pai, sobre a recusa do rei seu pai em acreditar.

Naquele tempo, dizem que o grande Rei Suddhodana , tendo dado ao Buddha uma refeição de mingau de arroz em sua própria residência à cabeça de vinte mil Irmãos, durante a refeição falando amigavelmente com ele, dizendo, “Senhor, quando no tempo de teu esforço, empenho, luta ( os seis anos de austeridades praticados pelo Buddha antes dele encontrar a paz de Buddhista ) vieram umas deidades até mim e pousadas nos ares disseram, “Teu filho, príncipe Siddharta, Siddhattha, morreu de fome.” E o Mestre respondeu, “Você acreditou neles grande Rei ?” - Senhor, não acreditei ! Mesmo quando as deidades vieram adejando, pairando, flutuando nos ares e me disseram isto, me recusei a acreditar dizendo que não havia morte para meu filho até que ele tenha obtido o estado de Buddha no pé d'árvore Bo.” Disse o Mestre, “Grande Rei, muito tempo atrás no tempo do grande Dhammapala mesmo quando um professor afamado disse – 'Teu filho é morto, estes são os ossos dele,' você recusou a  acreditar, respondendo, 'Em nossa família, nunca se morre cedo' ; então porque acreditarias agora ?” e com o pedido de seu pai, o Mestre contou um conto de muito tempo atrás.

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Certa vez quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia no reino de Kasi uma cidade chamada Dhammapala e ele tomou este nome devido a família de um Dhammapala que vivia lá. Guardando os Dez Caminhos da Virtude este brahmin era conhecido onde ele morava como Dharmapala ou o Guardador da Lei. Em sua residência até os empregados faziam ofertas, observavam a virtude e guardavam o dia santo.

Naquele tempo o Bodhisatva veio à vida naquela casa e deram a ele o nome de Príncipe Dhammapala ou o Guardador da Lei Júnior. Assim que ele atingiu idade seu pai deu a ele mil dinheiros e o enviou para estudar em Takkasilā ( Taxila ). Para lá ele foi e estudou com um professor afamado e tornou-se pupilo chefe em uma companhia de quinhentos jovens.
Justo então morre o filho mais velho do professor ; e o professor, cercado de seus pupilos no meio de sua parentela e amigos, chorando fez as exéquias do garoto no cemitério.

 Então o professor com sua companhia de parentela todos os seus pupilos foram chorando e se lamentando mas Dhammapala nem chorou nem se lamentou. Quando após tudo os quinhentos jovens retornaram do cemitério,eles sentaram na presença de seu professor e disseram, “Ah, um garoto tão bom, tão belo, criança ainda, ser cortado em idade tenra e separado de pai e mãe !” Dhammapala respondeu, “Tenro realmente, como dizes ! Bem, por quê ele morreu em idade pouca ? Não é certo que crianças de idade pouca morram.” Então disseram a ele, “Por quê senhor, não sabes que tais pessoas são mortais ?” - “Sei disto ; mas em tenros anos não morrem ; as pessoas morrem quando estão velhas.” - “Então não são todos os seres compostos transitórios e irreais ?” “Transitórios eles são é verdade ; mas nos dias da juventude as criaturas não morrem ; só quando ficam maduras e velhas é que morrem.” -”Oh, isto é costume entre tua família ?” -”Sim, este é costume em minha família.” Os garotos contaram esta conversa ao professor. Ele mandou chamar Dharmapala e perguntou a ele, “É verdade, Dharmapala, meu filho, que em tua família não morrem cedo ?” “Sim, professor,” disse ele, “é vero.”

Escutando isto, o professor pensou, “Que coisa maravilhosa que ele diz ! Farei uma viagem até o pai dele e o perguntarei sobre isto ; e ser for verdade, viverei de acordo com esta regra.”

Então quando acabou tudo que devia fazer para seu filho, após um lapso de sete ou oito dias chamou Dhammapala e disse, “Meu filho, estou saindo de casa ; enquanto eu estiver fora, você instrui estes meus pupilos.” Assim falando, ele arranjou ossos de cabra selvagem, lavou-os e ungiu-os e os colocou num saco ; então levando consigo um pequeno pagem, deixou Takkasilā ( Taxila ) e no devido tempo chegou naquela cidade. Lá perguntou como chegar a casa do Grande Dhammapala e parou na porta.

O primeiro empregado do brahmin que o viu, quem quer que fosse, tomou o parassol de sua mão e os sapatos e pegou o saco do empregado. Ele pediu que falassem ao pai do garoto que ali estava o professor de seu filho Dharmapala Júnior, em pé na porta. “Bom,” disseram os empregados e chamaram o pai para ele. Rapidamente ele veio à entrada e “Entre !” disse ele, mostrando o caminho para dentro da casa. Sentando o visitante num sofá, ele fez os deveres de hóspede lavando os pés dele e daí por diante.

Quando o professor já tinha se alimentado e eles sentaram para uma conversa amigável juntos, ele disse, “Brahmin, teu filho Dhammapala júnior, estando cheio de sabedoria e sendo um mestre perfeito dos Três Vedas e das Dezoito Consecuções por uma infeliz sorte perdeu sua vida. Todas as coisas compostas são transitórias ; não chore por ele !” O brahmin bateu palmas e riu sonoramente. “Por quê você ri, brahmin ?” perguntou o outro. “Porquê,” disse ele, “não é meu filho que está morto ; deve ser algum outro.” “Não brahmin,” foi a resposta, “teu filho está morto e nenhum outro. Olhe seus ossos e acredite.” Assim falando ele desembrulhou os ossos. “Estes são os ossos de teu filho,” disse ele. “ossos de uma cabra selvagem, talvez,” cotejou o outro, “ou de um cachorro ; mas meu filho não está morto. Em nossa família por sete gerações não há tal coisa como morte com pouca idade ; e você está falando mentira.” Então todos bateram palmas e riram sonoramente.

O professor quando observou esta coisa maravilhosa, ficou muito contente e disse, “Brahmin, este costume em sua descendência familiar não pode ser sem causa, que o jovem não morra. Por quê então que vocês não morrem cedo ?” E ele perguntou falando a primeira estrofe :

Que costume é este, ou que caminho santo,
De que gesto bom é este o fruto, prego ?
Diga-me, Ó Brahmin, qual a razão,
Por quê na descendência de vocês o jovem nunca morre – diga !

Então o brahmin, para explicar que virtudes têm o resultado que ninguém em sua família morre jovem, repetiu as seguintes estrofes :

Andamos em probidade, não falamos mentiras
De todos os pecados tolos e ruins mantemos distância,
Evitamos todas as coisas que são más,
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

Escutamos os atos do tolo e do sábio ;
O quê o tolo faz não consideramos ,
O sábio nós seguimos e os tolos evitamos ;
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

Em ofertas descansa antecipadamente nosso contentamento ;
Mesmo enquanto ofertando estamos bastante contentes ;
Não ter ofertado, então nos arrependemos :
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

Sacerdortes, brahmins, caminhantes, satisfazemos,
Mendicantes e suplicantes e todos que precisam,
Damos de beber e alimentamos o povo faminto :
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

Casados, por esposas dos outros não suspiramos,
Mas somos fiéis ao voto de casamento ;
E fiéis são nossas esposas, creio :
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

As crianças que destas esposas verdadeiras brotam
São abundantemente sábias, alimentadas de estudo,
Versadas nos Vedas e perfeitas em tudo ;
Com isto nenhum jovem entre nós morre.

Cada um tenta fazer o certo por amor ao céu :
Assim vive o pai, e assim vive a mãe,
Assim o filho e a filha, irmã e irmão :
Com isto nenhum jovem entre nós morre cedo.

Por amor ao céu nossos empregados também se consagram
Suas vidas para o bem, homens e donzelas todos,
Criados, servidores, o menor servo :
Com isto nenhum jovem entre nós morre cedo.

E finalmente, com estas duas estrofes ele declarou a bondade daqueles que andam em retidão :

Retidão salva aquele que a ela esta curvado;
Retidão bem praticada traz felicidade ;
Aqueles que praticam retamente esta dádiva são abençoados -
O probo não entra em punição.

A justiça salva o correto, como um retiro
Salva no tempo da chuva : o garoto ainda vive.
Bondade a Dhammapala dá segurança ;
Ossos de algum outro são estes que você transportou.

Escutando isto, o professor respondeu : “Uma viagem feliz esta minha viagem, frutífera, não sem resultados !” Então cheio de felicidade, ele pediu perdão a Dhammapala pai e adicionou, “Vim aqui e trouxe estes ossos de cabra selvagem com o propósito de testá-lo. Teu filho está bem e a salvo. Prego, me conceda tua regra para preservar a vida.” O outro então escreveu-a em uma folha ; e após permanecer naquele lugar por alguns dias, ele retornou para Takkasila ( Taxila ) e tendo instruído Dhammapala em todos os ramos das ciências e do conhecimento, o despachou com uma grande tropa de seguidores.
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Quando o Mestre tinha assim discursado para o Grande Rei Suddhodana, ele declarou as Verdades e identificou o Jataka : ( na conclusão das verdades o rei tornou-se estabelecido na fruição do Terceiro Caminho :) - “Naquele tempo, mãe e pai eram os parentes do Maharaja, o professor era Sariputra, o séquito era o séquito de Buddha e eu mesmo era o jovem Dhammapala.”

  

segunda-feira, 18 de junho de 2012

446 Buddha Menino


446
Não há bulbos aqui...etc.” - Esta história o Mestre contou em Jetavana sobre um leigo que amparava o pai.

Este homem, aprendemos, re-nasceu em uma família que passava necessidade. Após a morte da mãe, ele costumava levantar cedo de manhã e preparar os gravetos escovas de dentes e àgua para lavar a boca ; depois trabalhando por salário ou arando o campo, costumava procurar mingau de arroz e então alimentar seu pai de modo adequado a seu estado de vida. Disse seu pai a ele, “Meu filho, o que quer que deva ser feito dentro e fora de casa você faz sozinho. Deixe-me encontrar para você uma esposa e ela fará o trabalho de casa para você.” - “Pai,” disse ele, “se mulheres entrarem em casa elas não trarão paz a tua nem à minha mente. Por favor não sonhe com tal coisa ! Enquanto viveres te ampararei ; e quando faleceres, saberei o que fazer.”

Mas o pai chamou uma garota, muito contra a vontade de seu filho ; e ela cuidava do marido e do pai ; mas ela era uma criatura baixa. Bem, seu marido estava satisfeito com ela por cuidar do seu pai ; e o que quer que pudesse encontrar para agradá-la, ele trazia e dava para ela ; e ela mostrava para o sogro. Até que em determinado momento a mulher pensou, “O que quer que meu marido consegue, ele me dá e não passa nada para seu pai. Está claro que ele não liga o mínimo para ele. Devo encontrar um jeito de colocar em desacordo o velho com meu marido e assim colocá-lo para fora de casa.” Então a partir daí começou a esquentar ou esfriar muito àgua para ele e à comida salgava muito ou nada e o arroz ela servia ou muito duro ou papa ; e através deste tipo de coisa fez tudo para provocá-lo. Então, quando ele ficou irado, ela ralhou : “Quem pode cuidar de uma criatura velha desta !” disse ela e incitou a discórdia. E por todo o chão ela cuspia e provocava seu marido - “olha lá !” ela dizia, “o quê teu pai está fazendo ! Estou constantemente pedindo a ele para não fazer isto e ele só fica com raiva. Ou teu pai deixa esta casa ou eu !” O marido então respondeu, “Senhora, és jovem e podes viver onde quiseres ; mas meu pai é um senhor de idade. Se você não gosta dele podes deixar a casa.” Isto a amedrontou. Ela se jogou aos pés do velho e pediu perdão a ele, prometendo não fazer mais aquilo ; e passou a cuidar dele como antes.

O valoroso laico estava tão preocupado com as tagarelices dela que se omitiu de visitar o Mestre e escutar Seu discurso ; mas quando ela voltou a si, ele foi. O Mestre perguntou por quê ele não tinha ido escutar a pregação nestes sete ou oito dias. O homem relatou o quê aconteceu. “Desta vez,” disse o Mestre, “você recusou escutá-la e colocar teu pai para fora ; mas em tempos passados você fez o quê ela mandou ; você o levou para um cemitério e cavou para ele uma cova. Naquela hora quando você estava prestes a matá-lo, eu tinha sete anos de idade e falando sobre a bondade dos pais, evitei o parricídio. Naquele vez você me escutou e cuidaste de teu pai enquanto ele viveu e te tornaste destinado ao paraíso. Te avisei então e te aconselhei a não abandoná-lo quando chegasse em outra vida ; por causa disto você agora recusou fazer o quê a mulher te pediu e teu pai não foi assassinado.” Assim falando, com o pedido do leigo, ele contou uma história do passado.
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Certa vez, quando Brahmadatra reinava em Benares ( Varanasi ), havia em uma família de uma certa vila de Kasi um único filho chamado Vasitthaka. Este homem amparava seus pais e após a morte da mãe, cuidava do pai como descrito na introdução. Mas havia uma diferença. Quando a mulher disse, “Olha lá ! O quê teu pai está fazendo ! Estou constantemente pedindo a ele para não fazer isto, e ele só faz se irritar !” ela continuou, “Meu senhor, teu pai é feroz e violento, pois está sempre arranjando briga. Um velho decrépito como este, atormentado pela doença, está fadado a morrer logo ; não posso viver na mesma casa que ele. Ele falecerá por si só antes que passem muitos dias ; bem, leve-o a um cemitério, cave uma cova, jogue ele lá dentro e quebre a cabeça dele com a pá ; e quando estiver morto, ponha terra em cima e o deixe lá.” Por fim, à força desta repetição em seus ouvidos, ele disse, “Esposa, matar uma pessoa é assunto sério : como posso fazer isto ?” “Te direi um jeito,” cotejou ela. - “Diga então.” - “Bem, meu senhor, ao crepúsculo do dia, vá até o lugar em que teu pai dorme ; diga a ele bem alto, para que todos possam ouvir, que um devedor dele está em uma certa vila, que você foi até lá mas que ele não pagou e que se ele morrer o sujeito nunca pagaria nada ; e diga que vocês dois vão dirigir até lá juntos de manhã. Então no momento indicado, levante-se, coloque os animais no carro e o leve ao cemitério. Quando chegar lá, enterre-o numa cova, faça barulho como se tivesse sido roubado, machuque-se, lave a cabeça e retorne.” “Está bem, seguirei este plano,” disse Vasitthaka. Ele concordou com a proposta dela e aprontou o carro para a jornada.

Bem, o pai de família tinha um filho, garoto de sete anos mas sábio e inteligente. O garoto ouviu por acaso o quê sua mãe disse, “Minha mãe,” pensou ele, “é uma mulher ruim e está tentando persuadir papai a matar o vovô. Impedirei meu pai de cometer este assassinato.”
Ele correu rapidamente e deitou ao lado do avô. Vasitthaka, no tempo que a esposa sugeriu, preparou o carro. “Venha, pai, vamos saldar aquela dívida !” disse ele, e colocou seu pai no carro. Mas o menino entrou primeiro de todos. Vasitthaka não pode impedi-lo,e então o levou também ao cemitério com eles. Então, deixando seu pai e o filho juntos num lugar separado, com o carro, ele desceu, pegou a pá e a cesta, e em um lugar escondido deles começou a cavar um buraco quadrado. O menino desceu, o seguiu, e como se ignorasse o que acontecia, começou uma conversa repetindo a primeira estrofe :

Não há bulbos aqui, nem se encontram plantas para cozinhar
Nem erva dos gatos, nem qualquer outra vegetação para comer.
Então pai, por quê este buraco, sem necessidade alguma,
Penetrando no campo da Morte no meio da mata solitária ?

Então seu pai respondeu repetindo a segunda estrofe :

Teu avô, filho, está muito velho e fraco,
Oprimido pela dor de muitas doenças :
Vou enterrá-lo em uma cova ho-je ;
Com tal modo vida não posso deixá-lo ficar.

Escutando isto, o garoto respondeu repetindo meia estrofe:

Tu estás errado em desejar isto,
E tal ato, é gesto cruel.

Com estas palavras, ele pegou a pá das mãos de seu pai e a uma distância não muito grande começou a cavar outra cova.
Seu pai se aproximando perguntou por quê cavava aquele buraco ; ao que ele respondeu terminando a terceira estrofe :

Eu também, quando tu estiveres idoso, meu pai,
Te tratarei como tratas teu pai ;
Seguindo o costume da família
Fundo em um buraco também te enterrarei.

Com isto o pai respondeu falando a quarta estrofe :

Que palavras ásperas para um garoto dizer,
E censurar o pai deste modo !
E pensar que meu próprio filho ralha comigo,
E a seu amigo mais verdadeiro seja indelicado !

Quando o pai falou assim, o sábio menino recitou três estrofes, uma a guisa de resposta e as duas outras como hino santo :

Não sou áspero meu pai nem indelicado,
Não, te vejo com mente amigável :
Mas isto que fazes, este ato de pecado, teu filho
Não terá forças para desfazer, uma vez feito.

Quem quer que, Vasittha, machuque com intenção doente
Sua mãe ou seu pai, inocentes,
Ele, quando o corpo é dissolvido, estará
No ínfero pela próxima vida indubitavelmente.

Quem quer que com bebida e carne, Vasittha,
Sua mãe e seu pai alimente, também
Ele, quando o corpo for dissolvido, irá
Para o céu em sua próxima vida, indubitavelmente.

O pai, após escutar seu filho assim discursar, repetiu a oitava estrofe :

Vejo, que não és nenhum ingrato sem coração, filho,
Mas gentil comigo, Ó meu filho ;
Foi em obediência as palavras de tua mãe
Que pensei em fazer este gesto horrível, abominável.

Disse o rapaz quando escutou isto, “Pai, mulheres, quando um erro é cometido e elas não são censuradas, novamente cometem pecado. Deves dobrar minha mãe, para que ela nunca mais novamente faça um tal ato como este.” E ele repetiu a nona estrofe :

Esta esposa tua, dama de má condição,
Minha mãe, ela que me deu à luz – esta mesma,
Vamos expelir para longe de nossa residência,
Para que não obre dano em ti também.

Escutando estas palavras do sábio menino, satisfeito ficou Vasitthaka, e disse, “Vamos meu filho !” e sentou no carro com o pai e o filho.

Bem, a mulher também, esta pecadora, estava feliz no coração ; pois, pensava ela, aquele desgraçado estava fora da casa agora. Ela emplastou o lugar com estrume seco e cozinhou um pouco de mingau de arroz. Mas enquanto sentada vigiava a estrada pela qual eles voltariam, espreitou eles vindo. “Lá está ele, de volta com o velho desgraçado !” pensou ela, com muita raiva. “UUU, inútil !” gritou ela, “trazendo de volta o desgraçado que levaste contigo !” Vasitthaka não disse nenhuma palavra mas desatrelou o carro. Depois disse, “Miserável, o quê você falou ?” Ele bateu nela e a expulsou porta afora, mandando que ela nunca mais manchasse a porta dele novamente. Depois deu banho no pai e no filho e ele mesmo também se banhou e os três comeram mingau de arroz. A mulher má morou por alguns dia em outra casa.

Então o filho disse ao pai : “Pai, com tudo isto minha mãe ainda não entendeu. Bem, vamos tentar avexá-la. Você espalhe que em tal e tal vila vive uma sobrinha sua, que te ajudará com teu pai e teu filho ; e assim você irá e buscará ela. Então pegue flores e perfumes e entre no carro e dirija pelo campo o dia todo, retornando de noitinha.” E assim ele fez. As mulheres na vizinhança da família contaram à esposa ; -”Você ouviu,” disseram eles, “que teu marido foi pegar outra esposa em tal lugar ?” “Ah, então estou acabada !” cotejou ela, “e não sobrou nenhum lugar para mim !” Mas ela iria perguntar ao filho ; rapidamente ela veio até ele e caiu aos seus pés, chorando - “A não ser você não tenho nenhum outro refúgio ! De agora em diante cuidarei de teu pai e teu avô como cuidaria de um belo santuário ! Deixe-me voltar para casa !” “Sim mãe,” respondeu o garoto, “se você não fizer novamente o quê fizeste, deixarei ; alegre-se !” e quando o pai chegou falou a décima estrofe :

Aquela esposa tua, dama de má condição,
Minha mãe, que me deu a luz – aquela mesma -
Como uma aliá domesticada, em total controle,
Deixe-a retornar, aquela alma pecadora.

Assim falou ele para seu pai e então foi e chamou sua mãe. Ela, estando reconciliada com seu marido e seu sogro, daí em diante ficou comportada e dotada de retidão e cuidava do marido e do sogro e do filho ; estes dois, rigidamente seguindo os conselhos do filho, fizeram ofertas e obras boas e tornaram-se destinados a se juntar às hostes celestes.
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O Mestre, tendo terminado este discurso, declarou as Verdades : ( na conclusão das Verdades, o filho dedicado foi estabelecido na fruição do Primeiro Caminho : ) então identificou o Jataka :- “Naquele tempo, pai, filho e nora eram os mesmos que os de agora e o sábio menino era eu mesmo.”




     

quarta-feira, 13 de junho de 2012

[ n. do tr. : os dois pássaros, auspícios ]

E os dois pássaros no alto d'árvore ? São dois anjos n'árvore da vida já que em ambos os Jatakas, 284 e 445, são vistos como em sonho e em lugares sagrados : o alimento ingerido portanto é a própria doutrina com sua opção entre o alimento espiritual e o material conforme a fala do Buddha no 284 e a imagem do carro também. Segue trecho de um Upanishad - Mundaka Upanishad III,1

Nesta árvore perecível que é o corpo humano, habitam dois pássaros companhias um do outro. Um deles é dependente e controlado pelo outro. É a alma individual, a jiva, que estando cercada pelas limitações de avidya e pelos desejos, alimenta-se dos bons e maus frutos de suas ações. Mas o outro, Brahman, que em sua real natureza é onisciente, livre, e incontaminado, aparece como mera testemunha do que o outro faz e curte, sem ele mesmo fazer ou comer qualquer dos frutos. De fato, apenas seu testemunho torna-se um incentivo suficiente para o outro ser ativo, justo como a presença do rei apenas é suficiente para fazer os súditos ocuparem-se em seus trabalhos. “

Os dois pássaros são os mesmos sendo que um vive no mundo e outro não, um vale cem dinheiros e outro a unção real. A citação cristã que se aproxima é a do Evangelho de s. Mateus 13, 31 - “O reino dos céus é semelhante a um grão de mostarda que um homem tomou e semeou no seu campo. Embora seja a menor de todas as sementes, quando cresce é a maior das hortaliças e torna-se árvore a tal ponto que as aves do céu se abrigam nos seus ramos.”

A linguagem dos pássaros é a doutrina espiritual sabida, provada, experimentada, em banquete eucarístico : o Jataka guarda inclusive a imagem da semente plantada em solo bom. E o nome do Buddha então é nome de árvore, Niagrodha, árvore com raízes aéreas, celestes. A etimologia de auspícios é ave-spicere, espreitar as aves, o quê soma à interpretação dada e a carrega de significado simbólico ( cf. R. Guenón, Símbolos da Ciência Sagrada, Pensamento, SP. ).

445 Buddha asceta Nigrodha


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          Veluvana / Bosque de Bambus, Índia


445
Quem é este homem...etc.” - Esta história o Mestre contou no Bosque de Bambus sobre Devadatra. Um dia os Irmãos disseram a ele, “Amigo Devadatra, o Mestre te ajudou muito ! Do Mestre, você recebeu suas Ordens, menores e maiores ; você aprendeu as Três Cestas, a voz do Buddha ; você fez com que se levantasse o Ênstase dentro de ti ; a glória e o ganho de Dasabala ( Buddha, “aquele que possui os dez poderes” ) pertence a você.” Com isto ele segurou uma folha de grama, com as palavras, “Não vejo nenhum bem que o asceta Gotama me fez, nem mesmo este tanto !” Eles discutiam isto no Salão da Verdade. Quando o Mestre entrou, perguntou sobre o quê discutiam sentados juntos. Eles disseram. Ele falou, “Irmãos, esta não é a primeira vez mas há muito tempo atrás como agora, Devadatra foi ingrato e traiçoeiro com os amigos.” E ele contou um conto dos dias antigos.

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Certa vez um grande monarca chamado Magadha reinava em Rajagaha. E um mercador desta cidade trouxe para casa, para ser esposa do seu filho, uma filha de mercador de certo país. Mas ela era estéril. Com o passar do tempo menos respeito era prestado a ela por causa disto ; todos falavam para que ela escutasse, assim : “Enquanto há uma esposa estéril na casa de nosso filho, como poderá a linhagem da família ser mantida ?” Como este falatório ficava entrando no ouvido dela, ela disse para si mesma, “Então está bem, vou fingir estar grávida e enganá-los.” E assim ela perguntou a uma boa e antiga ama dela “O quê as mulheres fazem quando estão com criança ?” e sendo instruída no que fazer para preservar o bebê, escondeu quando menstruava ; mostrou desejos por gostos estranhos e amargos ; no tempo em que os braços e as pernas começavam a inchar, ela fez com que se lhe batesse as mãos, os pés e as costas até que crescessem ; todo dia ela fazia bandagem ao redor do seu corpo com trapos e roupas para parecer maior ; enegreceu os bicos dos peitos ; e além daquela ama não deixou ninguém estar presente em seu banheiro. Seu marido também dedicou a ela as atenções próprias do seu estado. Depois de nove meses passados deste jeito, ela declarou ser seu desejo retornar para casa e dar à luz na residência de seu pai. Então despedindo-se dos pais de seu marido, ela montou numa carruagem e com um largo número de ajudantes deixou Rajagaha atrás dela e pegou a estrada.

Bem, viajando na frente dela estava uma caravana ; e ela sempre no horário do café da manhã aproximava-se do lugar onde a caravana tinha acabado de estar. E uma noite, uma pobre mulher deu à luz um filho debaixo de uma árvore banian ; e considerando que sem a caravana ela não poderia seguir mas que se ela vivesse poderia encontrar a criança, o cobriu como estava e o deixou deitado lá, aos pés da árvore banian. E a deidade d'árvore tomou conta dele ; não era uma criança qualquer mas o Bodhisatva mesmo que veio ao mundo daquela forma.

Na hora do café da manhã os outros viajantes chegaram no lugar. A mulher, com sua empregada, separando-separa debaixo da sombra d'árvore banian para fazer suas necessidades, viu um bebê de cor dourada deitado lá. Logo ela grita para a empregada que o objetivo delas foi alcançado ; desata as ataduras das coxas ; e declara que o bebê era dela mesma e que acabou de pari-lo.

Os empregados imediatamente levantam uma tenda para protegê-la e altamente felizes mandam uma carta de volta a Rajagaha. Os pais do marido dela escrevem em resposta que como o bebê nasceu, não há mais necessidade dela ir para a casa dos pais; que ela retornasse. Assim para Rajagaha ela voltou imediatamente. E eles conheceram o bebê : e quando o bebê veio a ser nomeado, o chamaram com o nome do lugar onde nasceu, Nigrodha-Kumara, ou Mestre Banian. Naquele mesmo dia, a nora de um mercador, em seu caminho para a casa dos pais para parir, deu à luz um filho debaixo dos ramos de uma árvore ; e a ele eles chamaram Sakha-Kumara, Mestre Galho. E no mesmo dia, a esposa de um alfaiate empregado deste mercador deu à luz um filho no meio dos pedaços de tecidos dele ; e ele foi chamado Pottika, ou Mexedor de roupa.

O grande mercador mandou chamar estas duas crianças, que nasceram no mesmo dia de Mestre Banian e os criou junto com ele.

Eles cresceram juntos e logo foram para Takkasila ( Taxila ) para completar sua educação. Ambos os filhos dos mercadores tinham dois mil dinheiros ( peças ) para dar ao professor deles como pagamento ; Mestre Banian proviu Pottika de educação debaixo de sua proteção.

Quando a educação deles estava terminada, eles despediram-se de seu professor e o deixaram, com a intenção de aprender os costumes do povo do campo ; e viajando de um lugar para outro, com o tempo chegaram em Benares e deitaram para descansar em um templo. Era o sétimo dia desde que o rei de Benares morrera. Foi feita proclamação pela cidade através do toque do tambor, que de manhã o carro de festa estaria preparado. Os três camaradas estavam deitados debaixo d'árvore dormindo, quando àurora Pottika acordou e sentando-se começou a massagear os pés de Banian. Alguns galos estavam empoleirados nesta árvore e o galo no topo cagou no galo de baixo ( cf. Jataka 284 em que também acontece esta cena ). “O que é isto que caiu em mim ?” perguntou este galo. “Não fique irado, senhor,” respondeu o outro,”foi sem querer.” “Ah, então você pensa que meu corpo é um lugar para seus dejetos ! Você não conhece minha importância, isto está claro !” A isto o outro disse, “Oh, ainda com raiva apesar d'eu dizer que foi sem querer ! E qual é a sua importância, prego ?” - “Quem quer que me mate e coma minha carne receberá mil peças de dinheiros ainda nesta manhã ! Não é algo de que se orgulhar ?” “Bah,” cotejou o outro, “orgulho de algo tão pequeno como isto ! Pois, se alguém me mata e come minha gordura, tornar-se-á rei ainda nesta manhã; aquele que comer minha carne do meio, torna-se comandante-chefe ; e aquele que comer a carne ao redor dos ossos, será tesoureiro !”
Pottika escutou tudo isto. “Mil dinheiros-” pensou ele, “O que é isto ? Melhor ser rei !” Então mansamente subindo n'árvore, ele pegou o galo que empoleirava-se no topo e o matou e o cozinhou em brasas ; a gordura deu a Banian, a carne do meio para Galho e ele mesmo comeu a carne que estava junto aos ossos. Quando eles já tinham comido, disse, “Banian, Senhor, ho-je serás rei ; Galho, Senhor, serás comandante-chefe ; e quanto a mim, sou o tesoureiro !” eles perguntaram como sabia ; ele contou a eles.

Então ao redor da hora do almoço, entraram na cidade de Benares. Na casa de um certo brahmin eles receberam uma refeição de mingau de arroz com ghee e açúcar ; e depois saindo da cidade entraram no parque real.

Banian deitou em uma laje pedra, os outros dois deitaram do lado dele. Então aconteceu que naquele momento estavam justamente enviando a carruagem cerimonial com os cinco símbolos da realeza nela ( espada, parassol, diadema, sandálias e leque )( os detalhes disto serão dados no Jataka 539 sobre o grande Janaka ; deste carro se fala na postagem anterior : Parasara e o carro dos sentidos ). O carro andando e parando, permaneceu pronto para eles entrarem. “Algum ser de grande mérito deve estar presente aqui !” pensou o capelão consigo mesmo. Ele entrou no parque e espreitou o jovem ; e então removendo a coberta de seus pés examinou as marcas sobre eles. “Pois,” disse ele, “ele está destinado a ser Rei de toda a Índia, que seja apenas de Benares !” e ele ordenou que todos os gongos e címbalos fossem tocados.

Banian despertando retirou a coberta de seu rosto e viu uma multidão reunida ao redor dele ! Ele vira e por um momento ou dois fica deitado ; então levanta e senta com as pernas cruzadas. O capelão dobra um joelho dizendo “Divino ser, o reino é teu !” “Assim seja,” disse o jovem ; o capelão o colocou em cima de uma pilha de pedras preciosas e o ungiu rei.

Assim feito rei, ele deu o posto de Comandante-chefe para seu amigo Galho e entrou na cidade com grande pompa ; e Pottika ( depois deste ponto ele é várias vezes chamado Pottiya ) foi com eles.

Desde dia em dia o Grande Ser legislou retamente em Benares.

Um dia a lembrança de seus pais veio à mente dele ; e dirigindo-se a Galho , ele disse, “Senhor, é impossível viver sem pai e mãe ; tome uma companhia de soldados e vá buscá-los.” Mas Galho se recusou ; “Isto não é problema meu,” disse. Então ele pediu a Pottika para fazer isto. Pottika concordou e indo até os pais de Banian, contou a eles que seu filho tornara-se rei e os pedia que fossem até ele. Mas eles declinaram dizendo que tinham poder e riqueza : tanto que bastava, e não iriam. Ele pediu aos pais de Galho também para ir e eles também preferiram ficar ; e quando convidou seus próprios pais eles disseram, “Vivemos da alfaiataria ; é suficiente, bastante,” e recusaram como o resto.

Como ele falhou em atingir seus objetivos, ele retornou à Benares. Pensando que descansaria da fatiga da viagem na casa do Comandante-chefe antes de ver Banian, ele foi para esta casa. “Diga ao Comandante-chefe,” falou ao porteiro, “que seu camarada Pottika está aqui.” O homem fez isto. Mas Galho havia concebido um rancor contra ele porque, cotejando-o, aquele havia dado a seu camarada Banian o reino ao invés de dar para ele mesmo ; então escutando esta mensagem, cresceu sua raiva. “Camarada realmente ! Quem é camarada ? Um caipira doido mal-nascido ! Pegue-no !” Então bateram nele e o chutaram e o castigaram com pontapés, joelhadas e cotovelas e depois pegando-o pelo pescoço o atiraram para fora.

Galho,” pensou ele,”ganhou o posto de Comandante-chefe por minha causa e agora é ingrato, malicioso, me bateu e me jogou para fora. Mas Banian é um sábio agradecido e bom e a ele irei.” Então para a porta do rei ele foi e enviou uma mensagem ao rei que Pottika seu camarada estava esperando na porta. O rei pediu que entrasse e quando o viu se aproximar, levantou-se do assento e foi encontrá-lo e saudá-lo com afeição ; fez com que o barbeassem e cuidassem dele e o adornou com todo tipo de ornamento e deu a ele carnes gostosas de todo tipo para comer ; e isto feito, sentou graciosamente do seu lado e o perguntou sobre seus pais, que como o outro o informou se recusaram a vir.

Bem, Galho pensou consigo mesmo, “Pottika vai me insultar aos ouvidos do rei mas s'eu estiver junto ele não será capaz de falar” ; então ele também foi para lá. E Pottika, na presença dele mesmo, falou ao rei dizendo, “Meu senhor, quando eu estava cansado da viagem, fui à casa de Galho, esperando descansar lá e depois visitá-lo. Mas Galho disse, 'Não o conheço !' e me tratou mal e me atirou para fora pelo pescoço ! Podes acreditar nisto !” e com estas palavras ele pronunciou três estrofes de versos :

'Quem é este homem ? Não o conheço ! E o pai dele, quem ?
Quem é este homem ?' assim Sakha disse : - Nigrodha, que pensas tu ?

Então os homens de Sakha com as ordens de Sakha me deram bofetes na face,
E me pegando pelo pescoço me atiraram para fora do lugar.

Que ato de traição tal não faz um homem mau !
Um ingrato é uma vergonha, Ó rei – e ele é teu camarada também.

Escutando isto, Banian recitou quatro estrofes :

Não conheço, nem nunca ouvi falar por ninguém,
Tal mal como este que contas o qual Sakha te fez.

Comigo e Sakha viveste ; éramos ambos teus camaradas ;
Do império sobre a humanidade nos deste a cada um uma parte :
Conseguimos majestade através de ti, e nenhuma dúvida há nisto.

Como quando uma semente é jogada no forno, torrando e não crescendo ;
Torna-se um homem bom em mau, perecendo igual.

O agradecido, bom e virtuoso tais homens não são como eles ;
Semeados em bom solo em atos de homens bons nunca são atirados fora.

Enquanto Banian recitava tais linhas, Galho ficou parado onde estava. Então o rei perguntou a ele, “Bem, Galho, reconheces esse homem Pottika ?” Ele ficou abobalhado. E o rei deu suas ordens sobre o sujeito nestas palavras da oitava estrofe:

Amarrem este traidor sem valor aí, cujos pensamentos são tão maus ;
Empalem-no ! Pois eu o mataria – sua vida é nada para mim !

Mas Pottika, escutando isto, pensou consigo mesmo - “Que este tolo não morra por minha causa !” e pronunciou a nona estrofe :
Grande Rei, tenha misericórdia ! Vida uma vez ida e difícil trazer de volta :
Meu senhor perdoe e deixe-o viver ! Não quero mal ao miserável.

Quando o rei escutou isto, ele perdoou Galho ; e desejava dar o posto de Comandante-chefe para Pottika mas não o faria. Então o rei deu a ele o posto de de Tesoureiro e com ele todo o árbitro das guildas de mercadores. Antes disto tal ofício não havia mas há desde então. E logo Pottika o Tesoureiro Real sendo abençoado com filhos e filhas, pronunciou a última estrofe para aconselhá-los :

Com o Nigrodha deve-se morar ;
Ficar com Sakha não é bom.
Melhor com Nigrodha morrer
Do que com Sakha tomar fôlego.

______________

Este discurso terminado, o Mestre disse, “Então, Irmãos, vocês vêem que Devadatra foi ingrato antes,” e depois identificou o Jataka : “Naquele tempo, Devadatra era Sakha, Ānanda era Pottika e eu mesmo era Nigrodha.”



segunda-feira, 4 de junho de 2012

[ n. do tr. : Parasara e o carro dos sentidos ]



Parasara e o carro dos sentidos  ( in Plutarco Védico isbn 978-85-906438-0-7 )

Tanto neste jataka 445 quanto no 539 vemos a cena do carro cerimonial que é solto sem auriga, sem motorista, para sozinho percorrer a cidade atrás de um rei apropriado. A cidade toda vae atrás dele uns querendo impedir o caminho e outros liturgicamente abre m a passagem para que vá sem qualquer intervenção humana e siga livremente. Que carro, carruagem, é este ? Somando às referências que unem oriente e ocidente temos em um relato da história de Roma este mesmo carro que anda solto, sozinho, com vida própria : está na 'Vida de Publícola' de Plutarco e teria ocorrido em meados do séc. VI a.C. . Vejamos então estes parágrafos XIII e XIV :
XIII. Fazia então pela segunda vez Tarquinio guerra na Etruria aos romanos e se diz que aconteceu um portento extraordinário. Reinando ainda Tarquinio, tinha já quase concluído o templo de Júpiter Capitolino e fosse por vaticínio que se fez ou por movimento e ditame próprio, encarregou uns artistas tirrenos da cidade de Veyes de fazer uma carroça de barro que havia resolvido colocar no arremate ( do templo ) e ao cabo de pouco tempo perdeu o reino. Puseram os tirrenos a carroça de quatro cavalos já formada para cozinhar no forno e não aconteceu o que era natural acontecesse com a argila, que era ao entrar contrair-se dissipada a umidade mas se dilatou e se tornou oca, tomando tanto volume e tanta consistência que ainda retirada a cobertura do forno e derrubada as paredes, houve dificuldade para tirá-la. Julgaram os adivinhos que aquilo repesesntava um grande prodígio e que anunciava felicidade e autoridade àqueles em cujo poder estivesse a carruagem ; com o que determinaram os veyanos não entregá-la aos romanos, que a pediam e responderam que pertencia a Tarquinio e não aos que o haviam desterrado. Poucos dias depois tinham os veyanos corridas de cavalos e tudo aconteceu como de costume em tais espetáculos ; porém com o carro vencedor aconteceu que assim que o carreteiro saiu coroado do circo, quando espantados os cavalos, sem nenhuma causa conhecida mas por algum impulso superior ou por boa sorte, deram de correr e escapar para Roma, levando o carreteiro. De nada serviu ele puxar as rédeas e mandá-los parar, porque lhe arrebataram ( o carro ), tendo que ceder e sujeitar-se ao ímpeto, até que chegados ao Capitólio, o jogaram em terra junto à porta que agora chamam Ratumena. Maravilhados e temerosos os veyanos com este acontecimento, permitiram que a carruagem ( de barro ) se devolvesse aos artistas.
XIV. Este templo de Júpiter Capitolino foi voto, promessa, de Tarquinio de Demarato que ofereceu dedicar-lhe estando em guerra com os sabinos ; porém o construiu Tarquinio o Soberbo, filho ou neto do que o votou ( Hércules ao lado de Evandro o árcade foi o primeiro a levantar o altar ali : ofereceu um dos bois de Gerião do seu décimo trabalho, o gado do sujeito que tinha três cabeças na então península ibérica ; no caso as três cabeças como no muro Atlântida mesma representam a estratificação social mesma organizada tradicionalmente ) ( Numa também no alto da colina, ele presidente dos áugures, voltando-se para os pontos cardeais examinava o que pronunciava os deuses por meio dos agouros ou prodígios : as aves davam os agouros : faustos / fastos ou nefastos ). Não chegou a dedicar-lhe mas faltou muito pouco para concluir quando Tarquinio foi deposto. Logo que estava acabado e todo adornado, se acendeu em Publícola o desejo de fazer sua dedicação. O viam com inveja muitos dos principais e as demais honras que havia alcançado e pareciam próprias como legislador ( fez boas leis para a plebe ) mas como general não miravam com tanto encômio ; à dedicação tinha como alheio a ele e instavam Horacio para que disputasse com ele a dedicação. Jogada as sortes Publícola perde e deve sair em uma expedição militar indispensável, decretando-se que fosse Horacio o dedicante, subiram com ele ao Capitolio (...) Nos idos pois de setembro na lua cheia congregados todos no Capitolio, Horacio depois de impor silêncio e praticar as demais cerimônias, chegando até as portas, como é costume, pronunciou as palavras estabelecidas para a dedicação ; mas o irmão de Publícola , Marco, que já estava há um tempo também na porta esperando o momento oportuno : “Cónsul, grito ele, teu filho morreu de uma doença no exército.” Causou isto pesar em todos os circunstantes ; porém Horacio, sem alterar-se nem o mínimo e não dizendo outra coisa que “deixes o morto onde quiseres pois não me abandono ao pranto”, concluiu o que restava da dedicação. Não era certa a notícia mas Marco fingiu para distrair a Horacio ; contudo é muito digna de elogio a serenidade do cónsul, seja por se impor rápido ao engano, seja mantendo-se inalterado com tal nova, dando-lhe crédito.
( No parágrafo seguinte, XV, Plutarco fala das várias construções deste mesmo templo que foi destruído nas guerras civis mas reconstruído por Sila e novamente destruído nos tempos de Vitelio tendo feito o terceiro Vespasiano que teve a sorte de o ver concluído ; mas depois de morto logo foi destruído novamente ; reconstruiu Domiciano pela quarta vez com doze mil talentos só no revestimento à ouro ao que é chamado de outro Midas por querer tornar tudo de ouro. )

Dá para ver claramente que o carro é o mesmo que se movimenta sozinho até no crescer da argila. Como entender esta argila ? A resposta está no Mahabharata em diálogo justamente entre o mesmo grande rei Janaka e o sábio Parasara na Santi parva, seção CCXCII :

Parasara disse, “Aquela pessoa que tendo obtido este carro, isto é, seu corpo dotado de mente, segue, curvando com as rédeas do conhecimento os corcéis representados sob os objetos dos sentidos, deve certamente ser vista como possuidora de inteligência. A homenagem ( na forma de devoção e meditação concentrada no Supremo ) por uma pessoa cuja mente é dependente de si mesma e que jogou fora os meios de vida ( contemptus mundi ) é válida de alto louvor, - esta homenagem, nomeadamente, Ó regenerado, é resultado de instruções recebidas por alguém que teve sucesso em transcender os atos e não obtidas da discussão mútua entre as pessoas em mesmo estado de progresso. Tendo obtido o período de vida determinado, Ó rei, com tal dificuldade, não se deve diminuí-lo ( com a indulgência aos sentidos ). Por outro lado deve-se sempre se empenhar, através de atos corretos, para o próprio avanço gradual. ( ... ) Aquela pessoa que, refletindo com sua mente, Ó rei, e certificando a própria habilidade, realiza atos corretos, certamente obtem o que é para seu benefício. Àgua derramada em vaso não cozido gradualmente diminui e finalmente escapa toda. Se guardada, contudo, em um vaso cozido, permanece sem a quantidade diminuir. Do mesmo modo, atos realizados sem reflexão com a ajuda do entendimento não se tornam bons ; enquanto atos feitos com julgamento permanecem sem diminuir de excelência e geram felicidades como resultado. Se em um vaso que contém água, derrama-se mais água, àgua que originalmente estava lá aumenta em quantidade ; do mesmo modo todos os atos feitos com julgamento, sejam equânimes ou não, só somam as estoque de retidão de alguém.”

A metáfora do vaso é ampla dissertando-se sobre o esmalte de fora e o fogo de dentro, afinal, cozido guarda em si um pouco deste fogo do cozimento . Vemos então que o forno é o forno do julgamento interior, do livre arbítrio que decide a todo momento toda a existência e o carro é o corpo mesmo e seus sentidos. O fato de o grande Janaka ser quem escuta as palavras do sábio Parasara reforça a tese. O fogo do julgamento está claramente na dedicação do templo na fala de Horacio.

Finalmente cabe lembrar que a metáfora do vaso cozido aparece nos odres de couro para botar vinho quando em casa de Levi, Mateus, IHS é interrogado sobre o jejum : ele fala também além dos vinhos novos em odres novos, do Noivo que chega provavelmente no carro apropriado e da roupa nova sem remendo. Antes Ele estivera na casa da sogra de Pedro.

O Fedro dialogando com Sócrates do lado de fora de Atenas junto aos templos de Pan e das Ninfas amplia esta imagem da alma como um carro puxado por cavalos com um auriga que segura uma lâmpada, a mente : o amor  é a luz mesma. A tradução de si-mesmo, self, em grego, auto, esclarece por que move-se sozinho o carro. Vyasa e Markandeya no Mahabharata ampliam a imagem que o Fedro de Plato toma emprestado. É clara a transmissão da Tradição nesta questão. Assim como na República com as castas, raças, classes. A ligação, relação, contato, ocidente oriente, é estarrecedora : juntos desde sempre.

O carro que anda sozinho junto com o cavalo vencedor são imagens do ritual do Asvamedha que vemos realizar-se todo ano em Roma antiga : o cavalo de outubro - G. Dumèzil e a escola de religião comparada estabelecem que o ritual indo-europeu existe no ocidente quanto no oriente: unidade clara. O acontecimento na fundação da república mostra que para além de rituais vazios há uma doutrina viva, desde sempre.